Parte 2

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— Acorda Claire! Já são 9:15 da manhã, daqui a pouco vamos nos atrasar pra missa. E hoje é pregação do Padre Lee, não posso perder por nada... anda logo, levanta dai! - disse minha mãe as 7:30 da manhã, me acordando aos berros e ligando a luz na minha cara. Às vezes eu esqueço desse costume de ir à igreja todo domingo de manhã. Apesar de gostar, alguns dias eu só queria aproveitar meu domingo pra dormir até mais tarde. 

Na cozinha, já era possível sentir o cheiro característico da lasanha de domingo da mamãe. Era possível também ouvir o meu pai reclamando, como de costume. 

— Sua mãe tem que parar de ser boba desse jeito. Todo domingo levanta as 5 da manhã pra fazer comida pro pessoal da igreja, e pra mim que é bom nada. — Disse, repetindo o mesmo discurso de toda manhã de domingo. 

- Eu não aguento mais essas suas reclamações diárias, Sebastian. Eu estou farta de fazer tudo por você e ser respondida com ingratidão. Quando eu te deixei sem comida? Nesse 45 anos de casados, você sempre teve tudo na mão, a casa limpa, a roupa passada e a comida na mesa. - Enquanto dizia essas palavras, mamãe cobria a lasanha com papel-alumínio, e papai, com aquela cara habitual de insatisfação, saía da cozinha em direção ao quarto de Josh. 

- Josh não está em casa! Dormiu na casa da Treena!! — grita minha mãe da cozinha.
Treena era a namorada de Josh havia quase 2 anos, e eles formavam um casal tão bonito que às vezes me pegava invejando a felicidade do meu irmão de 18 anos.

Além disso, as palavras "quarenta e cinco anos de casamento" ditas por mamãe não me saiam da cabeça. Como uma pessoa poderia manter uma relação durante tanto tempo? Qual era o segredo da felicidade matrimonial? Fiz esses questionamentos para minha mãe e ela sempre dizia que o segredo era a paciência, uma palavra que não era muito recorrente no meu dicionário. Acho que, na verdade, meu destino seria "ficar pra titia", já que eu era a verdadeira colecionadora de decepções amorosas.

♡♡♡

Depois de acabada a missa, parti em direção ao BeLicious, um restaurante movimentado do centro da cidade, encontrar Rebecca Thanya. Rebecca, uma mulher morena, de olhos castanhos claros, bem expressiva, de cabelos cacheados e uma beleza estonteante,era, desde a pré-escola, a minha melhor amiga. Rebecca sabia da minha vida de tudo e mais um pouco, e eu compartilhava coisas com ela que nem mesmo minha mãe sabia. Já brigamos diversas vezes, mas no final estávamos rindo e se abraçando, e era quase impossível imaginar a minha vida sem ela.

- Clair! Aqui ó! - gritava Thanya, apontando o local que estava sentada. Acompanhado dela, o tradicional cappuccino com bolo Red Velvet que ela tanto amava e era sempre o seu pedido.

-Clair, parece que você emagreceu... Você anda comendo direito? De uma semana para cá você deve ter perdido quase uns 2 quilos! - disse ela, logo depois de tomar um gole da bebida. 

- É amiga, você me conhece né? Minha ansiedade anda atacada, eu não consigo dormir direito...

- Ei garota! O que está acontecendo? Cadê a Claire Gale guerreira que eu conheço? Que não deixava se abalar por qualquer coisa? Acorda pra vida garota! Não vai me dizer que aquele idiota do Jake... — disse Becca, cerrando os punhos como se tivesse prestes a socar alguém.

— Não, não é ele não. Até por que isso já tem quase um ano, né? É que eu simplesmente não tenho muita perspectiva de vida. Não consigo achar um emprego, faz quase um ano que não transo, estou morando com meus pais e meu irmão adolescente, ou seja...

Mr. Stupid JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora