09 - O Sol

711 92 5
                                    

 -Como um pássaro trancado em uma gaiola chamada amor, ele cortou suas asas quando ela tinha nascido para voar [...] - Birdie, Avril Lavigne. 

Caroline era apenas mais entre os garotos e garotas presos naquele internato contra a própria vontade. Apenas mais uma dentre as várias feições de tristeza e descontentamento presentes na sala de jantar do prédio de tijolos vermelhos. Ao seu lado estava Guilherme, que discretamente por baixo da mesa, apertava sua mão como se quisesse lhe transmitir força.

Guilherme terminava de jantar e observava Caroline ao seu lado. Carol, como agora ele costumava a chamar, era seu total oposto. Ele acelerado e impaciente para findar as refeições, ela, calma e conformada em ter todo o tempo do mundo para ficar à mesa.

-Anda Carol, ainda quero ir lá fora ver o sol. –a voz de Guilherme era de quem, se pudesse, sairia correndo daquela mesa agora mesmo. O olhar da menina de longos cabelos negros cruzava com o seu, fazendo quaisquer outras palavras tornarem-se desnecessárias.

-Já entendi. – um sorriso surgia em seu rosto. – Vamos.

Ambos levantaram-se e juntos percorreram os corredores da instituição até chegar ao pátio. De lá, sentados em um dos bancos do jardim, poderiam assistir ao pôr do sol.

-Você sempre vem aqui.. – Caroline começava, hesitante. Talvez sentisse medo de dizer algo que machucasse seu amigo.

-Hoje a saudade apertou. – Guilherme respondia em tom triste, segurando uma lágrima que demonstraria a saudade que sentira. – Tem dias que são mais difíceis que outros. – Caroline o observava atentamente, acompanhando cada rajada de sentimento que as palavras de seu amigo carregavam.

-Você já me falou dele antes. – sua mão esquerda percorria as costas de Guilherme e o puxava para um abraço quase fraternal. – Ele deve ser um cara muito especial, Gui. – sua voz era de compreensão e fazia com que seu amigo se rendesse ao afago da jovem garota.

-E ele é. – Guilherme exaltava a certeza que seu coração lhe dava. – O Nicolas é o cara mais incrível que eu já conheci até hoje. –os olhos dele marejavam com tamanho sentimento - Toda vez que vejo o pôr do sol me lembro da nossa primeira vez e de como tudo aconteceu entre nós. Acho que é por isso que eu gosto tanto de te carregar pra cá, Carol. – um sorriso de ambos quebrava o tom sentimental da conversa. Guilherme já estava chorando e agora seu rosto demonstrava alguma alegria. – Aqui eu lembro dele. De tudo que vivi com ele e de como tudo isso foi doce. Mesmo longe, tão longe, o meu amor não diminui e nem enfraquece. Pelo contrário, ele se mantém vivo e mais forte, dia após dia.

Caroline observava seu amigo atentamente, palavra após palavra, lágrima após lágrima. Era uma conversa sincera e carregada de sentimento.

-Foi tudo tão intenso e tão rápido que eu só pude me entregar e viver. – Guilherme continuava. – Não tive tempo para meias palavras ou para ter medo de me permitir. – o garoto começava a hesitar outra vez. – E olha só onde isso me fez parar. – ele fazia referência ao internato e ao pai.

-Vocês ainda tem muito amor pra viver, Gui. – Caroline começava a falar, quase consolando o amigo. – Seu pai errou em te mandar pra cá, errou em proibir o filho de ser quem é e errou ainda mais em agredir você ou o Nicolas, mas não é por causa dele que vocês vão acabar. – ela terminava fazendo referência ao casal. Guilherme a observava fixamente.

-Você acha que ele está me esperando? – a inocência se fazia presente nas palavras de Guilherme. Era perceptível que aquele garoto sentia medo de que seu namorado não o esperaria, tampouco o procuraria.

-Mais do que isso. – Caroline mal o esperou terminar a pergunta. – Acho que ele está te procurando. E quer saber, você ainda vai sair daqui antes que eu. – agora era a voz dela quem carregava pesadas emoções.

Órfã e criada pela avó interessada apenas em sua herança, Caroline se via sozinha no mundo depois do falecimento dos pais em um acidente de trânsito. Talvez o internato não lhe fosse de um todo ruim, vez que fora dali ela precisaria enfrentar toda uma vida de desafios.

-Vamos sair juntos. – agora era Guilherme quem abraçava a amiga.

Cumplicidade e apenas isso poderia descrever aquela amizade.

Um sinal sonoro vindo do interior do prédio interrompia a demonstração de afeto e amizade entre os dois. Era hora deles voltarem.

Do outro lado do oceano, Nicolas se preparava para ir pra casa. Um sorriso surgia em seu rosto, agora confiante de que seu plano daria certo desta vez. De mochila nas costas e com a certeza de um amanhã melhor, esse era o começo da redenção do jovem casal. 

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora