12 - Revelações - Parte I

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Confiança é algo difícil, quer encontremos a pessoa certa para confiar ou confiemos na pessoa certa para fazer o errado. Mas entregar seu coração é o mais arriscado de todos. No final a única pessoa que podemos confiar de verdade é em nós mesmos.-Revenge.

Fiquei vidrado encarando a mensagem de Frederico por alguns segundos. Instintivamente o respondi que sim, printei a tela e enviei para Matheus, meu fiel escudeiro nessa cruzada justiceira.

-É claro que vamos. - meu amigo respondia, talvez mais empolgado que eu mesmo. - Não dá pra ir hoje? - brincou. Ter Matheus como confidente foi um dos melhores presentes que essa mudança de vida me trouxera. Alguém que eu sabia que poderia contar até nos piores momentos e que, se dependesse de mim, seria levado para toda a vida.

Saí do banheiro e entrei no quarto tão rápido quanto pude. Me vesti de maneira confortável e deitei na cama puxando um dos vários livros os quais havia começado e jamais terminado de ler. Poucos minutos depois Dereck chegou e sentou-se em sua cama, visivelmente desanimado.

-Tá tudo bem contigo? - as palavras saíam da minha boca enquanto eu evitava olhá-lo. Precisava deixar claro que existiam limites entre nós que deveriam ser respeitados.

-Sim. - racionando palavras, meu primo estava com um humor de poucos amigos, algo característico em seus dias ruins.

-Que belo humor para uma sexta feira. - cutuquei. Eu sei, devo aprender a ficar quieto as vezes.

Dereck me encarou como se quisesse me fuzilar com os olhos e levantou-se, provavelmente sem paciência para ficar em um ambiente com outras pessoas. Olhando para trás, hoje vejo que ter ficado com Dereck foi um dos maiores erros que cometi. Não por me entregar a vontade e beijá-lo, mas por trair Guilherme no início de nossa relação e até mesmo por manipular os sentimentos do meu primo para conseguir o que queria. Tudo isso me fazia amadurecer e enxergar que hoje eu era incapaz de cometer os mesmos erros outra vez, me tornando alguém melhor em vários aspectos.

Acabei cochilando com o livro sob meu peito enquanto pensava na vida. Acordei todo amassado, com a luz do quarto ainda acesa. Duas horas e meia haviam se passado e Dereck ainda não estava em sua cama. Meu olhar percorreu o quarto em buscas de pistas sobre ele.

Nada.

Me levantei da cama e desci para o primeiro andar da casa. Dereck estava sentado no sofá, vendo tv com expressão de choro. Desarmado, desprotegido, carente de alguém lhe entender.

-O que você tem? - perguntei, sentando-me ao lado dele sob protestos e cara feia. - E nem adianta me dizer que não tem nada. - sorri, tentando alçar uma bandeira branca de paz. Apesar dos pesares, Dereck era um cara legal que me ajudou muito quando cheguei. Alguém que aturou e suportou perder a intimidade de seu quarto e que de sua maneira tem os melhores desejos para mim.

-Culpa, Nick. - sua voz estava carregada. Havia remorso, mágoa e tristeza nela. Dereck, antes um rapaz alegre, agora exacerbava amargura em sua feição. - Há dias em que está tudo bem e que entendemos o motivo de certos atos, mas há outros em que queremos apenas tirar o peso de nossos ombros. - uma lágrima escorria em seu rosto e demonstrava uma verdade que eu jamais havia visto nele.

Algo dentro de mim me incomodava ao ouvir o desabado de Dereck. Uma voz interior me dizia que meu primo sabia mais do que parecia e que, por pior que pudesse parecer, ele também estava envolvido em tudo que estava acontecendo.

-Do que você está falando? - perguntei, incrédulo por cogitar que ele pudesse chegar a esse ponto.

-De tudo, Nicolas. - ele tentava despistar enquanto enxugava as lágrimas com a mão direita. - Um pouco sobre você, um pouco sobre mim. - eu o seguia com o olhar enquanto ele percorria a sala de estar. - Nunca é fácil admitir culpa, tampouco buscar redenção. - ele terminava, desligando a tv e subindo para o quarto. O acompanhei, quieto, refletindo e tentando entender seus devaneios.

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora