O julgamento sob primeira vista

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O ponto de ônibus estava cheio, eram mais ou menos meio-dia e meia, o som estava de matar. Já estava cansada de esperar tanto tempo naquela droga de ponto, morrendo de fome e exausta, pensando na nota péssima que devo ter tirado por falta de estudo, quando vejo uma cena que me faz esquecer todas essas coisas:
Um homem, de idade já, cabelos grisalhos e barba por fazer, pele escura e com roupas velhas, ele dá a mão para o motorista do ônibus parar, mas ele passa direto. Ninguém nunca imagina o pior. "Ah, ele pode não ter visto, tenta o próximo". Passou  o próximo, e fez a mesma coisa. O homem já desanimado, se senta numa pedra um pouco afastada do ponto. Derrotado, ele está prestes a desistir. Quando passa uma van, cremos que por ser mais acessível, pois o cobrador fica na porta e grita os pontos de parada (e barato), ele consiga entrar. Quando a mulher abre a porta e está prestes a dizer os lugares, ela avista o homem. O seu olhar é de espanto e repugnância. E então ela grita para o motorista: "fecha a porta, fecha logo!", Enquanto o velho negros corre, implorando para que deixem-o entrar. Mas a mulher o ignora, e o motorista queima o pneu.
O moço voltou, cabisbaixo, querendo evitar os olhares do pessoal que estava no ponto, porque certamente iriam julga-lo, ou olha-lo com pena. O que ele não queria. Ele foi em uma conveniência próximo ao ponto, comprou um cigarro, e numa tragada se foi metade dele. Sentou novamente em sua pedra, sem desistir.
Uns 15 minutos após os fatos citados acima, passou um ônibus meio vazio, que iria subir muita gente, o velho aproveitou e entrou no meio de todos, e conseguiu subir. Ainda consegui ver ele pagando sua passagem e sentando na cadeira do canto, na última fileira do ônibus. E o ônibus sumiu na imensidão do trânsito da cidade.

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