02 - Revanche

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O desafio do homem não é propriamente vencer o medo, que é inerente à sua condição humana, mas sim não permitir ser vencido por ele. – David Marcelo Galdino.

Ver que meu tio estava na casa do prefeito era assustador. Entender e perceber que ele poderia estar tomando conhecimento de tudo que aconteceu me fazia temer não só pelo meu futuro, mas também pelo namoro que eu tanto desejava continuar. Matheus percebia o meu nervosismo.

-O que o seu tio está fazendo aí? – perguntou.

-Não faço ideia. – respondi, puxando o meu novo melhor amigo para longe. Aquela era uma resposta do meu subconsciente para o medo.

-E você não está nem curioso? – Matheus era como uma criança em certos momentos. Às vezes tão maduro, outras tão infantil.

-Estou, mas vou usar a inteligência. – respondi, continuando a lhe puxar pela calçada. Minha primeira intenção era evitar que tio Augusto me visse e isso pudesse piorar de alguma maneira a situação que já era ruim.

-Vai entender. – Matheus retrucava, revirando os olhos em sinal de desaprovação.

-Não quero que ele nos veja por aqui. - respondi, a esta altura já dobrando a esquina, a salvo de que nos vissem.

Minha cabeça estava a mil. Pensar na possibilidade do meu tio descobrir tudo era ruim, mas muito pior seria se ele tivesse qualquer envolvimento com todos os crimes que Marcos supostamente tinha cometido. Acompanhado de Matheus segui até em casa onde nos despedimos e lhe pedi desculpas pela grosseria minutos antes. Mesmo gostando da presença dele, tudo que eu mais precisava naquele momento era ficar longe de todo mundo e colocar a cabeça no travesseiro para pensar. Precisava me preparar para qualquer situação, estar pronto para revidar caso fosse necessário e ter as armas certas em mãos.

Era a hora da revanche.

No quarto fiquei sozinho por alguns minutos. Pude perceber que Dereck chegou logo depois, sem falar comigo ou tentar me irritar como o de costume. Por mais estranho que pudesse parecer, eu queria que meu primo falasse comigo. Mesmo com todas as nossas diferenças ele era um cara legal, que em meio a todos os meus problemas me proporcionava momentos de distração. Ele não parecia estar bem e se deitou em sua cama. Me esforcei para não demonstrar que estava olhando pra ele.

O tempo passou e o relógio marcava aproximadamente meia noite de sábado para domingo. Meus pensamentos voavam e Dereck começava a dar sinais de que estava acordado. Podia ouvi-lo choramingar enquanto ele tentava manter-se discreto.

Pensei, repensei e me deixei levar pela emoção.

-O que você tem? – perguntei, sem me mover ou ao menos olhá-lo. Pude ouvir o som das suas mãos secarem as lágrimas que escorriam por seu rosto.

-Nada. – ele resmungou, tentando manter-se forte. Dereck tinha inúmeras qualidades, mas nunca foi bom em mentir.

-Eu sei que tem. – argui, respondi enquanto levantava e me colocava sentado na cama. O escuro do quarto dava um tom melancólico àquela conversa. – Te conheço o suficiente pra saber que não está bem.

-O coração, Nick. – ele começava. Minha sobrancelha direita levantava-se involuntariamente, demonstrando certa descrença. Fiquei em silêncio esperando que ele continuasse. – Às vezes o nosso coração nos prega peças difíceis de entender. – a tristeza no tom de voz do meu primo agora dava lugar a um pouco de raiva. – Aperta. Dói. Eu não consigo entender o que estou sentindo Nicolas. – ele terminou, agora sentado em sua cama e me encarando. A janela entreaberta permitia que um raio de luz adentrasse o quarto, permitindo que nos víssemos pouco.

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora