O paradigma colegial

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A fase colegial de alguns alunos pode ser uma das melhores de suas vidas, pela diversão, amigos, festas, cumplicidade, etc. Mas, certo tipos de estudantes não tem a mesma sorte.
Ontem mesmo, passei por uma situação que fiquei muita raiva, porém, pode-se considerar normal, infelizmente.
Estava no não-muito-limpo banheiro de meu colégio, quando de repente entram três garotos no mesmo. Um vai para a frente da última cabine, e dois ficam na começo, em frente ao espelho. Fiquei confusa com a situação, mas nada falei, apenas sai. Pouquíssimo tempo depois, inquieta com esse acontecimento, voltei para verificar. E lá estavam eles, nas mesmas posições, e rindo. "O que vocês querem aqui?" Indaguei-os. Eles se calaram, e logo recomeçaram a rir. Perguntei a mesma coisa novamente, agora com um tom de raiva, e logo fui respondida com um: "eu quero transar". Fiquei paralisada com aquela resposta, foi como se todos os meus ossos gelassem e não pude me mexer no momento. Uma mistura de surpresa, com pavor e nojo. Gritei com o pouco que me restava de força às meninas nas cabines: "Não saiam, tem três malucos aqui". Depois de um breve momento de silêncio, um dos caras veio em minha direção e falou: "Qual a porra do seu problema? Eu só quero transar, cai fora daqui!". "Meu querido", respondi, com meus ossos novamente aquecidos pela raiva: "esse banheiro é meu, se alguém deve sair daqui, são vocês. E outra, e se essas garotas não quiserem nada com vocês?". Eles agitaram os ombros, como quem não se importasse. "Vocês são nojentos. Isso é machismo, sabiam? Só prova que em pleno século XXI ainda existem caras que tratam as mulheres como se fossem meros objetos sexuais que só estão aqui para suprir suas necessidades, vocês são doentes!". Agindo como se não tivessem escutado nada, ameacei chamar o diretor do colégio, com nenhuma mudança de hábito ou objeção, fui ao encontro do próprio. No caminho, imaginei o desespero das meninas nas cabines, esperando aqueles misóginos saírem, imagine se eu não tivesse chegado a tempo? Ao encontrar o diretor, expliquei toda a situação, e pedi para o mesmo tirá-los do banheiro. Com ar de desdém, ele me seguiu até o local em questão. Ele expulsou os rapazes - que saíram com ar de riso - e pediu para as garotas relaxarem, pois aquilo era normal. Uma delas exclamou: "Normal? Quer dizer que é normal, além de ter que suportar aqueles olhares pelos corredores, os psiu's e assédios constantes, temer até no próprio banheiro?"
O diretor respondeu: "olhe, os meninos apenas não conseguem se controlar". Após vários protestos, ergui a voz e perguntei: "você vai ao menos conversar com eles, e comunicar aos pais?". Ele riu e logo respondeu: "não é preciso comunicar a ninguém". O alarme soou, anunciando o fim do intervalo. "Agora voltem para as salas e esqueçam isso!"
Mas eu não esqueci.
Elas não esqueceram.
E nós queremos justiça.

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