01 - Tormenta

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                Aqueles que não lembram do passado estão condenados a repeti-lo, mas aqueles que se recusam a esquecer estão condenados a revivê-lo. – Revenge.

Hoje posso dizer que descobri o significado da palavra amor. Guilherme me mostrou que amar alguém vai muito além de sexo, do gênero ou da condição social. Ele desmistificou e derrubou conceitos que eu carregava e fez sentir tanto amor quanto pudesse proporcionar.

Já fazia uma semana desde que Marília me dissera que Guilherme estava de mudança para a Irlanda. Meus dias eram difíceis, recheados com expectativas de notícias do meu namorado. A palavra para descrever meus sentimentos sobre Marcos não era mais ódio, mas sim resiliência. Curiosamente ele havia repetido os atos do meu pai enviando um filho para longe de casa a força, sem importar-se com seus sentimentos ou a vida que levava.

Todos os planos que havíamos construído e todos os objetivos traçados foram por água abaixo. Ainda existiam muitos mistérios a serem desvendados e por mais que Guilherme estivesse longe ele ainda me dava forças simplesmente pelo amor que havíamos vivido. Ele não era apenas o meu namorado, mas sim o meu porto seguro e reencontrá-lo era a minha prioridade.

Os primeiros sete dias foram de tensão, imaginando que a qualquer momento Marília e Marcos entrariam pela porta da casa do meu tio e contariam tudo sobre o que havia ocorrido na noite em que descobriram sobre meu namoro. Sete dias de expectativa e incertezas acreditando que tudo desmoronaria quando a minha família descobrisse a verdade sobre minha sexualidade. Como reagiriam e pior, o que fariam comigo eram incertezas que insistiam em pairar sob meus pensamentos.

Acabei por dormir tarde da noite naquela sexta feira pensando em tudo que estava acontecendo.

-Nick. - por mais irritante que fosse, reconheceria a voz que estava me acordando enquanto me chacoalhava na cama. – Acorda. Meu pai está quase saindo. – era o Dereck, que me alertava que meu horário de acordar já passara.

Após uma semana de folga graças ao suposto assalto que eu havia sofrido, era hora de continuar trabalhando no escritório da fazenda, mesmo após a visita do meu pai e de todos os acontecimentos das últimas. A desconfiança sobre os atos do meu tio e de Fernanda ainda não havia diminuído, mas ultimamente este era um alívio necessário ao torpor de viver sem a presença de Guilherme.

Insano.

-Bom dia Nicolas. – meu tio estava com cara de poucos amigos, provavelmente pelo atraso de vinte minutos que eu acabara de causar. Ele me encarava fixamente como quem procurasse motivos para me criticar.

-Bom dia, tio Augusto. – respondi em tom sereno evitando qualquer discussão. – Desculpe o atraso. – continuei, um pouco debochado, confesso. Meu tio me encarou e deu partida no carro.

-Preparado para voltar? – Augusto se referia à minha semana de férias. Para ele e meu pai, o suposto assalto que eu havia sofrido poderia deixar algum trauma. Olhei para o meu tio e hesitei respondê-lo ao perceber que sua pergunta tinha dois tons de interpretação.

-Sim. – comecei um pouco inseguro. – Talvez seja bom voltar. – terminei, como se quisesse impor que eu sabia das suas falcatruas com Fernanda. Meu tio me encarava outra vez.

Passamos pela casa de Guilherme no caminho para o escritório. Tudo quieto e sem movimento algum. Até mesmo o jardineiro que costumava ir aos sábados não estava lá.

Seguimos até a sede da fazenda. Ao chegar pude ver Fernanda, que esperava por meu tio com uma prancheta em mãos. Ela demonstrava ansiedade, quase como se estivesse contando os minutos para que ele chegasse. Aquilo me parecia mais suspeito do que o normal.

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora