Quase uma semana havia se passado. Por todos os dias Jean batera à porta de Luísa, assim como seu pai. Não havia resposta. A única pessoa que entrara no quarto foi Sandra, levando refeições, as quais voltavam quase intocáveis para a cozinha. Porém, aquele novo dia que chegara trazia uma carga extra de dor para Luísa, de tal forma que nem mesmo Sandra tivera a permissão de entrar. Jean ficara perdido no meio de tudo. Queria gritar do outro lado da porta o que sentia, lhe dizer que não era o covarde que ela afirmou e implorar que ela ressuscitasse o sentimento de antes. E podia fazer aquilo? O melhor, pensou, era dar a ela o tempo que precisasse, desistindo por fim da loucura de bater à porta dela três vezes ao dia.
Durante o almoço pouco se falou em redor da mesa. Jean notou que havia uma carga tensa sobre Maciel e Sandra, como se partilhassem de algo mais, o qual não seria dito a ninguém. Sentia-se torturado por tudo aquilo. No fundo tinha uma ponta de culpa. Se Luísa não tivesse salvado sua pele duas vezes, poderia estar livre da tristeza que a acometia, trancada no solitário quarto.
O silêncio dela corroía o peito do arisco homem, que pensara e repensara mil vezes as palavras que estava disposto dizer a ela. Culpava-se ainda mais naquele instante por ter calado tanto tempo seus sentimentos. Quando ela partiu, faltava pouco tempo para fazer dezoito anos. Seria maior de idade e ninguém poderia ir contra o desejo deles de estarem juntos. Arrependimento era uma palavra que gritava inquieta em sua cabeça. Tudo poderia ter sido tão diferente. Mas, mal sabia ele que para ela a diferença teria sido ainda maior. Ele era a maior esperança dela, quando o procurou. E, sem saber, ele simplesmente contribuiu para dor maior que a que ele pensava ir em seu coração naquele dia em especial.
No cair daquela noite, como em todas as outras, Jean correu para o celeiro. Um dia ela voltaria lá. E quando voltasse, estaria esperando-a. Porém não estava pronto para ver o corpo delicado sobre o teto, encolhido como estava, o rosto coberto de lágrimas, à luz da lanterna. Jean sentiu o coração disparar no peito. As mãos suando. Não se sentia realmente preparado para se fazer ouvir, o que não o impediria de falar. Cansara de deixar as chances passarem sem nada fazer.
— Luísa... — Aproximou-se. — Que bom que veio. Quero muito que me escute!
— Vá embora Jean. Preciso ficar sozinha — pediu em meio ao pranto.
— Não! Eu não irei sem que diga o que penso e sinto — anunciou decidido.
— Me deixe em paz! Por favor, Jean! — implorou.
— Eu não irei mais pagar de covarde Luísa. Se partir sem falar, consolidarei sua opinião sobre mim, e vim aqui para dizer que estava errada. — Ele cortou a distância entre eles, e deitou ao lado dela, procurando pelos olhos mergulhados em lágrimas. — Luísa, me diga que ainda há alguma chance de eu fazer parte de sua vida! — pediu a tocar as mãos gélidas dela. — Me deixa estar ao seu lado. Permita que te mostre quem eu sou realmente, diferente do covarde que você pinta. Pois, eu lhe digo, se houver uma chance, mesmo que mínima de eu poder viver isso com você, aceito enfrentar tudo e todos... — Sua mão trêmula tocou a face dela, levando os fios bagunçados pelo vento para trás. — Me deixa ficar! Não deixe que eu morra no seu coração — implorou. Sua voz estava embargada e vacilante.
Era tudo o que Luísa sempre quisera ouvir, durante toda a sua vida. Porém, viera no pior e mais inoportuno momento. Não bastasse toda a dor que já carregava há anos, a imagem do incêndio era apenas um adicional. A única coisa que conseguiu dizer a ele em meio a tudo foi;
— Hoje deveria ser o aniversário do meu filho — lamentou.
Por um momento Jean pensou ter ouvido errado, mas assistiu as lágrimas se intensificarem e teve que perguntar;
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Prometidos - Série Promessas Livro 1
ChickLitEle prometeu a si mesmo que nunca mais amaria. E que seus sentimentos não precisariam ser sufocados outra vez. Mas, Jean não conhecia a promessa reservada ao seu coração, de que a única mulher a quem amou verdadeiramente estava de volta para revogar...