Aprendizado

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Na medida em que o tempo passava, minhas atividades, assim como a de todo mundo, ficavam mais complexas na World TEC. Hoje, meu primeiro dia de entrevistas com os colaboradores começava, o Diretor me indicou que eu começasse com os cinco colaboradores mais antigos, pois viram muitas coisas acontecendo ao longo do tempo, logo, suas opiniões eram mais significativas.

Elaborei dez perguntas, metade sobre o seu relacionamento pessoal com os comandantes da empresa, e a outra metade sobre a estrutura física da mesma. Todos falaram muito bem sobre o Senhor Hammer, sobre como ele era gentil e carismático, sempre apoiando conquistas pessoais dos seus funcionários e investindo em seu desenvolvimento.

Foi um tanto quanto estranho que todos tivessem quase que a mesma opinião. Parte de mim quis depositar expectativas na tentativa desesperada de acreditar que alguém aqui pudesse ser verdadeiramente bom. Ele era o dono disso tudo, no entanto, mesmo sendo esse "mocinho" não aparecia muito por aqui. Criei minhas próprias dúvidas.

Um mês havia se passado desde que o Diretor se abriu sobre como chegou a esta empresa, pelo menos consegui tirar algo daquele homem sólido que me apresentou uma história até coerente. Até agora tudo estava calmo entre nós, ele não conseguiu mudar muito o seu humor, mas pelo menos não respondia as minhas piadas de forma tão grosseira, uma vez até abriu os lábios em um sorriso introvertido.

"Quer uma carona de volta pra casa?" ― a mensagem de Charlie fez meu celular vibrar em minha mão.

Apenas ignorei enquanto subia de volta para recolher meus pertences na sala de programação, as entrevistas haviam acabado e meu horário de expediente também.

A sala se encontrava vazia, apenas com o barulho do ar condicionado ainda ligado. Sobre a minha mesa um post it com a letra do Chris dizia o seguinte: "Não podemos te esperar ou perderíamos uma carona de volta para casa, nos vemos amanhã."

Enquanto esperava o computador se desligar, ouvi risos femininos vindo da sala do Diretor, a voz era inconfundível e eles conversavam alto o suficiente para se ouvir perfeitamente da porta em que eu acabava de me aproximar.

―... também sinto saudade dela – Kristin proferiu após um suspiro.

― Precisamos visitá-la de novo – Henry aconselhou.

― Certamente. – Houve uma pausa – Você não me contou sobre como andam as coisas aqui. – disse Kristin.

― Sobre o que exatamente?

― Muita coisa já deve ter acontecido para o evento do aniversário da World.

― Sim, demos inicio as entrevistas, em breve Alexandra chegará até você.

Aproximei-me ainda mais tentando reconhecer sobre ao que meu nome fazia parte.

― Sinto que essa garota te deixa desconfortável. Posso fazer algo para ajudar? Esse é basicamente o meu trabalho. – Kristin seguia investindo na conversa.

― Ela só faz perguntas demais, fala demais e tem um gênio forte sobre suas decisões, não será necessário falar com ela.

― Me impressiona que você ainda não a tenha mandado embora, você nunca suportou arrogâncias.

― Isso é fruto da pouca idade, ela vai amadurecer e entender na medida em que conhecer os dirigentes e o Armie. Além disso, faltam apenas dois meses para isso tudo acabar.

― Tem razão, espero que isso sirva para ela de alguma forma. – Kristin finalizou.

Ouvi passos em direção à porta e corri para me esconder embaixo da última estante da fila de computadores. Kristin passou sem me perceber ali. Tentei retomar a minha respiração normal enquanto voltava para a mesa torcendo para que o Diretor não me visse saindo assim de onde estava ouvindo sua conversa com a Kristin.

Desliguei todos os eletrônicos e respondi a mensagem de Charlie: "Sim, já estou descendo, vem rápido."

Estava prestes a deixar a minha mesa quando a porta ao final da sala se abriu, decidi fingir que estava guardando mais algumas coisas enquanto ainda controlava minha respiração.

― Alexandra?

― Sim? – me virei para ele.

― Pensei que já tivesse ido como todo mundo – se aproximou de onde eu estava.

― Voltei para pegar minhas coisas e desligar o resto, já estou de saída. – Fechei a bolsa finalizando minha inquietação.

― E como foram as entrevistas? – ele quis saber.

― Boas... eles falaram muito bem do Senhor Hammer. – Forcei um sorriso.

― Okay. – Desviou os olhos de mim – Quer uma carona?

Duvidei do que meus ouvidos haviam acabado de escutar. Demorei mais alguns segundos até perceber e parar de observá-lo.

― Não! Agradeço... – minha voz falhou –... mas meu namorado já deve estar me esperando.

― Tudo bem, pode ir à frente, esqueci algo na minha gaveta e preciso voltar para pegar. Até amanhã. – Deu as costas sem muita cortesia.

Caminhei até o elevador o mais rápido que pude. Com a cabeça ainda martelando todas as palavras que eu disse e escutei em um intervalo de dez minutos. A discrição do Diretor em relação ao meu comportamento sempre pesava mais.

Durante semanas conversamos, nos demos bem e chegamos a decisões juntos. Mas agora, aparentemente, eu era a única que estava gostando daquilo. Estava aprendendo como ele disse que seria. No fim das contas, apenas eu estava tentando fazer isso dar certo. E dessa forma seria até que tudo acabasse.

Charlie encostou o carro assim que pus os pés fora da empresa, não pude evitar sorrir ao vê-lo tão despojado como um playboy.

― Você está tão linda hoje, cortou o cabelo? – disse me observando por cima de seus óculos escuros.

― Podemos ir antes que isso me constranja mais? – depositei um beijo doce entre seus lábios enquanto fechava a porta.

― Para onde você quer ir? – Charlie sorria feito bobo ainda me olhando.

― Para casa, estou bem cansada. Por quê?

― Não sei, queria que fizesse algo diferente comigo hoje.

― O que, por exemplo? Nada de filmes de terror ou comida japonesa, por favor. – Fiz cara de nojo.

― Na verdade – riu antes de conseguir terminar a frase – queria que jantasse com meus pais hoje.

Meu coração pulsava mais forte entendendo bem o recado do que aquilo significava. Eu não tinha mais tempo para fugir disso, não havia mais tempo para inventar desculpas. Talvez agora eu só quisesse ser consumida pela intensidade do Charlie, ele era o único que me amava por quem eu realmente era.

― Claro. Mas preciso estar vestida à altura desse jantar. – Silenciou minhas palavras com outro beijo ainda mais intenso.

Sentimentos SigilososWhere stories live. Discover now