Nicole
Era sua primeira folga desde que começara a trabalhar, o primeiro dia em uma semana em que poderia ver os pais e saber como estavam. Nicole deveria estar exultante, mas não estava pois havia decidido que não iria vê-los.
O marquês tinha convidados em casa e com isso seus afazeres que já eram muitos, agora pareciam não ter fim.
Ela queria muito poder visitar sua família pois sempre se orgulhara de ser uma boa filha e não era correto deixá-los sem notícias suas ou ficar sem notícias deles.
Porém, devido aos últimos acontecimentos decidira que o melhor era ficar e se dedicar ao trabalho.
O patrão um tanto excêntrico decidira que não a demitiria, mas ainda assim dissera que ela estava em dívida com ele, o que de certa forma era verdade; que maneira melhor de pagar sua dívida do que trabalhando ainda mais?
Com a casa relativamente em ordem após o intensivo trabalho que ela havia feito para a chegada da família do marquês, ficava um pouco mais fácil apenas coordenar, mesmo que ela ainda precisasse preparar todas as refeições no dia-a-dia. Mas não naquele dia.
No dia que deveria ser sua folga ela dividiu as tarefas do dia entre as duas criadas e decidiu que trabalharia o dia todo em algo que fosse ao menos mais prazeroso do que lavar cortinas ou roupas, afinal de contas ela nem deveria estar ali.
Nicole se dirigiu a biblioteca. De longe o cômodo que ela mais desejava organizar, porém ainda não havia tido oportunidade.
A jovem abriu as enormes portas e sem disfarçar o fascínio se pôs a admirar as estantes altas e imponentes e a belíssima escada que levava para o último patamar delas.
Cada lombada trazia um título ainda mais instigante que a anterior e ela se perdeu em meio a tantas obras maravilhosas.
A jovem dama tinha uma relação de amor e adoração para com os livros. Relação esta que ela imaginava, jamais seria superada por qualquer tipo de afeto em sociedade.
Desde que era uma garotinha seu maior e mais frequente lazer era se perder em meio as histórias.
Ela tinha ótimas lembranças de sua mãe a ensinando e a conduzindo por este caminho, as duas sentavam-se sob a luz fraca do lampião e a mãe lhe contava as histórias mais belas e deliciosas, sempre lhe dizendo que aqueles que não desejam ser enganados devem ler, algo que Nicole também passou a crer.
Infelizmente não era fácil assim para todos, ela dera sorte pois a mãe aprendera a ler quando jovem, com uma lady a quem havia servido e pôde lhe transmitir o conhecimento, foi a leitura também que possibilitou a ascensão de Nicole de criada para governanta anos depois.
A maioria das crianças e jovens de sua classe social não tinha a mesma oportunidade, mesmo em meio a nobreza muitas mulheres não se importavam com livros e aprendiam apenas o básico para lerem suas correspondências.
Sua própria irmã não dominava bem as letras, a mãe adoecera e Nicole não estava mais em casa para ajudá-la e incentivá-la, mas um dia poderia mudar isso.
Ela sabia que era privilegiada, podia viajar para reinos distantes e se lançar nas mais emocionantes aventuras; ela vivia paixões arrebatadoras e encontrava o verdadeiro amor muitas vezes, mesmo que jamais o conhecesse em sua vida simples e real.
Apaixonada. Era assim que ela se sentia ao observar aquele cômodo imenso, jamais imaginara que podia haver uma biblioteca particular tão majestosa quanto esta; Nicole se recordou de seu primeiro encontro abominável com o marquês, ele devia mesmo gostar de livros.
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O Ogro e a Louca
RomanceAPENAS DEGUSTAÇÃO***. O livro ficou completo na plataforma até 09/03, quando foi retirado e publicado na Amazon em 11/03/2019. Amo vocês, beijinhos com sabor de palavras. ** O marquês de Wheston vive recluso e solitário em razão de acontecimentos e...