Ensaio para a Loucura

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Faltavam apenas três dias para o baile. Maria Luísa estava sentindo o peso dos árduos ensaios com Jean, e das aulas, que estavam pedindo cada vez mais dela, já que tinha que estudar dia e noite formas de engajar cada aluno na sua matéria, descobrindo com a turma o que cada um gostava mais, suas aptidões e seus projetos de vida, já que estava em processo de encerramento, com aqueles cujas notas não era suficientes para dar o ano por encerrado e precisavam repetir as provas.

Naquela tarde, quando Jean bateu à porta do quarto, Luísa simplesmente o puxou para dentro e fechou a porta.

— Você tem que me ajudar! — exclamou.

— Com o quê? — inquiriu confuso.

— Com a escolha do meu vestido! — alertou.

— Ora! Agora eu vi coisa. Eu não entendo dessas coisas não, tá legal? — declarou arredio.

— Sério, Jean. Qual é mais bonito? O azul ou rosa? — perguntou a mostrar os dois modelos.

O azul tinha um decote conservador que nada exibia, largo de ombro a ombro, com saia rodada que ia até o joelho. O Vestido rosa tinha finas alças, com decote em V e saia plissada. O homem de nada entendia. Para ele eram apenas roupas. Dois vestidos que com certeza ficariam perfeitos nela, porém, ela queria uma opinião. E apesar da cicatriz no ombro dela o incomodar, preferia vê-la com roupas de alças finas, expondo a pele macia a qual desejava beijar. E justo por esse desejo persistente, escolheu o contrário ao que gostaria.

— O azul. Acho que combina mais com você — disse por fim.

— Obrigada! Decisão tomada então. Irei com o vestido rosa — declarou provocativa.

— Mulheres! Vá entender — rebateu com falso descaso.

— Agora vamos deixar de corpo mole e voltemos ao ensaio. Quero ver você sendo o melhor dançarino daquele baile.

— Onde foi que eu me meti? — murmurou baixinho.

— O que disse?

— Disse: "vamos logo com isso"!

Ela sabia que era mentira, mas divertia-se com a forma como ele reagia. E sem lembrar sobre a porta, deixaram-na fechada.

Ela colocou a música para tocar, colocou os sapatos de salto e se posicionou junto a ele.

— Leveza Jean. Me guie. — pediu ao deixar The Moment – Instrumental Kenny G preencher o quarto. — Não importa a música, não saia do ritmo.

E de fato ele guiou. Havia melhorado consideravelmente. E se deixou levar pela música lenta e pela maciez e calor do corpo dela. Quando a música chegou ao fim ela o fitava profundamente nos olhos. Jean por sua vez deixou o corpo o guiar, permitindo pela primeira vez em sua vida tocar os lábios dela nos seus, provando do doce mel de sua boca, sendo correspondido de pronto por ela, que chamou seu corpo para mais perto, antes de serem interrompidos pela batida na porta e Sandra adentrando o quarto, os afastando apenas alguns centímetros, ainda conectados pelo olhar.

— Hora do lanche! — Ela anunciou, sem dar-se conta do que acontecia.

Ao compreenderem que havia companhia, a distância tomada massacrara ambos e o embaraço tomara conta. Sem coragem de olhar para ela novamente, sentou-se na cama, indo de encontro a algo escondido debaixo do travesseiro. Ao retirar o objeto notou que tinha em mãos uma caixa pequena. Uma espécie de urna. E nela haviam duas letras gravadas: A.M.

Quando Luísa reconheceu o objeto nas mãos dele, voou em sua direção a tomá-lo.

— Não torne a pôr as mãos nisso! — ordenou irritada.

Prometidos - Série Promessas Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora