Dia dois: Cereais

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Lance olhava ao redor nervoso. Não importava o que Keith havia dito na noite anterior ou que ele de fato não havia visto nada de errado acontecendo a noite toda. Estar ali era no mínimo perturbador. Em vários sentidos. Lembrava muito Zarkon.

A casa parecia na verdade quase mal-assombrada apesar de ser muito clara, com janelas enormes de vidro que iam do chão ao teto e as paredes brancas que refletiam a luz da manhã. Mas, bem, não importava muito a cor das paredes ou o número grande de entradas de luz se todas as cortinas eram de um roxo ameixa, os moveis de madeira escura e os estofados em tom vermelho sangue.

Sabia que Zarkon tinha um gosto bizarro, assim como Keith, mas esperava que Shiro fizesse algo na decoração! Uma amenizada naquela coisa pesada!

Porém, toda vez que dormia naquela casa as coisas ficavam piores e mais parecidas com a casa moderna do Conde Drácula, que descobriu como não morrer queimado pela luz do sol e, agora, fazia questão de o deixar entrar como que se o desafiasse a o matar.

Isso tudo apenas acrescentava para tornar o fato de estar naquela casa enorme, andando pelos corredores com Keith em direção à cozinha como se não fosse nada de mais algo extremamente estranho! Se não perigoso!

— Não acredito ainda que levantamos tão cedo. — Bocejo Keith coçando a barriga e erguendo a camisa larga de dormir que usava no ato.

Ele andava ao seu lado, tão perto que os braços roçavam. Lance já havia erguido e abaixado o braço nas suas costas umas vinte vezes — apenas no corredor do quarto de Keith no segundo andar — com vontade de o abraçar e trazer para perto, mas sem de fato o tocar. Não tinha coragem depois de literalmente dormirem abraçados. Seria de mais, até para ele.

— Você ao menos podia ter fingido que não percebeu que eu não voltei a dormir e ter continuado com o cafuné. Estava bom. — Continuou Keith alheio a Lance ou ao olhar de repulsa que ele lançava a cada item decorativo da casa.

— Em primeiro lugar, eu já passei quatro horas do meu horário de levantar, se ficasse deitado mais tempo só mexendo no celular ia ficar com cãibras. — Pontoou o garoto saltando o último degrau da escada e se virando para trás para ver keith. — Em segundo, não sou seu namorado para ficar fazendo cafuné eternamente só para te agradar! Meus dedos doem! — Finalizou puxando a camisa que Keith havia lhe emprestado para baixo, era horrível sentir a pele exposta pela roupa curta quando não era intencional.

— Se fosse meu namorado ia continuar? — Questionou Keith parando na escada de frente a Lance com os braços cruzados levemente e sorrindo de lado com uma sobrancelha erguida. — Vamos oficializar então. — Brincou e Lance estreitou os olhos com desconfiança.

— Para que eu aceite, você vai ter de me dar um anel com um diamante gigante como aliança, como nos desenhos dos anos 90! — Disse imitando a pose de Keith e erguendo o queixo.

Mesmo um degrau a cima, Keith não era muito maior que ele, mantendo o nível dos olhos os mesmos que os de Lance. Perceber aquilo fez Lance sorrir e Keith desfez o sorriso.

— Considere nosso relacionamento terminado. — Disse Keith descendo o degrau e passando por Lance. — Você só ficou comigo pelo dinheiro! Eu sabia!— Dramatizou o mestiço andando de costas e com uma mão sobre o peito.

Sua expressão apática não contribuía em nada para a tentativa de teatro, mas Lance sorriu animado pela simples iniciativa dele tentar.

— Sim, Katia Maria de Aquiles e mais vinte sobrenomes! — Dramatizou se virando teatralmente para trás e depois para Keith. — Você me descobriu! Eu fiquei com você pelo dinheiro, mas há algo que você não sabe! — Lance parou de andar e esticou a mão a pra frente, tampando seus olhos com o braço e virou o rosto para trás de novo.

Guillotine (NOVO)Onde histórias criam vida. Descubra agora