VIII - "A brisa de calmaria depois da tempestade"

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"Vocês estão acompanhando Andrea Sachs?" Uma jovem enfermeira questionou, logo recebendo a atenção de Miranda, Nigel e Roy.

Os três se levantaram apreensivos.

"O doutor me pediu para levar Miranda Priestly até sua sala. Por aqui, por favor."

Nigel apertou a mão de Miranda, como se tentasse lhe transmitir força. Roy apenas lhe deu um meio sorriso e logo ela seguiu ao encontro de Gustav.

Roy e Nigel se olharam, como se pudessem se comunicar em silêncio. Os dois estavam pensando exatamente a mesma coisa, mas nenhum deles ousaria verbalizar o que se passava ali. Miranda se importava com Andrea, muito mais do que ela jamais ousaria admitir, contudo, os dois a conheciam, a observaram de perto por anos. Não cabia a nenhum deles apontar o que se via claramente na editora. No papel de amigos, que era o que lhes cabia naquele momento, eles se sentaram e continuaram a aguardar por notícias.

***

"Miranda, sente-se por favor. Só preciso terminar de olhar estes exames." Gustav disse com o cenho franzido e sem ao menos retirar os olhos do papel que estava em suas mãos.

Mais alguns minutos se passaram até ele levantar os olhos e pela expressão já conhecida, a mulher sabia de duas coisas. Primeiro, as notícias não eram muito boas. Segundo, ele estava curioso.

"E então?"

"Eu não sei como te dizer, mas essa jovem teve muita sorte de vir parar aqui nesse momento. Mais algumas horas e a história seria outra, Miranda. Ela está desidratada, desnutrida, anêmica, com sinais de asfixia e alguns outros tipos de abusos, costelas trincadas, altas doses de sedativos no sangue e eu não consigo imaginar como você possa estar ligada a alguém nessa situação. Para mim está claro que ela é importante para você, mas eu sou obrigado a reportar o caso dela a polícia porque está nítido que ela sofreu agressões por um período considerável até chegar no ponto em que está."

Gustav despejou as informações da forma que estava acostumado a tratar com Miranda e se surpreendeu ao notar lágrimas se formarem nos olhos dela. De todo o período em que eles se conheciam, essa era a primeira vez que ele via a mulher não conseguir lidar com algo de maneira completamente racional e controlada.

A sala ficou silenciosa por alguns segundos. Ele entendeu que Miranda precisava de tempo para se recompor e assim eles poderiam resolver como proceder naquela situação.

"Ela é... era minha assistente. A alguns dias eu a abordei no escritório tentando descobrir o que estava errado, ela estava agindo estranho, perdendo peso... E-eu achei que ela estivesse doente ou tendo problemas em casa, mas não entrei em detalhes. No mesmo dia, à noite, ela desmaiou na minha casa e eu liguei para o Carlyle. Ele a atendeu, não me deu muitos detalhes, só pediu que ela fosse ao consultório dele no dia seguinte. Eu ia com ela, mas nós discutimos e desde então ela nunca mais apareceu na empresa. Hoje, Nigel me alertou que havia tentando contato com ela sem sucesso, mesmo eles sendo amigos. Cassidy e Caroline haviam me pedido para entrar em contato com ela também porque Andrea já não as respondia mais por e-mail nos últimos dias. Achei que algo estava errado e resolvi ir até o apartamento dela... nós a encontramos trancada, nua, sem saber se ela estava viva... eu acho, tenho certeza, na verdade... que foi o namorado dela quem fez isso." A cada palavra Miranda tinha mais dificuldade, mas era necessário contar tudo de uma vez. A cada vez que ela se tornava mais reticente, o nó parecia apertar em sua garganta. Andrea estava nessa situação e ela não havia sido suficientemente útil para ajudá-la. O que seria dela agora se ao invés de a terem encontrado dopada ela estivesse morta? A mulher grisalha sentia o corpo praticamente tremer só de pensar nessa possibilidade.

Uma Lua Por VezOnde histórias criam vida. Descubra agora