Crianças

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O repentino e sutil som de batida à porta me fez para o banho por alguns segundos, enquanto tentava imaginar quem seria e pensar se havia realmente fechado a porta do banheiro.

- Quem é?! – Gritei sob a água que escorria pelos meus lábios.

Não obtive resposta.

Voltei ao banho como um animal desconfiado tentando esquecer qualquer cena de filme de terror onde o vilão mata a mocinha desprevenida que já tenha visto na vida.

Encurtei o tempo no banho e saí às pressas com a toalha ainda sobre meu corpo sem nenhuma roupa por baixo. No momento apenas me concentrei em saber o que estava acontecendo.

Abri a porta e conferi pelo corredor se havia alguém à minha espera. Nem sinal de nenhuma alma viva. Voltei ao meu quarto, passei a chave na fechadura e sentei na cama tentando imaginar todas as situações possíveis.

Ao olhar sobre a frecha que a porta deixava antes de tocar o carpete no chão, observei um pequeno papel em tom cinza claro que se camuflava exatamente com o carpete. Diferenciava-se apenas em seu aspecto liso.

No bilhete continha a seguinte frase:

"Os nossos desejos são como crianças pequenas: quanto mais lhes cedemos, mais exigentes se tornam."

Senti meu coração parar de bater por alguns segundos e na primeira batida o meu sangue foi inteiramente para a cabeça. Podia sentir que iria explodir a qualquer momento.

Meus pensamentos agora não faziam mais sentidos. O mais lógico deles me levou a pensar no que aconteceu no dia anterior, com o Diretor e todo aquele momento melancólico e difícil, a festa e sobre como nós dançamos. Aos olhos de qualquer pessoa exterior nossa química não passava despercebida.

Vesti alguns trajes que tirei rapidamente da mala ainda bagunçada e me dirigi ao quarto ao lado. Torci comigo mesma para que Henry estivesse ali.

Esperei alguns segundos após duas batidas à porta para que Henry finalmente saísse para me atender.

─ Olá – disse Henry secando o curto cabelo com uma toalha.

─ Oi, pode conversar agora? – respondi rapidamente.

─ Claro – deu espaço para que eu adentrasse em seu aposento. – Aconteceu alguma coisa, Alex?

─ Na verdade, sim – parei por alguns segundos enquanto tentava me concentrar em não ficar paranoica – Você que me enviou este bilhete essa manhã?

─ Sequer saí do quarto hoje – respondeu pegando-o de minha mão – Não tem remetente?

─ Não, sequer vi quem deixou por baixo da porta. Estava no banho quando chamaram.

─ Ok – Henry se mostrou bastante reflexivo após ler o conteúdo do bilhete – Você contou para alguém sobre o que vem acontecendo desde que chegamos aqui?

─ Não.

─ Tem certeza?

─ Sim! – desfiz o semblante preocupada, aparentando irritada agora – Tem medo de que alguma coisa possa acontecer ao seu cargo Sr. Diretor?

Henry me encarou por alguns segundos enquanto sentia o peso de minhas palavras.

─ Na verdade só temo pela sua segurança, Alex – continuou me olhando – Acha que devo ter me arrependido de alguma coisa que aconteceu ontem?

Não o respondi a fim de permitir-lhe que se expressasse.

─ Me certifiquei que aquele momento que tivemos não estava acontecendo apenas devido a minha vontade, Alex. Sei que teve o seu consentimento e principalmente o meu. Sei também que fomos muito imaturos com nossos sentimentos e que devemos resolver isso agora. Eu quero muito fazer isso e deixar tudo bem entre a gente, mas quero que seja bom para ambos, não quero te colocar em uma situação complicada.

─ Deixa eu ver se entendi – fiz uma pausa – Você acha melhor não ficarmos mais, é isso?

─ Não, Alex. Só acho que devemos decidir o que vai ser daqui pra frente, porque você tem alguém que não deveria ser magoado com isso.

Meu pensamento ao Charlie foi instantâneo. O Henry tinha toda razão, eu não podia continuar nisso sem ser honesta primeiro com ele. Meu coração se partiu.

─ Tem razão, Diretor. Isso não está correto – peguei o pedaço de papel de sua mão.

Quando estava prestes a sair depressa pela porta, Henry me segurou levemente pelo pulso.

─ Alex, precisamos conversar – seus olhos nãoestávamos mais tão tranquilos como sempre, ele temia alguma coisa – Você sabeque ir embora assim agora não irá resolver o que aconteceu e o que sentimentosum pelo outro, por favor, fica!

Sentimentos SigilososWhere stories live. Discover now