A oposição de um machista

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Sentada no banco da praça, lendo um livro que está me dando nos nervos, eu escuto o seguinte diálogo:
- Não cara, ela não pode contar ou ouvir histórias de terror, ela é menina, ela vai sonhar e ter medo.
- Mas ela já disse que não sonha, não é porque ela é menina que ela vai ser medrosa!
- É sim!
Levanto o olhar e observo os dois meninos debatendo na casinha, dois outros observam e a menina fica encolhida no canto, querendo argumentar mas não encontrando uma brecha.
- Ah, então fique aí, tô nem aí se você sonhar mesmo.
O que a estava protegendo a puxa pra mais perto e ela dá um sorriso fraco ao seu, aparentemente, novo amigo.
Todos eram muito novos, o mais velho, o defensor, aparentava ter 9 anos, a menina provavelmente 8 e os outros entre 6 à 8 anos.
Volto para a minha leitura novamente.
Após algum tempo, acontece outra movimentação.
- Vamos continuar a contar as histórias aqui no gira-gira. Disse o baderneiro
As outras crianças que nele estavam tinham acabado de sair.
Todos o seguem até o brinquedo, quando ele se opõe novamente:
- Não, você não. Não quero você aqui, você diz que não tem medo mas você tem, as meninas sempre tem medo.
Finalmente, escuto sua voz dizendo:
- Algumas meninas podem ter, mas eu não tenho, eu sempre brinco disso com meus primos e nunca sonho.
- Você sonha sim, deixe de ser mentirosa
O defensor ergue a voz e diz:
- Deixa de ser chato, Caio! (Agora temos um nome) Se ela disse que não tem medo, é porque não tem!
Caio, contrariado, bufa e se senta no brinquedo.
Eu queria muito intervir naquilo, mas eu não tinha esse direito. E a menina se defendeu muito bem. Mesmo se seu colega não tivesse ajudado, tenho certeza que ela se viraria sozinha, ou perceberia que tinha pessoas melhores para brincar do que com Caio.
Caio é um babaca!
Sem mais motivos para interromper minha leitura, concluo a mesma e sigo para casa.

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