Capítulo 1 - Bem-casados -

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- 1830 -

A cerimônia de casamento foi magnífica. Com mais de setecentos convidados e um jantar em celebração aos noivos que não perdia em nada para um evento no palácio real, o casamento do jovem marquês com lady Sophie, o sucesso da temporada, estampou as manchetes de todos os jornais em muitos, muitos quilômetros.

Durante os dois meses que se passaram desde que o casamento foi consumado, o marquês se encantou cada dia mais com sua linda esposa; passava as noites em sua cama, ao menos nas noites em que ela se mostrava disposta e receptiva aos seus avanços e quando estava cansada, ele se refugiava em sua biblioteca, onde passava horas lendo.

Os pais do marquês e lady Caroline não os viam com muita frequência, mas não pareciam fazer muita questão de mudar a situação, infelizmente, lady Sophie tinha gênio forte, algo que só foi descoberto após as bodas.

Apesar de tratá-lo bem e ser cortês com a família do marido, ela tinha o péssimo hábito de destratar e humilhar os criados por pequenas falhas; às vezes simplesmente por não estar no melhor de seus dias.

A amizade que o marquês esperava que se desenvolvesse entre ela e sua irmã, se provou algo impossível de acontecer; as duas eram como água e óleo e lady Caroline desaprovava claramente o comportamento da cunhada.

O marquês já tivera uma ou outra conversa com a esposa a esse respeito e sempre tentava compensar seu comportamento tratando muito bem cada empregado seu, ele acreditava que o verdadeiro problema era a intensidade que Sophie colocava em suas emoções, algo que as vezes o assustava, mas também o atraía muito.

Certa tarde, quando Mathew voltava de uma cavalgada, encontrou seu mordomo, consolando uma criada que chorava ajoelhada no chão, de pé diante deles estava Sophie, com uma expressão de tédio no belo rosto, enquanto enrolava um cacho do cabelo louro nos dedos.

— O que aconteceu aqui, Sophie?

— A menina, que até hoje desconhece a quantidade de leite que gosto no meu chá; agora fica aí chorando porque chamei sua atenção, pela décima vez esta semana, como se eu fosse uma vilã – e se dirigindo ao mordomo continuou - leve ela para a cozinha, não quero ver esse rosto manchado de choro.

Ela se virou e viu que Mathew a olhava com uma expressão séria.

— O que foi, meu bem? Vai ficar chateado comigo por causa de um problema doméstico? A menina precisava ouvir uma reprimenda.

— Ela estava chorando, Sophie. O que disse a ela?

Ela suspirou e respondeu

— Mathew, essa moça é muito dramática! Eu só disse, que já tinha falado com ela para não colocar tanto leite e ela já começou a chorar, como se eu tivesse a jurado de morte – e mudando para uma expressão mais branda, prosseguiu – eu não sou tão ruim assim, sou?

Ele sorriu ao reconhecer sua tentativa de abrandá-lo, que sempre funcionava.

— Não é querida, você é uma leoa selvagem e às vezes as leoas rugem alto demais, inclusive acho que deveríamos subir agora mesmo para que me mostre toda essa selvageria.
Mathew a abraçou por trás, mas logo percebeu que ela se esquivou.

— Hoje não meu lorde, estou muito indisposta, outro dia prometo compensá-lo.

Ele a viu subir as escadas, o vestido ondulando a cada passo que ela dava. Mathew expirou alto, seguindo também seu próprio caminho, para um banho quente e roupas limpas.

Hether, o mordomo que observava tudo da entrada, sentiu um grande pesar pelo patrão; ele o conhecia desde menino e o tinha em grande estima e por mais que não ousasse se intrometer em sua vida, nunca tivera tanta vontade como naquele momento.

O Ogro e a LoucaOnde histórias criam vida. Descubra agora