O último ano. Depois da formatura, viria a faculdade e Helga já tinha traçado seus sonhos: fazer faculdade de literatura e se tornar uma escritora de poemas famosa. É claro que seus poemas tinham evoluído muito desde a 4 série. Eles eram menos bobos, mas ainda sim apaixonados.
Um namoro a distância dava muita inspiração (junto com muitas lágrimas). Em suas cartas para Arnold, Helga sempre mandava em anexo um poema dedicado a ele. Alguns curtos, outros muito longos, porém sempre sinceros.
Haviam se passado três anos desde que Arnold partiu e Helga precisava se agarrar em suas lembranças para não enlouquecer. As cartas, as ligações e as fotos trocadas eram tudo o que ela tinha para apaziguar a saudade violenta no seu coração. Contava os dias no seu calendário, esperando ansiosamente ele bater em sua porta.
- Oh, Arnold, meu amor! Que destino cruel é esse que me mantém longe dos seus braços calorosos e dos seus doces lábios. Oh, Arnold, seu idiota, cabeça de bigorna, como eu sinto sua falta! - declamava Helga, rodopiando em seu quarto. Segurando perto do coração, o seu medalhão.
Phoebe era seu conforto nos dias difíceis. Sempre que entrava em uma crise de choro, ela ligava para amiga em busca de ajuda e segurança. Phoebs, dedicada como sempre, atravessava as ruas com sua bicicleta azul Royal e ia em direção à casa de Helga. Ela jogava algumas pedras na janela para avisar que havia chegado. Helga descia sorrateira pelas escadas e destrancava a porta. Em sua bolsa, Phoebe sempre trazia um pote de sorvete e duas colheres. As duas devoravam o pote enquanto Helga desabafava sobre os seus problemas. No fim, dormiam juntas, abraçadas.
Helga ficava feliz por ter a Phoebe por perto, mas não gostava de incomodá-la com as suas coisas. Afinal, Phoebe e Gerald estavam no ponto auto do seu relacionamento e ela não queria ser um fardo para a amiga. Estava feliz por eles, mas a felicidade deles também a deixava triste. Fazia ela lembrar de Arnold e de como tudo era maravilhoso quando ele estava por perto.
Você pode estar pensando: então Helga G. Pataki é uma bebê chorona que fica se lamentando pelos cantos? E eu terei de responder que está errado. Helga nunca demonstrava fraqueza para os outros, apenas para Phoebe. Na escola, ela continuava a mesma pavio curto e grossa de sempre. Ela usou essa máscara por anos para esconder os seus problemas internos, então por que não continuar usando? Principalmente agora que o Arnold estava longe? Ninguém precisava saber o quanto estava doendo.
Helga pegou suas roupa e foi para o banheiro tomar banho. Um pouco de água quente no corpo era do que ela precisava para começar bem a manhã.
Assim que terminou, vestiu sua saia xadrez Rosa, a blusa branca, a jaqueta jeans surrada e calçou suas botinas marrons. Quando saiu do banheiro, o aroma de ovos fritos e bacon a fez levitar escada abaixo, em direção à cozinha.
-Bom dia, Helga, querida! Coma antes que esfrie - disse sua mãe assim que a viu.
- Bom dia mãe. Bom dia pai - disse Helga.
- Bom dia, garota. Miriam, mais um pouco de café, sim? - disse seu pai, sem tirar os olhos do jornal.
Nem parecia os velhos Pataki com os quais crescera. Seus pais estavam muito mudados, até mesmo a sua relação com Olga tinha melhorado. Depois de muitas sessões, a Dra. Bliss, aconselhou a família de Helga a participar de uma sessão em grupo. Com o tempo, eles acabaram se entendendo e se tornando uma família melhor. Miriam não bebe até cair no sofá, Olga e Helga passaram a conversa mais e Big Bob estava mais prestativo em casa. Tinha parado de ficar o tempo todo de frente para TV e trazia flores para Miriam sempre que voltava do trabalho.
De todos eles, Helga era a mais feliz. Durante muitos anos ela sonhou com uma família assim, perfeita e unida. Um lugar para chamar de lar.
Tomou o seu café, pegou o lanche, se despediu dos pais com um beijo na bochecha e saiu porta à fora.
O dia estava ensolarado, com poucas nuvens e um vento agradável batendo no rosto. Phoebe e Gerald a esperavam do lado de fora. Estavam de mãos dadas, trocando olhares e risos disfarçados. "Um casal de capa de revista" pensou Helga.
-Bom dia seus melosos - disse descendo as escadas.
- Bom dia Helga - disseram em coro.
- Meu Deus, até na hora de dar bom dia vocês combinam. Vou vomitar.
- Para de drama, Helga. Você e o Arnold também ficavam assim o tempo todo - retrucou Gerald.
- Cale a boca.
Os três caíram na gargalhada. Apesar de ficar de vela, ela adorava a companhia deles. Faziam ela se sentir menos só.
Assim que chegaram na PS 118, Helga foi surpreendida por Lila, que pulou em seu pescoço quase derrubando - a no chão. Outra coisa que mudou muito foi a relação entre Helga e Lila. As duas tinham se tornado amigas depois da viagem para São Lorenzo e desde que Lila tinha começado a namorar Arnie, o primo estranho do Arnold. Os quatro passaram muito tempo juntos antes do Arnold viajar.
- Helga, eu senti tanto a sua falta! - disse Lila, se afastando.
- Eu também, mas poderia não fazer isso de novo? Não quero ter que te mandar para a UTI logo no começo da manhã - respondeu Helga.
- Você não muda nunca! Oi, Phoebs! Oi, Gerald! Quanto tempo, ein?
- Verdade, ficamos sem se ver as férias inteiras! - respondeu Phoebe enquanto a abraçava.
- É, desculpe ter roubado ela de vocês nesse verão. Ficamos meio, ãh, ocupados - disse Gerald, um pouco envergonhado.
- Hmm, nem imagino o por quê - Lila soltou um sorriso malicioso.
- Eu vou vomitar - comentou Helga, botando a língua para fora num sinal de nojo.
- Boba! Agora, vamos entrando? Estou tão animada para ver o pessoal - disse Lila, dando um soquinho no braço de Helga.
Os quatro entraram juntos. O último ano tinha começado.
O dia em si tinha sido uma mistura de abraços, risos, histórias e saudade. O único que faltava para completar o dia era Arnold. O coração de Helga apertava só de pensar.
Ao final da aula, Phoebs e Gerald se despediram de Helga e seguiram juntos para o lado oposto. Num dia comum, ela e Arnold teriam ido juntos para casa ou talvez iriam ao parque tacar pedras no lago.
Engoliu o choro que estava ameaçando vir e seguiu seu caminho sozinha.
Andou cabisbaixa o tempo todo.
Não queria encarar as pessoas nos olhos, não queria que soubessem que estava triste. Porém, quando chegou em casa, o som de uma voz familiar fez o seu coração bater mais forte.
- Olá, Helga.
- Arnold!?
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Segredos & Intrigas
RomanceHelga G. Pataki é uma menina brigona com o coração delicado de uma poeta. Muitas coisas mudaram em sua vida desde a viagem para São Lorenzo, principalmente sua relação com Arnold. Depois de anos fora da cidade, Arnold finalmente retorna da sua viage...