Capítulo 1 - Duality

156 11 22
                                    

Imagine uma garota que, desde muito pequena, fez da solidão sua melhor amiga e companheira em tempo integral. Essa é Yuhari.

Sempre muito calada e tímida, tirou do que parecia um modo triste de ver a vida várias vantagens: podia falar sozinha, vestir-se como bem quisesse e fazer as maiores loucuras sem que alguém a atrapalhasse. Por sua vida toda teve uma personalidade forte e incomum, ela poderia mudar de ideia bilhares de vezes, mas seria escolha exclusivamente dela.

Até a menina tão decidida sobre seus valores e opiniões se ver obrigada a mudar sua visão sobre as coisas e seu jeito tão único para se adequar às exigências de seus supostos amigos e amores. Mudou o cabelo e como se arrumava, o modo de agir, os hábitos, as prioridades e seus gostos em geral.

Pensava que estava fazendo tudo certo, por mais que se sentisse a pessoa mais errada do mundo, pensava que daquele jeito iriam tratá-la como uma princesa e parar de vê-la como a menina calada e estranha que - supostamente - tirava notas altas em tudo, o que não era bem verdade, já que parou de ser boa aluna a partir do momento que descobriu outros interesses, que não eram dela de verdade, mas a inocente moça não abriu os olhos para essa realidade instantaneamente, por isso seu sofrimento foi prolongado.

Foram vários períodos de mudanças radicais em sua vida, mas no particular, ela continuava sendo a mesma, o que atrapalhava sua busca em ser igual a todos. Momentos desgastantes que ela só sentiria as consequências muito depois, quando percebesse que perdeu sua essência e tempo. Tudo era muito confuso, por mais que ela achasse que era aquela pessoa, no fundo ela estava perdida e não via isso, se tornando alguém que ela nunca imaginou que seria.

Deixou escapar grande parte do seu tempo e de viver momentos bons por estar focada em coisas que as pessoas a faziam achar que eram importantes e só traziam vazio e bagunça para sua cabeça.

Machucou a si mesma e aos outros que estavam próximos dela, pessoas que não a conheciam direito e que entraram repentinamente em sua vida ou haviam acabado de se aproximar mesmo a conhecendo por muito tempo. Era clara a sua ingenuidade e falta de noção, mas era como todo adolescente, fazendo burradas e deixando para lá, achando que nada era para ser levado tão a sério assim.

Parecem ser banalidades, mas isso é somente o que ela fez. O que fizeram com ela pode, pelo menos, dar uma base para suas ações impensadas, não que certos erros sejam justificáveis, mas quando se é constantemente atormentado mentalmente, é difícil ter juízo ao realizar algumas escolhas e arcar com as responsabilidades.

Como já mencionado, Yuhari não era alguém que os outros vissem com bons olhos por ser considerada "esquisita". As pessoa podem ser cruéis a ponto de virarem monstros na visão de quem se sente acuado por elas.

A menina nunca havia sofrido uma perseguição constante como viveu naquele ano, sempre foram casos isolados de comentários sobre seu jeito de ser, mas justamente na época em que ela estava tentando mudar para agradar os outros, foi quando as portas se abriram para tirarem o sossego dela e ela viu que nada que ela fizesse agradaria os outros, e já que essa estava sendo sua única função por um bom tempo, ela não sabia mais o que fazer.

Era uma humilhação diária e não havia ninguém que pudesse ajuda-la, pois ainda tinha as mesmas pessoas tóxicas ao seu lado, ela estava sozinha esse tempo todo e só havia percebido isso naquele momento, mas por falta de opção, decidiu insistir naquele modo de viver que só se tornava mais prejudicial a cada dia que passava.

No ano seguinte, resolveu mudar de novo, mas agora tentaria ser ela mesma e lutar por uma amizade em que ela ainda acreditava. Estava indo para o tudo ou nada.

O tudo ou nada quase a matou. Essa é a verdade.

Na realidade, matou sim. Matou aquela pessoa que jurava que a visão dos outros sobre ela não era importante mas se esforçava para encaixar nos padrões impostos por eles, matou aquela que não gostava do que queria gostar por ter medo do que os outros pensariam, novamente, a mudança foi dolorosa, e foi a mais dolorosa que ela fez na sua curta vida.

No terceiro ano de sua saga, ela já havia tirado os pesos que carregou esse tempo todo de suas costas e descobriu que esses pesos poderiam ser pessoas no final das contas. Mais uma vez, de companhia tinha a solidão.

A não ser por duas pessoas, pessoas essas que ela não esperava se aproximar em momento nenhum mas que acabaram sendo tudo que sobrou. Já era o bastante para ela, conheceu novos amigos e novos horizontes, começou a sonhar e sentir-se feliz, coisa que não lembrava como era de tanto tempo que ficou longe dessas emoções.

Mesmo que não estivesse focada no que todos ao seu redor estavam, agora ela se sentia em paz consigo e seu foco era em melhorar de tudo aquilo que havia passado.

Mas como as certezas são poucas, surgiram questionamentos e confusões em sua cabeça nesse processo de melhora. Um novo sentimento aparecia por um dos dois indivíduos importantes que ela ainda tinha em sua vida.

Por falta de reciprocidade e pelos traumas que passou anteriormente, descobriu que ainda tinha uma fraqueza: não conseguia amar alguém depois de tudo. Mesmo assim, com uma cabeça já mais equilibrada do que antes, decidiu não se empolgar e precipitar muito, preferiu ser cuidadosa e não perder um amigo de cara por uma simples paixonite que dificilmente viraria amor.

Porém, o que Yuhari poderia fazer se por acaso ela realmente amasse essa pessoa? Como falaria isso para alguém que conhece há tanto tempo?

A verdade é que o futuro era incerto e ela deveria fazer escolhas difíceis novamente, sempre seria assim se os sentimentos dela continuassem metendo ela em situações certamente impossíveis.

Symphony (G-Dragon)Onde histórias criam vida. Descubra agora