[8] Sem volta

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— Não sei em que lugar ele possa estar, Timóteo.

Retornei para Florença, meses depois que Malquior fugira. Não consegui rastrear Malquior. Meus sentidos de Assassino falharam devido a erva-de-tigre misturada a flor-da-noite. Silenciosamente, Malquior estava me envenenando.

Ao mascarar minha dolorosa verdade em mentira, ao tentar moldar Malquior em ser forte, mal percebia, mas somente estava adiando o fatídico dia em que ele descobriria tudo.

E não foi por meio do vendedor de carne — servo de Illuminatos —, cujo cadáver deve estar podre no beco. Não, a verdade veio por mim, gravada nas folhas amareladas de meu diário. Meu elemento que vi como fuga dos meus erros, tornou-se uma arma perigosa nas mãos do meu discípulo.

Reflito sobre tudo isto, enquanto navego de volta para minha casa, durante todos esses meses.

O que eu fiz?

Preciso de ajuda...

— Daremos um jeito de encontrar este bendito pirralho. Enquanto isso, descanse.

— Não posso! E se Malquior estiver por aí, sozinho, aflito, faminto? Me responsabilizo pelo garoto.

— Mas, e se ele se voltar para os Illuminatos. Creio que esse moleque já saiba a verdade.

— Então, terei criado uma besta e necessitarei enfrentá-lo.

— E a sua família, Dimitri? Não pretende retornar ao seio de seus familiares?

— Faz quatro anos que não vejo Enna e meus filhos. Duvido se ela irá querer uma visita minha neste momento.

— Andei vigiando-os por ti. Ah, meu nobre amigo, perdestes tanto ao acolher teu pupilo desgarrado. O bem mais importante, deixastes passar em branco.

❈❈❈

Alguns dias após andar por toda a Florença, já havia me dado por vencido de que talvez Malquior houvesse morrido na travessia do deserto. Vigiava a minha família ao longe, nunca perdendo o foco em rever Malquior e temendo pela segurança daqueles que eu mais amava.

Alimentava meu ego com mentiras de que ele não descobrira a verdade, que parte dele ainda tinha-me por herói. E foi um dia completamente infausto que recebi um chamado e pressenti algo ruim no ar....

Fui informado por outros Assassinos de que Harrington encontrava-se em perigo. Disparei em meu cavalo.

Meu melhor amigo está rastejando-se no chão de folhas secas, muito espancado, com a fúria estampada em seu rosto. Uma de suas pernas fora mutilada. Apoio Timóteo em meus ombros, mas o mesmo me empurra, cuspindo palavras aleatórias enquanto sua boca jorra sangue.

—Saia daqui, Dimitri! — gritava ensandecido. — É uma armadilha!

— Não posso deixá-lo ferido aqui, no meio do nada.

— Não entendes... Malquior planeja fazer mal à sua família. Vá até eles! Vá!

Não posso acreditar que as coisas tenham chegado a esse ponto. Encosto o corpo machucado de Timóteo no tronco de uma árvore, enquanto parto para retornar o caminho de casa.

Minha cabeça está doendo, meu coração está martelando afoito, e uma oração esquecida brota dentro de minha mente para que Deus proteja minha família.

Sinto cheiro de fumaça... Um cheiro forte de carne queimada...

Não, Deus! Que seja mentira!

Puxo as rédeas do cavalo, freando-o, e contemplo a casa de minha Enna sendo devorada por chamas. Ela deve estar lá dentro, com sua mãe e meus filhos. Vão morrer carbonizados! Não posso deixar isso acontecer.

Sou derrubado de meu cavalo não por simples Illuminatos, mas pelos Cavaleiros do Grande Mestre Illuminato. Entre eles está meu discípulo traidor, que presenciava a minha derrocada.

— Ora, ora, mentore — Malquior sorrir diabolicamente para mim. Como uma criança tão pequena mostrou-se tão perversa? Claro, eu o moldei assim. — Foi atraído pelo fogo assim como uma mariposa.

— Meus filhos — minha voz escapa rouca de minha boca, antes de eu levar um golpe surdo em minha cabeça. — Salvem os meus filhos! Não os deixem morrer!

— Os filhos precisam pagar pelos pecados dos pais — Malquior diz para mim, amargamente. — E está na hora de você pagar, mentore. Ou devo dizer, porco Assassino!

Assassino dos Olhos Cor de Sangue [fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora