08 - Prelúdio de Dias Melhores

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Algumas vezes, saber se defender não é o suficiente. Você precisa recapitular. Ir para a ofensiva. - Riverdale.

Meu coração estava envolto em um turbilhão de emoções, disposto a lutar pela felicidade e a viver tudo aquilo que lhe fosse possível.

Um sorriso bobo escapava enquanto lembrava de Guilherme pela enésima vez após sonhar com ele. Dereck se aproximava e, aos poucos, percebia que algo em mim havia mudado desde o almoço.

-Tá mais feliz agora. - ele procurava alguma forma de me atingir. Dereck estava parado, de braços cruzados, me encarando à alguns metros da cama onde eu estava sentado.

-E se eu estiver? - perguntei, sem completar a frase para evitar uma grosseria desnecessária. Para bom entendedor, meia frase bastava. O encarei, fuzilando-o com o olhar.

-Uau. - ele gesticulava com as mãos. - Calma aí primão. Não quer me dizer onde você estava hoje cedo? - um arrepio me correu espinha abaixo. Mesmo com medo eu não demonstraria fraqueza. Sonhar com Guilherme tinha me fortalecido.

-No curso, como sempre. - respondi, seco, tentando dar o mínimo de detalhes para evitar qualquer furo na história. Desviei um pouco o olhar de Dereck tentando não o encarar.

-Fui lá e você não estava. - aquilo começava a me preocupar. Mantive a postura séria e o encarei, tentando transmitir a maior segurança possível, mesmo que estivesse mentindo. O futuro dos meus planos poderia depender daquilo.

-Você deve ter ido enquanto eu estava com alguns colegas no mercado da dona Silvia. - disse a primeira coisa que passou pela minha cabeça. O mercadinho era um dos locais mais frequentados da cidade, já que não haviam muitas opções. - Confesso que matei um período da aula. - ri, exacerbando uma falsa culpa. Dereck me olhou e pensou um pouco antes de continuar.

-Hum. - ele resmungava, parecendo não acreditar.

-O que você foi fazer lá? - continuei para tentar dar alguma credibilidade a minha história. Você pode estar se perguntando o motivo de eu não tentar me esquivar logo do meu primo, mas o conhecendo como eu, sabia que aquilo seria como entregar minha confissão em uma bandeja de prata.

-Estava sem nada pra fazer. - ele começava, ainda desconfiado. - Estava por perto e quis ir te visitar. Algum problema com isso, primo? - o sarcasmo fazia parte do sorriso de Dereck. Mantive a calma mesmo assim.

-Nenhum. - respondi, tentando finalizar a conversa ao me levantar da cama. Busquei por uma muda de roupa para ir ao trabalho e rumei para o banheiro.

Ufa. - pensei, acreditando ter me livrado de Dereck.

Me vesti e desci para a cozinha. Minha tia estava lavando as louças e meu tio logo chegava, indicando que estava na hora de irmos para o escritório. Mesmo predestinado a ter mais um dia de marasmo como os últimos vinham sendo, tinha decidido a tentar mudar alguma coisa no trabalho, mesmo que isso requeresse certo risco.

No caminho para o trabalho escrevi um whatsapp para Matheus, tentando acalmá-lo ou acabar com a confusão que eu poderia ter criado em sua mente.

Está tudo bem. Alarme falso.

A cor azul indicava que ele lera minha mensagem e, sem resposta alguma, segui caminho junto do meu tio até chegarmos à sede da fazenda. O céu estava nublado como poucos dias estiveram naquela estação, até mesmo o clima colaborava para criar uma sensação de mistério.

Prelúdio de novos dias.

Entrei e como em todos os dias me sentei em minha mesa. Haviam tarefas pendentes do dia anterior e finaliza-las seria minha prioridade até Fernanda, que hoje estava atrasada, chegasse. Ela, aliás, raramente se atrasava, sendo uma das primeiras a chegar e geralmente a última a sair. Do outro lado da sala, concentrados em suas atividades estavam Gustavo e Tatiane, concentrados em suas atividades e com cara de poucos amigos como sempre.

Terminei minhas atividades e nada de Fernanda aparecer. Isso não representava um problema para mim. Pelo contrário, poderia ser a chance de conseguir os documentos que provariam o desvio de valores da fazenda e eu sabia que aquela seria uma das poucas chances para isso.

Era o destino. Ele conspirava para me unir a Guilherme outra vez e fazer justiça pela minha família.

Aproveitei a ausência da minha arqui-inimiga para obter tudo que eu pudesse do seu computador. Não escolhi arquivos, apenas os copiei para a nuvem para evitar surpresas como da vez passada. Aquilo me ensinou a confiar menos nas pessoas e buscar meus objetivos em silêncio, ainda mais quando eles podem prejudicar alguém, mesmo que o mereçam.

Nesta vida, todo mundo é suspeito.

Deixei o computador fazendo upload dos arquivos e já que estava com sorte arrisquei ir até o arquivo e ver se ele estava aberto para pegar os documentos dos quais precisaria.

A adrenalina corria em meu sangue e me fazia lembrar da noite em que entrei escondido no escritório. Pensar em Guilherme era uma mera consequência.

Chequei se todos os arquivos já estavam na nuvem, deletei o histórico de navegação e desliguei o computador. Tentei fingir o máximo de normalidade em meio a excitação que sentia.

Era sentir que estava um passo mais próximo de rever Guilherme e dois de fazer justiça.

Do outro lado do oceano, em um prédio de três andares com tijolos vermelhos aparentes, estava um garoto atormentado pela solidão e pela impotência de não conseguir mudar sua própria realidade. Sozinho em um quarto escuro, ele se preparava para descer para o jantar e se reunir à outros na mesma situação. Era Guilherme, vestido com o tradicional uniforme do internato, tentando apenas viver em meio ao pesadelo que seu pai criara por puro preconceito.

-Vamos. - ela sussurrava, abrindo a porta do quarto individual onde ele estava. - Está na hora. - sua voz era de tristeza, assim como a de Guilherme. Ambos estavam no mesmo barco, sem ação diante de uma prisão sem grades.

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora