VI - O trem-fantasma

1 0 0
                                    

E as horas passaram-se lentas como dias. Deveriam ser 4 da manhã, Roger e Rick dormiam, enquanto Henry e Sophia estavam na estação, agora limpa de inimigos. Conversaram sobre suas vidas, desgraças, alegrias... Aos poucos, o amor ia crescendo.

- Por que estamos aqui?
- Meus amigos vão chegar à qualquer momento.
- Eles estão vindo de quê?
- De trem. - Ele respondeu, sorrindo. Sophia não entendeu. - Eles amam colecionar coisas perigosas e amaldiçoadas feito brinquedos, e até dizem que uma dessas é amigo.
- Devem ser loucos.
- E são.

De pé na plataforma, ela o abraçou com toda a força para se proteger da brisa fria. Selada em um terno abraço, ela se deleitava, com o ouvido firmemente pregado ao peito de seu amado, ouvindo o bater de seu coração.

O adorável clima romântico fora quebrado por um som agudo e estrondoso, e uma densa névoa surgiu. Os velhos trilhos tremeram como se houvesse um terremoto. Um trem enorme vinha na curva, adentrando a estação, com dois caras na cabine (ambos vestindo tracksuits), e pararam na plataforma. Quando a locomotiva parou, sua aura pesada forçou Cinderella à fugir para longe, abandonando sua amiga.

- Ui! Hinry, quanto tempu camarada!
- Boris, Antonilli. Bem na hora como sempre. Trouxeram o que pedi?
- Óbvio! E quim é ela?
- Boris, esta é Sophia Delore, minha amiga.
- Prazer!
- Idem.
- Perdum?
- O mesmo. Prazer em conhecer lendas vivas. E esse trem? Essa aura toda...
- Ah, não conhece o Flyin' Scutsman? Blyn!
- Eu deveria...?
- Claro! Justo uma filha dos Delore!
- Henry....
- Calma, eu explico. - Henry viu Boris agachado na cabine, tomando o que parecia ser cerveja. Limpou a garganta, e começou. - O Flying Scotsman foi a primeira locomotiva à alcançar os 100 por hora. Era uma locomotiva como qualquer outra, até 1940, quando pessoas começaram à morrer quando estavam perto dele, seja de acidente ou morte súbita.

' Ele anda sozinho, vai onde quer e quando quer. Já se foram mais de uma centena. Pobres trabalhadores e entusiastas, todos mortos, esmagados por um único fantasma, que sabemos pouca coisa sobre. O Boris e o Antonilli o estudam desde crianças, e são os melhores no assunto.
- Uau...
- O Scutsman foi a melhor herança que ganhei do tio Sergey. - comentou Antonilli, alegre. - Viajar de um país ao outr' sem pagar a passagem ou ter pass'porte...

Para Sophia, o sotaque dos amigos de Henry era engraçado, mas essa alegria era facilmente cortada pela aura que tomava o local. Não era assustadora, nem nada do topo, no máximo, era tão melancólica e solitária quanto a do fantasma de Roger.

Richard e seu rival vieram ver o que estava causando a aura. Surpresos ao notarem o súbito desaparecimento de seus companheiros invisíveis, recearam em dar oi aos novos aventureiros.

- Camaradas, ele num morde. - assegurou Boris.
- Aham, sei.
- Nem pintado de ouro que eu vou gostar dessa coisa! - disse Rick.

Boris pegou um saco de pão, uma faca e um pote de maionese. Fez alguns sanduíches e os ofereceu à todos.

- Vamus ser civilhizados. É hura do cafié, vamos entrando, por favor.

Rick e Roger se recusaram à entrar no vagão por puro medo. Lá dentro, haviam sofás, tapetes espalhafatosos, um ursinho de pelúcia usando óculos escuros no topo de uma estante, armas penduradas nas paredes, caixas de munição, livros sobre ocultismo jogados por aí, uma TV tubão, potes de geleia e migalhas em cima dos sofás. Apesar da bagunça, era tudo muito confortável.

- Senhorita Delore, bim vinda à noss' casa portátil. E totalmenti à prova de monstros.
- Bem bagunçado. E bonito ursinho esse seu.
- Ah, sim. É pro Scutsman. A gente coloca perto dele quandu a situaçãum aperta. Crianças, sabi?
- Criança? Agora tô curiosa....
- Simplis! Ele emit' uma aura melancólica, fazendu tudo mundo cair no chaum ou ficar morrendo de dur se chegar pert'. Em um raio de 5 um, tudo mundo começa à chorar sem mutivo em casos extremos. E depois? É bem difícil acalmar o mininão. - explicou Antonilli, tirando os óculos da pelúcia.

Contos NoturnosOnde histórias criam vida. Descubra agora