capítulo três

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Semanas passam como minutos quando você não está prestando atenção.A notícia de que as provas em breve seriam agendadas já estava correndo.As aulas eram aulas.Os professores continuam os mesmos.A escola continua a mesma.

Bella fez uma lista.De coisas que queria que acontecesse.Mas era cética e sabia que na verdade aquilo era uma baboseira.Mas ela amava baboseiras.

Por enquanto,a escola estava calma.Tudo estava calmo.A calmaria a que Bella estava acostumada.

- Não está acontecendo nada de muito interessante.As provas provavelmente serão agendadas logo logo,mas eu te passo a matéria depois - Bella disse a Mariana,pelo celular.A amiga estava doente e de cama fazia alguns dias,Bella nunca vira uma saúde tão frágil quanto a da amiga - E por ai?Como está o catarro?

Mariana riu com uma risada fanha.

- Estou bem...o catarro está de uma cor normal e eu espero que a morte chegue rápida e indolor.

Bella riu.

- O que você vai querer que eu diga no seu enterro?

- Aqui jaz Mariana... - ela pensou por um instante e depois deu uma risadinha - Aqui jaz Mariana a putanheira.Comeu,bebeu e fodeu sem ter dinheiro.

- A situação perfeita pra citar Bocage,não? - ela disse sorrindo.

- Falando sério,quando eu tiver melhor a gente vai ir pra praia.E ficar um final de semana inteirinho na areia e no sol.Estou há tanto tempo sem sair de casa e ver o sol que tô sentindo minha cor indo embora - ela reclamou,e logo depois deu um espirro.

- Sua pele é linda demais para uma gripe qualquer levar ela embora - Bella disse,e realmente era verdade.Mariana tinha a pele negra e não somente negra,Bella sempre pensava ver umas partes douradas como uma fina camada de veludo.Era invejável.E inexplicável.Talvez fosse só coisa da cabeça de Bella.

Ela era formada em paranóias.

Mari riu.

- Mas você topa? Irmos para a praia?

- Hmm - Bella hesitou - Talvez.

- Aah - Mari reclamou - Bella,você é chata!

- Você sabe que óculos de grau e praia não são uma boa combinação - ela disse e então olhou em volta,e percebeu que o pátio estava parcialmente vazio - Mari,o sinal bateu e eu tô aqui perdendo tempo com você - concluiu e riu.Mari a acompanhou.

- Vai pra aula,então,para ser uma pessoa descente.

- Não vou ser nunca - ela respondeu e depois de se despedirem,Bella levantou apressada e começou a caminhar em direção as salas.

E não deixou de se perguntar onde estava Miguel e porque ele não a alertou.Ele esteve meio distante o dia inteiro.

Andou sem pressa pelos corredores,sem muita vontade de ir para a aula. A ETC era muito gigante. Bella estudava lá desde o fundamental e ainda assim havia momentos em que se pegava olhando para o teto alto e bem planejado ou para os quadros de estilo Clássico nas paredes com as pinturas dos antigos diretores e os fundadores da escola.

Era assustadora a estrutura grandiosa da construção. Talvez por ser tão antiga ou por conter poucas janelas deixando o ambiente escuro. E Bella estaria mentido se dissesse que a pintura milimetricamente perfeita dos padres com a feição sempre mal humorada não fosse tenebrosa.

E não era terrivelmente cômico que um internato que fora criado e direcionado por padres nos anos 30 causasse calafrios nas pessoas? Bella parou mais uma vez no primeiro quadro,perto do corredor que teria que virar para ir para a sala de aula,e observou a pintura do fundador da escola. Em sua beca de padre e com um Terço gigante pendurado no pescoço caindo graciosamente sobre o peito e chegando a barriga protuberante. O fundo era vinho e o seu rosto marcado por sobrancelhas grossas e rugas profundas.

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