VI - "Ela disse que nos amava..."

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Havia uma mistura de desespero, medo, revolta e conformidade, tudo em proporções inexatas que causavam um borbulhar no caldeirão frio que era o interior de Andrea. Seus olhos estavam mais uma vez opacos, faltava calor para fazê-la reagir além do esperado, para fazê-la pensar fora da redoma em que estava envolta. Certa vez ela provou a sua chefe que poderia fazer qualquer coisa quando conseguiu os manuscritos do Harry Potter, agora ela pensava nesse momento como se tivesse sido vivido por outra pessoa, era impossível reconhecer a si mesma, fosse no espelho ou em seus sentidos.

Era uma caminhada de quase duas horas de onde ela havia almoçado com Miranda e Donatella até a sua casa, no entanto, em momento algum ela cogitou qualquer um dos meios de transporte disponíveis na cidade. Talvez ela pudesse se apegar nos acontecimentos das últimas vinte e quatro horas como forma de aliviar as dores que certamente lhe seriam causadas. Pensar nas meninas, nos abraços ferozes de Caroline e Cassidy tranquilizando-a depois de um pesadelo. Imaginar os olhos vívidos e quase sorridentes de Miranda observando-a durante o café da manhã e a sensação de segurança que a mulher lhe transmitia apenas por estar por perto. Até mesmo se lembrar das anedotas de Donatella faziam sua mente vagar.

Ela caminhava contra o vento gélido, com os saltos machucado os pés e fazendo suas pernas doerem. A estratégia era simples, ela levaria o corpo a exaustão e assim estaria desacordada quando qualquer coisa lhe acontecesse. Deixaria que Nate tomasse o que quisesse de seu corpo sem estar presente.

Todo e qualquer esforço era válido para tentar despistar sua mente das palavras que lera na mensagem. Ela não precisava ouvi-las para saber como eram ditas, seu corpo tinha marcas que lhe lembravam muito bem o que lhe aconteceria além das dores causadas por certos movimentos que não eram muito bem calculados. Sua mente vagou pelo momento em que o médico lhe pediu permissão para examinar seu corpo. Por dentro a jovem tremia, se tivesse que retirar a blusa ou só levantar um pouco ficaria claro que alguém a estava agredindo e ela não podia fazer isso ali, não podia impregnar o cômodo da casa de Miranda com suas palavras tristes, com seus fantasmas. Depois de muito barganhar, convenceu o médico a executar exames superficiais e garantiu que compareceria para uma avaliação mais profunda hoje. Bem, isso não aconteceria mais, talvez nunca.

Por mais que se esforçasse em não chegar rápido em casa, ali estava Andrea, colocando a chave na maçaneta. Ela trancou a respiração ao sentir a porta se abrir sem que tivesse a chance de girar o pequeno objeto de metal que contrastava frio contra o suor em seus dedos.

"Ora, ora, se não é a piranha fashionista que não dormiu em casa quando eu pedi para ela vir para casa cedo ontem." Andrea foi arrastada para dentro do apartamento e fechou os olhos ao ouvir a porta ser batida com força.

"Me desculpe, eu desmaiei ontem e Miranda..."

"Você contou alguma coisa para ela?" Nate segurou o pescoço de Andrea pela simples menção do nome da outra mulher, fazendo com que a morena não conseguisse terminar de falar. O medo era evidente nos olhos dela e ele parecia gostar disso. Quando o rosto da jovem começou a ficar em um tom mais avermelhado ele aliviou sem soltar por completo. "Se eu suspeitar que contou alguma coisa para aquela velha você vai pagar caro, e ela, e as filhas... Você se importa tanto com elas, não é? Espero que saiba o quão estúpido é se apegar a essa gente que só te vê como um objeto." Ele voltou a apertar o pescoço dela devagar. "Mas até que elas estão certas, você não é mais que uma coisa que todo mundo usa para satisfazer alguma necessidade. A velha te usa para fazer os serviços que ninguém mais quer fazer, as filhas dela te usam para os trabalhos de escola e você depois só falta abanar o rabo e esperar por uma recompensa. Acho que eu devia adotar essa tática, um biscoito por cada vez que eu conseguir me aliviar usando você." A gargalhada que seguiu as palavras de Nate fizeram Andy estremecer. "No seu caso, você não ia ganhar nada porque não serve nem para isso, além de estar cada vez mais feia."

Uma Lua Por VezOnde histórias criam vida. Descubra agora