No Surprises

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Você parece tão cansado e infeliz,

Bote abaixo o governo,Eles não, eles não falam por nós,Eu vou levar uma vida tranquila,Um aperto de mão de monóxido de carbono.

Sem alarmes e sem surpresas,

Sem alarmes e sem surpresas,Sem alarmes e sem surpresas.Silencioso, silêncio...

(No Surprises - Regina Spektor)

Alguns dias haviam se passado desde que retornamos da Capital. Peeta tem sido muito bom pra mim. Agora que moramos sob o mesmo teto não está sendo tão complicado como pensei que seria. Constrangedor? Claro que é, pois depois de tanto fingirmos para as câmeras, os amantes desafortunados do Distrito 12, depois de todos os beijos que trocamos retornamos a vida "normal". Ele fez a gentileza de preparar a suíte principal da casa para mim, mas suas roupas ainda continuam guardadas no closet de onde durmo. Fizemos assim para caso alguém da Capital venha ver se estamos "bem".

Apesar de ser um pouco constrangedor, conviver com Peeta é algo muito fácil. Ele é sempre gentil e nunca invade meu espaço, pelo contrário, costuma sempre me dar espaço. Ainda assim, em alguns momentos conseguimos manter um diálogo saudável, variado e mesmo quando não falamos sobre nada, o silêncio não chega ser algo incomodo. Se fosse sincera comigo mesma, sem as câmeras por perto, tem sido um tempo de paz e tranquilidade muito bem-vinda, depois de tanto fingir estar apaixonada para o público. Mas essa calmaria temporária, como previsto, acabou na manhã quando equipes da Capital chegaram ao distrito.

Havia tentado ao máximo não pensar na colheita, mas não tínhamos escapatória. Ironicamente até o dia amanheceu cinzento e embora não tenha saído de casa ainda sabia que todos no distrito estavam angustiados de alguma forma.

Este ano nós seríamos os mentores do casal que participaria da 75º Edição dos Jogos Vorazes e isso não me animava nem um pouco, pelo contrário, já conseguia sentir o peso da responsabilidade de duas vidas. Sem contar que seria no mínimo estranho, já que Haymitch não estaria nos acompanhando – algo sobre férias merecidas – foi o que nos disse. Segundo ele, teria uma reunião entre os mentores – uma espécie de reconhecimento – claro que, a maioria já se conhecia, mas Peeta e eu estaríamos completamente perdidos.

— Katniss, cheguei! – Venho tentando me acostumar com o frio na barriga, ao escutar esta frase quase que todos os dias, mas não é simples assim, já que minha mente voltava na lembrança de meu pai chegando de mais um dia de trabalho e fazendo essa mesma saudação, antes de beijar carinhosamente minha mãe.

— Estou no quarto! – falo alto para saber que, estou na parte superior da casa. Escuto passos na escada e logo sua voz atrás da porta entreaberta.

— Posso entrar? – pergunta com leves batidas.

— Claro, já terminei de me arrumar. – Levanto da banqueta frente à penteadeira e dou uma leve desamassada no vestido de estampa leve puxado para a cor pêssego. Cinna o fez antes de retornarmos da Capital.

— Uau! Você está linda. – Ele sorri ao me elogiar, mas ao ver que não faço o mesmo, muda sua postura. — Quero dizer que, apesar de tudo você continua belíssima e...

— Tudo bem, Peeta. – Tento entender que apesar da atual situação, o que diz é real. — Separei a roupa que Portia, preparou para você e pedi para Mary passar antes de ir embora – aponto para a cama, onde seu look completo está esticado, intacto e sem nenhum amassado.

Preço do amanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora