Sonhos sob a luz da Lua.

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O vento frio entrava pela janela aberta, era inverno e o clima estava congelante, flocos de neve caiam macios lá fora e o corpo pequeno que teimava em olhar para fora tremia mesmo estando enrolado em um cobertor, mas ele precisava ver a Lua, realmente precisava...

As nuvens cinzas cobriam o céu e o vento assoviava de modo macabro na copa das árvores criando um cenário de filme de horror, mas mesmo assim o jovem insistia, pedindo em silêncio para ver o brilho frio da lua mais uma vez e como se suas súplicas mudas fossem ouvidas no silêncio da noite, seja lá por qual entidade as nuvens rodaram mansamente no céu e o brilho esmaecido surgiu, pálido mais magnífico no céu.

O coração do jovem bateu descompassado finalmente e uma sensação dolorosa lhe tomou a alma e o corpo percorrendo suas terminações nervosas completamente, fazendo ele suspirar cansado, dolorido e sentido por algo que ele nem mesmo sabia o que era, mas que certamente era tão importante  e real como o ar que ele respirava.

Permaneceu ali, tremendo e deixou que lágrimas deslizassem por sua pele tão fria como a noite, pingando displicentes na madeira antiga e rachada da velha janela onde ele estava encolhido, no antigo quarto de bugigangas que ficava no que deveria ser o sotão da casa, ali entre coisas velhas e abandonadas ele fazia o que seus pais lhe proibiam desde que se entendia por gente, ele chorava para a lua, ele implorava por misericórdia sem nem mesmo saber o que realmente pedir, ele só queria saber o que o afligia tanto. Lógico que mesmo desobedecendo os pais ele ainda não tinha achado a resposta, a lua continuava tão silenciosa como sempre e ele tão perdido quanto antes.

Depois de chorar por alguns minutos e já sentindo os dedos dos pés e a ponta do nariz doendo de frio ele finalmente saiu dali, fechou devagarinho a janela e andou na ponta dos pés descalços para a escadaria que levava ao seu quarto, entrou e trancou a porta, ligando o aquecedor no máximo e mesmo assim sentiu o frio invadir seu corpo pequeno, por isso mesmo deitou na cama e se cobriu até o pescoço, deixou as cortinas abertas e ficou olhando a luz da lua dançar no quarto, até finalmente sentir o sono chegar e se perder do mundo...

E como sempre ele o viu, ou melhor, ele viu os olhos verdes enigmáticos, frios, perigosos e perdidamente lindos a observar de uma distancia segura, entre as sombras, onde somente os olhos verdes cintilavam assustadores, mas era precisamente nesse ponto que tudo ficava confuso, mesmo que o cenário fosse assustador e que a situação fosse de um pesadelo ele queria se aproximar, sentia que precisava, ele desejava ver o rosto, e como se isso sempre fosse o sinal a voz o atingia tão rouca, sensual e perigosa que toda a sua pele se arrepiava e ele sentia o calor percorrer seu corpo tal qual o frio fez antes o deixando sem ar, tonto e trêmulo.

-Volte para casa Louis...Volte para mim...

E ele abria os olhos desesperado, a mão direita levantada como se a buscar por ele...Sim, ele buscava a voz de um sonho.

-Oh deuses! Estou ficando louco e me deixando levar, de novo. Disse Louis para si mesmo.

O sol já se infiltrava no quarto, mas o frio continuava, porém com o aquecedor ligado a noite toda ele não sentia mais frio, sentia ainda a vibração da voz rouca nos seus ouvidos e ele podia ver os pelinhos do seu corpo se arrepiando completamente somente em lembrar o timbre da voz...Melodiosamente sexy e estupidamente rouca. Isso o fez levar as duas mãos a cabeça apertando os fios de cabelo castanhos com força, tentando esquecer esse maldito som, sem nenhum sucesso como sempre...Se levantou e destrancou a porta voltando para a cama a seguir.

-Louis? Vai se atrasar, porque está demorando tanto para levantar? 

-Já vou mãe, eu só perdi a hora.

A mãe entrou no quarto e estranhou a cortinha puxada daquele modo, caminhou até a janela e fechou as cortinas, dando uma olhadinha em volta como se procurasse algo, de súbito pegou o caderno de desenhos do filho que estava no chão perto da cama e o abriu irritada, analisando um dos desenhos detidamente e depois suspirou olhando para ele ainda na cama a observando calado.

Lua de sonhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora