11 - Expectativas

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Eu espero que possa me ouvir

Eu lembro claramente

O dia que você partiu

Foi o dia que eu descobri

Que não seria a mesma coisa

                                                                                                                                       -Slipped Away, Avril Lavigne.

Pedi para Matheus me encontrar no mesmo lugar de sempre, o banco da praça onde nossa amizade começou. Aquele era o tipo de lugar marcante para uma amizade, algo que se torna sem explicação e será lembrado aconteça o que acontecer. Meu corpo estava carregado de emoções. A rigidez de minhas mãos demonstrava determinação e sobretudo convicção de que agora tudo daria certo.

-Parece que viu um fantasma. - Matheus me olhava fixamente.

-E eu vi. – respondi em tom seco. Pude perceber que uma das sobrancelhas dele se erguia, quase como se não acreditasse. Me sentei ao lado dele no banco de concreto e desandei a falar. – Quando o sinal do intervalo tocou eu saí da sala e fui para o apartamento que eu e o Guilherme usávamos as vezes. Lá era o único lugar seguro que eu podia usar para olhar aqueles arquivos. – Matheus continuava me encarando, acompanhando cada palavra que saía da minha boca. – Comparando as notas com os pagamentos realizados, percebi que existe uma diferença muito grande no que é pago. E adivinha só? – fiz um ar de suspense que Matheus retribuiu com um gesto de quem não entendeu nada. – Os sócios dessa empresa que recebe os pagamentos são o Marcos, Marília e adivinha? – suspense outra vez. Meu amigo estava começando a ficar impaciente e com raiva. – A Fernanda.

Matheus me encarava atônito. Ele estava tão em choque quanto eu ao olhar o contrato social da Agroeste em meio aos arquivos salvos na nuvem.

-Então espera aí. – Matheus me interrompia. – Isso quer dizer que a Fernanda está envolvida até o pescoço nisso tudo... e que talvez seu tio nem saiba de nada disso. – meu amigo fazia o que todo ser humano faz ao descobrir algo desse porte: conspirar. Ele gesticulava e, de certa forma, o que ele dizia me acalentava. Imaginar que meu tio não estava envolvido e que eu não seria a ovelha negra da família pelo menos uma vez era reconfortante.

-Talvez. – deixei transparecer a dúvida que pairava em meus pensamentos. – Mas ainda é cedo pra afirmar. – continuei. – Na verdade saber que a Fernanda é sócia na empresa me leva a acreditar que ela e o Marcos estão mancomunados de alguma maneira. Não sei bem para o que ainda, mas estão. – afirmei com uma certeza que eu não possuía.

Os olhos de Matheus brilhavam com a possibilidade de desmascarar Marcos, e de alguma maneira, fazer justiça pelo pai.

-Agora preciso ir com cautela. Preciso descobrir qual a ligação deles pra ter certeza de como agir. – Matheus acompanhava meu raciocínio e assentia com a cabeça. – Enquanto isso precisamos fingir que está tudo bem.

-Pra mim é mais fácil do que pra você. – meu amigo começava a falar. – Pelo menos não convivo com eles. – arguiu. – Por enquanto é só isso? – senti um pouco de decepção em sua pergunta.

-Não. – seu olhar se voltou pra mim como alguém que sentia um fio de esperança renascer. – Amanhã vamos atrás da Tereza saber o que ela pode nos contar sobre o que houve com o seu pai.

Matheus não precisava falar nada. Sua expressão facial demonstrava a tristeza aliada à expectativa em seus sentimentos. Descobrir a verdade sobre a morte do pai dele agora era questão de honra.

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora