Quero Um Amor

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Quero um amor.

É complexo explicar sobre qual amor eu quero. Conheci o mais autêntico jeito de amar há poucos meses, e esse sim eu amo sem medo. Nem preciso que seja recíproco, é verdadeiro e apenas isso. É o tal amor próprio. O melhor que existe.

Mas, me pus a pensar por esses dias... Quero um amor incerto. Um amor o qual eu não seja a receptora e doadora ao mesmo tempo. Quero um amor desajeitado, que discuta sobre qual música colocar no jantar da quarta feira, mesmo que não seja comum ouvirmos música. Quero um amor daqueles que não tenha joguinhos, ah, como detesto esses joguinhos. Quero um que me contrarie, mesmo que eu esteja certa, é sempre bom olhar por outro lado.

Quero um amor que me faça querer viver, que me veja num dia triste e me permita chorar em seu ombro, e que ouça meus dramas, depois me recomende uma música totalmente estranha e me faça rir. Quero um amor simples, porque já sou complicada o suficiente sozinha. Quero que não desista de mim nem nos meus piores dias, e que ajude em meus devaneios de domingos sobre reflexões aleatórias. Que se disponha a ouvir minha opinião inteira, mesmo que a princípio não concorde dela. Que assista Terráqueos e vire vegano, porque contra isso não há argumentos.

Não quero um amor que acabe o meu sofrer. Quero um amor que não me faça sofrer, que não vire um amor anterior, e que não tape buracos de amores antigos — esses, só o próprio pode curar — peço com carinho para que apenas não cave outro. Quero um amor que me queira, que sinta como eu sinto, e aceito como for, e peço que me aceite. Não grites amor, esse se diz devagarinho, como um abraço no coração que consiste em apenas um sussurro das três palavras clichês. Nem precisa dizer, na verdade. Os olhos dizem mais que os lábios — os lábios mentem, os olhos não.

Quero entrelaçar meus dedos nos dedos de meu amor. Recitar uma poesia qualquer e não ser trocada por um celular. Quero ajudar no jeitinho manso, de acalmar a alma, quero o sentimento de casa que a gente acha só num abraço. Quero chorar sem pudor na frente de meu amor. Quero rir sem cobrir a boca. Quero comprar um jornal e ler em voz alta as crônicas da última página num domingo de manhã. Quero um amor livre, mas que escolha ficar.

E, quando a noite chegar, quero uma história. Não importa de quando seja. Pode ser de ontem, de hoje, da infância ou sobre planos de uma história ainda não escrita. Quero saber dos sonhos mais loucos, provocar os sorrisos mais bobos e saber dos sentimentos mais tolos. Quero mapear as constelações dos teus sinais, rir de tuas contradições e dar um beijo de leve antes de adormecer de vez. Quero te desejar boa noite e dormir ao teu lado, sonhar contigo, e, quando acordar, ajudar a carregar teu fardo.

Quero ficar velhinha. Sentar na varanda e ainda tentar um clichê. Vou comprar agulha e linha de tricô e tentar tricotar uma meia, e vai resultar num tapete assimétrico. Vou balançar na rede ao teu lado num dia de chuva, lembrar dos dias que foram vividos, esquecer dos dias sofridos e contar-te uma piada que sabes do fim, e mesmo assim rir. Quero sentir a incerteza inicial. Mesmo não me chamando Teresa, espero que enxergue como Manuel, e que enfim veja que minha face irá misturar-se com os céus. E assim não verá mais nada. Fim.

Fim da vida? Não, apenas o início dela.

Fim do tal sem sentido que era antes. Que sou agora.

E, sabe porque quero tantas coisas? Porque ele teria o mesmo em troca.

EtceteraOnde histórias criam vida. Descubra agora