Concreto

O grito inaudível

Então ela chega em casa, e se depara com mais uma decepção, logo após um dia inteiro cheio de tristezas e reflexões que a levaram a imaginar que nada poderia piorar.
Mas sempre piora.
Ela corre para o seu quarto e chora desesperadamente, imaginando que o mundo não seria diferente sem ela. Claro que seus familiares choraram por alguns dias, seus amigos (talvez) também o fariam, mas logo superariam. Ora, ela nem era isso tudo, afinal!
E assim ela pensava, ela queria desabafar com alguém, mas quem a escutaria sem julgar? Quem entenderia as coisas que sentia, sendo que nem ela mesma sabia porque se importava com certos fatos?
Um bom dia não enviado, uma piada que não a fez rir, e sim a magoou, uma mensagem não respondida, um abraço não correspondido, um pedido de socorro ignorado. Por que eu me preocupo? Por q as pessoas passam por essas coisas tão normalmente, e eu só sei me ofender e me sentir mal? Será que eu só quero chamar atenção e me fazer de vítima? Ou será que eu realmente preciso de ajuda?
Ela pede a dois amigo seus um motivo para viver, um responde coisas fúteis, o outro sequer lê a mensagem.
Ninguém quer morrer, no fim das contas, só querem que tudo pare, que a dor pare. Querem que tudo se resolva. Querem parar de sofrer, querem que as pessoas se importem. Deixem de ser tão egoístas, e comecem a se ajudar, a se amar, a apoiar uns aos outros, a prestar atenção no que falam, pois algumas coisas são ditas normalmente, mas causam impactos irreversíveis.
Ela abraça sua mãe chorando, inventando uma desculpa qualquer. "Eu te amo, filha", "eu também, mãe".
Elas vêem um filme. Sua mãe vai dormir, e tudo volta de uma vez, como um soco no estômago.
Ela começa a socar as paredes.
Sua irmã pergunta se é ela que está fazendo aqueles barulhos.
"Não, meu amor, deve ser lá fora".
Ela vai pra o quarto escrever versos, ela chora, ela imagina que amanhã tudo vai ficar bem.
Afinal, ela é otimista.
Ou tenta se convencer disso.