1:30, centro da cidade.
Antes, na biblioteca, sair mais tarde parecia uma boa ideia. Agora questionava seriamente a minha decisão.
Claro que eu tinha que terminar o trabalho e não iria embora até fazê-lo. Mas, agora estava ocupada demais me amaldiçoando por não ter vindo com a lata velha do meu pai, ou talvez ter pedido à Dante, se ele não estivesse em uma pequena viagem da faculdade.
A rua estava calada demais, faltavam ainda, cerca de 5 quarteirões para chegar ao ponto de ônibus mais próximo. Eu andava apressadamente com uma mochila pesada demais e três livros nos braços.
Não estava muito frio como o de costume e eu usava apenas um casaco básico.
Tudo estava silencioso, apenas alguns carros eram ouvidos da avenida mais próxima. Pode ser um lado bom de morar em uma cidade pequena.
Perdida em meus pensamentos, me sobressalto quando detecto um barulho próximo. Fiz uma breve inspeção no que estava à minha vista.
Estava parada em frente à um dos poucos prédios dessa área da cidade. Era uma empresa de estofados, se não me engano.Outro barulho.
Dessa fez pareciam metais batendo um sobre o outro. Algo foi jogado no chão e um cheiro forte invadiu minhas narinas.Tinta.
O cheiro vinha do beco próximo e o barulho da tinta em spray era mais alto que antes.
Dobrei à esquina e parei em frente a entrada do beco.Um garoto vestido completamente de preto estava com uma tinta vermelha nas mãos, passando o frasco freneticamente pela parede. Sua mochila estava no chão ele ainda não tinha me visto.
O capuz o cobria quase por inteiro. Enquanto analisava o que ele escrevia, ele percebeu que não estava sozinho. O capuz caiu e seu rosto se virou na minha direção, um ponto pálido na escuridão que o seguia. Seu rosto era surreal.
Traços fortes e ao mesmo tempo delicados, boca larga e grandes olhos cor de oceano, brilhavam na noite debaixo do nevoeiro.
- Porra! - ele gritou me tirando do meu devaneio e colocando seu capuz no lugar. Enquanto ele fugia, finalmente percepi a viatura que chegava ao longe. Ele me empurrou, fazendo meus livros caírem e me puxou para baixo.
A viatura analisava e perímetro e então me dei conta de que eu e o garoto, o qual eu não conhecia, estava perto demais, sua respiração se misturando com a minha, eu pareceu perceber também. Eu me afastei rapidamente. Porém, ao me afastar empurrei uma lixeira, que se formou em um ruído alto demais.
No momento em que me descuparia, sabendo claramente que ele estava nos livrando de sermos pegos, apesar de que eu nada tinha a ver com isso.O policial apareceu.
- Mãos para cima! - ele ordenou. - É melhor que facilitem as coisa, crianças.
Eu as levantei na mesma hora, e ouvi o garoto bufando, claramente irritado, mas fazendo o mesmo.
- Vamos lá, garoto, não temos a noite toda. - o policial falou abaixando a arma e vindo na nossa direção. - O que vocês estavam aprontando?
Ele revistou o beco por um tempo e encontrou a mochila do garoto, que permanecia em silêncio. Dentro havia apenas garrafas de tinta spray e uma garrafa de whisky.
Agora percebi o porquê dos seus olhos me parecerem tão vermelhos de perto.
O policial olhou significantemente para a bebida alcoólica e a grande pichação, que dizia, em letras grandes e vermelhas:
"Já transou com Jane no novo estofado?"
Não entendi o que o garoto queria dizer com aquilo, claro. Mas não gostei de como o policial desaprovou aquilo.
- Quantos anos vocês têm, crianças? - perguntou.
- 16. - falei primeiro, e o garoto falou logo em seguida:
- 17.
- Vocês não deveriam estar na rua uma hora dessas, ainda mais com bebidas. - falou entediado. - Sei que estão eufóricos por esse lance do primeiro amor, mas não se deixem à mercê dos hormônios.
Agora ele estava insinuando que eu e esse garoto éramos namorados? Chega.
- Nós não somos namo... - falei apressadamente, mas fui interrompida.
- Podemos ir? - o garoto perguntou despreocupado.
- Vocês merecem uma lição. - disse apontando para a viatura atrás de nós. - Vamos dar uma passadinha no meu local de trabalho. Afinal, vocês são crianças com álcool e estavam destruindo um patrimônio privado.
Tudo aconteceu muito rápido, ele nos levou até o carro e nos colocou no porta malas, como de fôssemos assassinos em série.
Eu estava apavorada, como minha família reagiria a isso? Meus amigos? Dante, que namorava comigo à mais de dois anos?Estava perdida, literalmente e completamente, perdida.
Já o garoto do meu lado não possuía reação nenhuma, além da sua evidente raiva, que saia por todos os seus poros.
O policial fechou a parte de trás do carro, nos deixando espremidos na escuridão. Eu esalei.
- Olha, eu sei que foi culpa minha, mas você não deveria sair por aí escrevendo perguntas sobre a vida íntima dos outros! - desabafei.
- Claro que a culpa foi sua. - disse ele, com desdém, se virando para mim. - Isso nunca teria acontecido se você não tivesse interferido.Não respondi. Seguimos em silêncio até o policial gritar:
- Chegamos, pombinhos. - ele fala e eu ainda não encontrei uma justificativa justa para o que aconteceu.
Entramos na delegacia.
***
Não esqueçam a estrelinha🌠❤
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Fora dos padrões
RomantizmAmy sempre foi a típica garotinha de família: tirava boas notas, ficava em casa nos fins de semana, nunca infligia sua moral. Além de ter um namorado perfeito, assim como ela. Até aquela noite. Ser presa, pode ter sido uma das piores experiências d...