Capítulo 8 - I Don't Love You

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Fazia muito tempo que não me sentia tão bonita assim. Foi a primeira vez que me arrumei de um jeito que me agradava. Usava um vestido preto curto e um salto alto demais para o que eu estava acostumada, mas pelo menos me sentia bela. Não tinha o hábito de sair e muito menos de vestir esse tipo de roupa, mas naquele dia deveria valer muito a pena. Além da roupa também mudei o cabelo, já que o nervosismo me impediu de fazer um penteado bom o suficiente com meu cabelo excessivamente cacheado, resolvi alisa-lo. E assim eu estava, com uma aparência padrão, mesmo assim, fiquei satisfeita, eu não passaria vergonha e o mais importante, chamaria atenção de quem queria. Falando desse jeito até parece que eu estava pensando somente em conquistar Jiyong de forma romântica, mas eu nunca tive minhas esperanças muito altas, na verdade, imaginei que a noite acabaria em uma das brincadeiras infantis que todos amigos costumam fazer e que nós fazíamos diariamente mesmo depois do colégio acabar e pararmos de nos encontrar. Afinal, sua amizade era mais importante do que qualquer coisa para mim.


Apesar da leve paixonite que cresceu em mim por ele e todos os dramas que esse tipo de sentimento envolve, Jiyong acabou se tornando minha válvula de escape na grande maioria dos meus momentos, fossem estes bons ou ruins. Lembrar dele sempre me trazia paz.

O táxi me deixou na entrada da festa. Eu tentava esconder minha ansiedade respirando fundo quando saí do carro endireitado minha postura. O perfume forte que passei estava me deixando levemente tonta, até nisso eu exagerei, apesar desse mal-estar discreto me recompus e caminhei até o segurança que tinha em mãos a lista com os nomes dos convidados. Logo o homem bem vestido localizou meu nome no papel e eu pude entrar. A fumaça já cobria meus olhos e o lugar era escuro, piorando minha visão. Um cheiro forte de bebida entranhava em meu nariz e percebi que estava ao lado do bar. Havia várias mesas com dois lugares espalhadas no salão e alguns alunos sentados e outros fazendo fila na mesa de doces e salgados ou no bar. Certos alunos perceberam minha entrada e me olhavam torto, ninguém estava acostumado a me ver em qualquer evento que fosse, muito menos vestida daquele jeito, fora que a maioria não ia com a minha cara por prejulgamentos.

Decidi procurar meu amigo apenas com o olhar, não queria ter que atravessar todas aquelas pessoas de graça e perder mais tempo. Logo o avistei rodeado pelos seus amigos de sempre, um pessoal que eu também nunca confiava muito e que muito provavelmente não gostava de mim ou sequer lembrava que eu existia, mas pelo jeito eu teria que me aproximar deles se quisesse ficar perto de Jiyong. Entre todas essas pessoas, estava uma de suas ex-namoradas. Ah, aquela era uma das que eu menos gostava, ela era seu total oposto e já presenciei suas grosserias várias vezes dentro de sala quando ainda estavam juntos. Eu não entendia o porquê dele se submeter a isso na época, mas fico feliz que tenha acabado. Naquele momento eles pareciam se divertir, sorriam um para o outro enquanto minhas paranoias surgiam. O problema é que ainda eram muito próximos, ainda eram amigos, e eu não podia deixar de pensar que poderiam secretamente estar juntos ou que, pelo menos, voltariam a namorar em breve. Pensei e repensei várias vezes antes de dar prosseguimento ao que eu sentia, ver ele supostamente se aproximar da ex quase me fez desistir, mas cada sorriso e cada conversa rápida no final da aula fazia valer meu sentimento, eu queria protege-lo.

Antes que eu pudesse dar mais um passo em sua direção, uma outra garota chegou passando o braço em volta de seu pescoço e logo ficando de frente para ele, enquanto esse a abraçava. Eles se beijaram.

Todo o esforço que eu fiz foi, além de impensado, inútil.

Achei que reconhecia aquela menina de algum lugar, talvez da minha listinha de pessoas que deviam ser evitadas, uma colega um dia disse que ela se aproveitava dos outros, mas eu estava cansada demais para pensar naquilo. Eu continuava parecendo uma estátua plantada bem na porta de entrada, estava sem expressão, e nem a possibilidade dela não ser confiável e poder machucar Jiyong estavam me detendo de pensar que talvez ela realmente merecesse mais ele, talvez quem estava errada era eu. Tocava uma música antiga e cheia de significado naquele momento.

"Bem, quando você partir
Não pense que vou fazer você tentar ficar
E talvez quando você voltar
Eu terei saído para encontrar outro caminho"

Não me atreveria a passar mais nenhum minuto ali dentro, já havia sido demais e eu já segurava o choro, fazendo uma expressão fechada. Eu me sentia como a música dizia, agora que eu sabia que ele já tinha alguém, coloquei na minha cabeça que não podia tentar fazer ele se interessar por mim e precisava encontrar um jeito de esquecer o sentimento que tinha por ele, só não sabia o que seria de nossa relação, assim percebi que não é tão fácil ter amizade como prioridade quando se está apaixonado. Não era como se eu tivesse desistido de ter ele por perto, mas depois que minha motivação para isso diminuiu, eu fiquei confusa e muitas perguntas rondavam minha mente.

Como não tinha mais razão para ficar lá, resolvi ir para casa a pé. As ruas estavam escuras e sem qualquer ser humano à vista, apenas gatos e cachorros passeavam calmamente, enquanto eu me aproximava para fazer carinho em alguns deles. Minha cabeça parecia um belo redemoinho de nada, não existia um pensamento que não fosse o de pleno vazio. O cansaço me consumia e eu só queria me deitar ali no meio da rua e esperar ser atropelada. Sempre que alguma coisa ruim acontecia eu ficava assim, chame de drama se quiser.

Decidi me sentar numa calçada quando achei alguma iluminação e um pequeno grupo de pessoas. Era uma padaria simples, levava o cheiro marcante da comida. Eu estava morrendo de fome mas só tinha alguns trocados. Aquilo prendeu minha atenção até eu finalmente me render e ir atrás de algo para comer.

- Moça, qual é o doce mais barato que você tem? - perguntei tentando não parecer um zumbi faminto.

- Nós temos o bolinho de chuva, vai querer? - a mulher deu a sugestão enquanto andava até onde os doces estavam.

- Certo, vou levar cinco.

Esperei até que ela trouxesse um saquinho contendo meu pedido enquanto olhava para os outros lanches, era tudo muito gorduroso e acho que só o açúcar dos bolinhos poderia já ser perigoso, mas os peguei mesmo assim quando a atendente me deu.

Saí andando, agora voltando ao silêncio e a solidão de antes. Abri o saco mas parei por um minuto e fiquei encarando os doces. Lembrei de quando eu e Jiyong estávamos dando apelidos um para o outro com nomes de docinhos. Eu comecei o chamando de bolinho de chocolate depois de ver uma foto sua de infância, foi apenas uma forma carinhosa de falar, mas ele respondeu mesmo assim, dizendo que eu parecia um bolinho de chuva. Um sorriso fraco e uma lágrima apareceram em meu rosto simultaneamente.

Fechei o saquinho e comecei a correr, meus olhos de início ressecaram por causa do vento e logo começaram a doer, aproveitei a dor como desculpa para soltar meu choro que eu tanto segurava, eu só queria ficar sozinha em meu quarto e poder chorar o mais alto que precisasse.

Symphony (G-Dragon)Onde histórias criam vida. Descubra agora