Estou em uma batalha que não me trará tranquilidade, mas a morte.
Mesmo depois de anos que bebi do cálice da guilda, os símbolos agitam-se em minha memória como partes de um quebra-cabeça confuso e esquecido. Atormentam-me durante dias e durante as noites quentes, acordo atordoado sob o olhar de preocupação de meu pupilo.
Já se passou quatro anos desde que Malquior fora adotado como parte da guilda. É um garoto extremamente obediente e centrado. Maduro demais para seus dez anos. E isso tende a me assustar um pouco.
Os símbolos retornam outra vez. Minha cabeça lateja com força, como se uma marreta houvesse me atingido de forma covarde. Meus olhos lacrimejam, obrigados a rastrearem os incômodos enigmas distorcidos que manipulam minha consciência. Eu era jovem quando fiz minha iniciação na guilda, um pouco mais velho do que Malquior é hoje. Eu um garoto intrépido — de 14 anos — a quem foi confiado pelos Anciões. Pensei que com o tempo, essas alucinações sumissem, ao contrário, ficaram fortes e fora de controle! Nem mesmo quando fico bêbado, elas amenizam.
Os Anciões confiaram em mim, pois viram justiça e bonança em meu olhar. Os Anciões estavam errados. Não consigo suportar tantos fardos.
Não desejo essa sensação maldita para não ninguém, nem mesmo para meus inimigos.
— Mentore, aqui está seu chá — Malquior oferece-me a xícara rachada com poção de erva-de-tigre.
— Não sei o que farei sem ti, bambino.
— Melhor?
Assinto.
Ele tem somente dez anos. Mas comportar-se como um refinado adulto. Receio que eu seja o responsável por está privando-o de sua infância, afogando-o em treinos que domam sua mente e corpo. Ele tornou-se o melhor combatente da guilda, mesmo com tampouco idade, envolvido em missões pequenas, das quais fiz questão que não envolvessem mortes;
— Mentore, o senhor tem família?
Seria um ótimo momento para lhe dizer que deixei minha família em Florença, minha amada Enna e meus dois filhos. Porém, não digo. O nó entalado em minha garganta impede-me de falar.
— Por que perguntas, Malquior? — depois de tanto tempo junto a mim, achei que não tivesse curiosidade.
— Só uma perguntinha boba, mentore — seus olhos vasculham cada centímetro do meu rosto.
Beberico meu chá, lentamente, desviando-me de responder a pertinente pergunta de meu pupilo.
— Um homem na feira abordou-me, mentore. Disse para mim que sou um iluminado, filho de um homem iluminado, que vive ao meio de ratos mentirosos.
Por pouco não engasgo-me.
— Quem lhe disse isso? — minha voz sai rasgada de minha goela.
— Não o conheço, mentore. É um velhote pançudo que trabalha na barraca de carne. Mas, o que ele quis dizer com isto?
— Peço-te que não dê ouvidos para falácias de bêbados, Malquior.
— Mentore, estais se tremendo.
Nem mesmo percebi que minha mão sacode de forma inquisitiva.
— Está tarde, Malquior. Vá descansar. Amanhã, terás treinos.
Deixo o chá de erva-de-tigre e finjo que vou deitar-me. Preciso descobrir quem é a pessoa que está a mexer com a cabeça de Malquior.
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Sigo Malquior, quebrando algumas regras em deixar meu discípulo andar pelas ruas de Jerusalém sozinho. Como um gatuno a luz do dia, escalo as paredes e sutilmente ando sobre o telhado das casas, sem perder de vista, Malquior, que novamente vai a barraca de carne, na tumultuosa feira. Adentra o lugar, deixando-me apreensivo. A areia e o vento do deserto cobrem minha visão, e tudo que posso fazer é esperar.
Meu discípulo então sai. O rosto pálido, a todo instante, assentindo para o vendedor de carne. Dissera algo à Malquior... talvez, contara a verdade sobre a origem do garoto... Impossível, a menos que ele seja... um maldito Illuminato!
Espero anoitecer para enfim agir. Não escondi este segredo por anos para tudo ruir a tona.
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Encurralo o maldito em um beco escuro. Da minha espada saem faíscas a medida que risco a lâmina no muro. O maldito é realmente um Illuminato. Um infiltrado da Seita em Jerusalém. Depois de uma hora de tortura, confessou-me que há tempos vem rodando a figura de Malquior, pois o achara deveras parecido com o falecido Cavaleiro Negro.
Confessou, meu Deus, sobre o verdadeiro passado de Malquior ao menino. Dissera que o incêndio que matou seus pais, fora criminoso, feito por um Assassino. Não aguentei-me. Enquanto o espancava, meu coração ruía, pois sentia que a verdade estava aproximando-se e eu tolamente somente havia a adiado.
Era culpa minha. E era por isso que Malquior, ultimamente, olha-me de maneira estranha, sempre a esgueirar-se de mim.
O maldito arrasta-se no chão, fugindo de seu destino. Matarei este maldito Illuminato para que não envenenes mais a Malquior.
— Sabes por que estais aqui? Pareço familiar para ti?
Estou perdendo a cabeça e a paciência.
— Responda, infeliz!
— Não e não, miserável! Trouxestes-me até aqui. Emboscou-me e feriu-me! Assassino! Quem és tu, canalha? A justiça será feita!
— Justiça? Carrego cicatrizes em minha alma e coração. E elas precisam ser sanadas.
Em um movimento rápido, o mato, aniquilando a vida daquele verme delator. Cambaleio até o fim do beco imundo, olhando para a brilhante lua cheia que ilumina a poça de sangue deixada por mim. Caio de joelhos, ofegando.
— Perdoe, Deus, em tudo que falhei... — o rosto de Malquior veem a minha mente. — E por tudo que ainda farei.
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Ao chegar em meu esconderijo, deparo-me com Malquior sentando em frente a lareira, com meu diário em suas mãos. Estremeço-me, sentindo a minha ser tragada pela escuridão.
— Então, mentore, gostaria de me dizer qual o seu maior pecado?
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Esse capítulo foi uma singela referência a apresentação "Dois Passos Para o Inferno", onde [spoilers] Dimitri mata um desconhecido em um beco fedido. Usei de liberdade criativa para ilustrar por que Dimitri fez tal coisa. Já peço desculpas por qualquer erro ortográfico.
*Sivis pacem para bellum - se quer paz, prepare-se para a guerra.
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Assassino dos Olhos Cor de Sangue [fanfic]
FanfictionComo o melhor Assassino, ele buscava a perfeição em suas matanças. Sendo o melhor Assassino, não podia permitir que a misericórdia brandasse em seu coração. Isso até uma missão dar errado e ele ver-se diante de um rosto de um garotinho inocente que...