Novos sentimentos

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Aproximei-me do desgraçado como um leão prestes a atacar. Meus olhos brilhavam em fúria, mas o que mais lhe causou medo foi ver que eu falava de forma mansa, quase que como um sussurro. Morgana me olhava com os olhos espantados, mas eu não estava me preocupando com o que ela iria pensar naquele momento.
- Saia. Agora. Deixe-a em paz. Você não vai querer brincar comigo.
- E o que você vai fazer, babaca? - Ele se virou de frente para mim, mas eu sorri ao ver que sua voz falhava e o suor começava a escorrer pela sua testa. Eu não me considerava uma criatura assustadora, visto que eu já conheci vampiros bem mais cruéis e sem misericórdia alguma, porém eu sabia provocar medo quando eu bem quisesse.
- Você quer pagar para ver? - E dando um sorriso diabólico, mostrei-lhe lentamente minhas presas. Isso foi o bastante para ele sair gritando pela floresta, berrando ameaças e xingamentos contra mim, sem deixar de mencionar que acionaria a polícia. Eu ri baixo.
Lembrei-me rapidamente de Morgana. Ela havia presenciado tudo. De repente o desespero tomou conta de mim. O que ela faria agora? Agiria da mesma forma que seu agressor? Teria medo de mim pelo resto da vida? Contaria ao máximo de pessoas que pudesse? Eu jamais liguei para o que os outros pensassem a meu respeito, mas confesso que me preocupei muito com o que ela pensaria de mim, especialmente. Eu voltei ao meu estado "normal", mas ela continuava me encarando de forma assustada e com a boca semi aberta. Aproximei-me dela lentamente, com as mãos estendidas e implorando:
- Morgana.... Eu .... Por favor.... Eu juro que não vou lhe machucar... Me deixe explicar ... Eu só....
- Então é verdade.... Vampiros existem.... - Ela sussurrou para si e foi se afastando de mim lentamente. Eu ouvia seu coração batendo como louco porém seus olhos emitam um brilho estranho, em uma fusão de medo e excitação.
- Morgana, não fuja por favor. Eu só estava tentando ajudar.... Não sabe a raiva que senti ao ver que você poderia ter sido...
- Quem é você? - Ela me interrompeu, com o tom de sua voz um pouco mais alto.
- Meu nome é Louis. Louis de Pointe Du Lac. Esse é meu nome completo. Por favor, eu jamais fiz mal a ninguém.... Eu não ataco o humanos.
- E como eu posso ter certeza que você não usou nenhum tipo de poder para me atrair enquanto caminhavámos na noite passada?
- Poder? Eu não usei poder algum em você. Você... Você se sentiu atraída por mim?
Ela parou de se afastar e fitou seus pés. Parecia escolher as palavras que iria me dizer. Eu comecei a ficar ansioso.
- Sim, desde que a gente se separou ontem à noite eu... Eu não deixei de pensar em você. Confesso que eu pretendia voltar àquela casa amanhã durante a noite para.... Vê-la outra vez. -
E chegando um pouco mais perto de mim, ela me fitou com seus olhos brilhantes: - Eu já li em vários livros que existem vampiros que sentem amor pela humanidade. Que só se alimentam de animais porque não gostam de ferir as pessoas. Você é assim?
- Sim. Eu sou. Não pense que eu gosto de ser um vampiro. Eu já contei toda a minha história a um humano, um repórter. Ele gravou toda minha odisséia em fitas cassetes, a 24 anos atrás. Você nunca a escutou? Ele a entregou para uma emissora de rádio.
Ela virou-se para o fogo, olhando as chamas dançarem e consumirem a lenha, numa espécie de dança hipnótica. Estendeu suas pequenas mãos para esquentá-las e depois virou-se para mim.
- Sim, já ouvi na internet a um tempo atrás. No começo achava que fosse mais uma dessas lendas urbanas que estão na moda ultimamente. Mas confesso que esses assuntos sempre me intrigaram e após tudo o que eu já li e o que acabei de ver.... Eu acredito na sua história. Não tem como não acreditar.
Me aproximei dela e ficamos com nossos rostos a centímetros de espaço um do outro. Senti um desejo quase insuportável de lhe acariciar o rosto e estendi minha mão para fazê-lo. Ela permitiu.
- Não usei e nunca vou usar meus poderes em você. Não a manipulei para que sentisse algo por mim. Mas eu não sei o que você fez comigo.
- Do que está falando? -Ela sussurrou, e pude ver que sua pele se arrepiava ao meu contato gelado.
- Faz mais de um século que eu não sentia nada por alguém pois sempre vivi sozinho... Até agora. Eu não consigo deixar de pensar em você. Sei que pode parecer cedo mas... Você não sai dos meus pensamentos.
Ela fechou os olhos, parecendo saborear o momento e eu comecei a sentir a excitação pulsando em minhas veias. Após abri-los, ela colocou suas duas mãos quentes em meu rosto e colocou seus lábios avermelhados nos meus. Tive a impressão de sentir um calor dentro de mim que eu me esquecera de como era a sensação. Coloquei delicadamente minhas mãos em sua cintura e pude sentir com satisfação ela envolver meu pescoço com seus braços. Nossas bocas procuravam desesperadamente uma à outra, já que ambos éramos como algo novo e exótico, que anseávamos experimentar.
Sua língua possuía uma sincronia perfeita à minha, numa verdadeira dança harmoniosa. Eu acariciava suas costas e seu corpo respondia ao prazer que estava sendo lhe proporcionado, fazendo com que ela jogasse sua cabeça para trás, dando um fraco gemido.
O pescoço humano não me causava mais a loucura da vontade de experimentar seu sangue que eu sentia em meus primeiros dias como vampiro, não apenas por que eu já havia me alimentado. Pelo contrário, eu o beijava como se fosse um humano qualquer, o humano que eu era quando sentia o doce prazer de estar com uma mulher. Quanto mais o seu corpo respondia às minhas carícias, mas louco eu ficava em lhe proporcionar prazer. Era um momento em que nós dois não raciocinávamos, onde a vontade de satisfazer a carne era maior.
Ela afastou-se de mim, com a respiração ofegante, mas com seu rosto ainda bem próximo do meu. Ambos sorríamos um para o outro.
- Não sabia que os vampiros vegetarianos tinham um beijo de tirar o fôlego.
- Eu quero esse beijo todos os dias, fazia tempos em que eu não me sentia tão bem.
Ela encostou sua testa na minha e sussurrou em meu ouvido:
- Você tem telefone?
Sorri ao saber que ela desejava ter contato comigo a longa distância e tirei um pequeno pedaço de papel do meu bolso e uma caneta. Usando seu ombro como apoio, escrevi- lhe rapidamente meu número e coloquei no bolso do seu casaco.
- Aí está. Pode me chamar a hora que quiser. Quando quiser conversar, eu estarei disposto a te ouvir. Quando quiser me encontrar, eu irei e quando estiver em perigo, eu vou te proteger.
Acariciei seu rosto pela última vez e olhei para o céu. Pela posição da Lua cheia e das estrelas, a noite já estava avançada. Era melhor irmos embora antes que presenças indesejadas viessem colocá-la em apuros.
- É melhor irmos embora. Vou levá-la em casa. Suba em minhas costas.
Ela obedeceu e me surpreendi ao ver como ela era leve, apesar de ter curvas definidas e atraentes. Ela colocou sua mochila nas costas e após pedir que se segurasse firme, corri em alta velocidade e em segundos já estávamos em frente ao orfanato em que morava, na rua Beker.
- Se quiser me visitar, minha janela é a terceira, quarto andar.- Ela sorriu timidamente, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e após me dizer boa noite, entrou, deixando-me sozinho com meus sentimentos e ainda sentindo o sabor de seus lábios em minha boca.



Pesadelo e Luxúria - Mais crônicas vampirescasOnde histórias criam vida. Descubra agora