03 - Do Outro Lado da Moeda

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Capítulo aos olhos de Guilherme, dias antes, durante a briga em sua casa.

Ver Nicolas saindo da minha casa naquele estado me corroía. Meu namorado estava machucado e chorava copiosamente, tal como alguém que havia sofrido tudo que tínhamos vivenciado minutos antes. Meu pai, meu próprio pai demonstrava um ódio inacreditável até mesmo para as piores pessoas que eu poderia imaginar.

Assistir à toda aquela demonstração de brutalidade e não conseguir defender o cara que eu amo era como estar de mãos atadas. Uma sensação de ver o mundo girar e não ter ação, impotência que me machucava ainda mais.

-Eu não criei filho por mais de dezoito anos para ser mulherzinha. – as palavras do carrasco que até hoje chamei de pai ecoavam pela casa em tom tão alto que até mesmo os vizinhos poderiam ouvir. Sua raiva era evidente e qualquer traço de um de sentimento de amor paterno que um dia poderia ter existido entre nós agora era mera ilusão.

Lembranças de algo que se tornava intangível.

-Eu sou homem, pai. – tirei forças de onde não tinha para respondê-lo. Me levantei do chão enquanto seu olhar se voltava para mim e um frio na barriga me possuía por completo. – Não do jeito que o senhor sempre quis. – limpei o sangue que escorria no meu rosto, provavelmente de algum corte que meu pai havia causado e continuei a falar demonstrando uma firmeza que eu não tinha. – Não sou homem pra colecionar mulheres ou pra fazer as suas vontades. – minha mãe me observava como se suplicasse para que eu me calasse. Ela claramente tinha medo das atitudes que ele pudesse tomar durante a raiva. – Eu tenho vontades, tenho amor no peito por alguém que só me faz bem. – fiz uma pausa. Meu pai praticamente espumava de ódio. – Um amor tão puro que o senhor jamais vai... – minha voz foi interrompida por outro soco. Dele, do meu próprio pai.

-Não ouse terminar essa frase Guilherme. – seu dedo estava em riste apontado contra o meu nariz. Eu estava outra vez no chão, com o nariz sangrando e sem dignidade alguma. – Você nasceu homem e vai ser macho, mesmo que não queira. – a esta altura eu já fazia a última coisa que queria fazer, chorar outra vez enquanto admitia fraqueza perante o homem que eu chamava de pai.

-Marcos, se acalma. – pela primeira vez minha mãe tomava partido, mesmo que fosse apenas na tentativa de acalma-lo. – Assim nada vai ser resolvido. – as palavras de dona Marília foram interrompidas pela grosseria do homem com quem ela era casada.

-Isso também é culpa sua. – agora toda a ira de Marcos era voltada à minha mãe. – Você sempre foi mole e fez todas as vontades dele. Agora o resultado tá aí, essa mulherzinha que ele virou. – novamente tomado por uma coragem descomunal, decidi intervir e proteger minha mãe. Mesmo sendo ausente em muitos momentos importantes da minha vida, ela jamais havia me feito mal e no final das contas também era intimidada pelo marido.

-Ela não tem nada com isso. – comecei, tentando manter um tom de voz tranquilo, talvez o único daquela noite. – Nem o senhor, pai. – fiz uma pausa quase dramática ao ver que ele me acompanhava. – É, meu pai. Aquele que deveria me entender e me proteger do mundo. O cara que eu sempre tentei orgulhar e em quem eu me espelhava. – outra pausa dramática. Mesmo com toda a raiva que sentia podia perceber que meu pai estava sendo tocado e minhas esperanças começavam a aparecer outra vez. – Até hoje, quando o senhor tomou atitudes como a que está tendo e me causa vergonha. – a feição dele começava a mudar outra vez. Era nítido que eu havia escolhido as palavras erradas.

-Agora o viadinho tem vergonha do pai macho que ele tem? – seu tom de desdém era evidente. – É isso que eu tô ouvindo? A menininha da casa tem nojo do pai homem que tem?

O Filho do Prefeito: Descobertas (Livro 02) - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora