UM SONHO DE VERÃO

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ATO I
Lagoonya

Um Sonho de Verão

Em uma cabana na cidade praiana de Heaton, vivia a tradicional família Wishes. Christopher Wishes, o chefe da família, era bastante respeitado pelas suas obras durante seu mandato como prefeito, afinal, foi ele quem construiu toda a vila de Sunnyshore ao redor da praia. Após ter sido vencido seu tempo como governante da cidade, passou a trabalhar em diversas obras sociais, sempre com ajuda de sua amada esposa, Linda Wishes, com quem se casou logo após ter atingido a maioridade. O amor entre os dois era intenso, apesar de o casamento ter ocorrido por imposição familiar, como dizem. Juntos, lutaram e construíram sua estabilidade, apesar de precoce, mas com responsabilidade.
    A família Wishes tinha um poder aquisitivo inexaurível. Preferiam viver na cabana, apesar de já possuírem uma outra casa (nos padrões de Heaton, embora vocês certamente chamariam de mansão se tivessem a oportunidade de ver). Apesar da beleza e hospitalidade da cidade (apesar de ricos, eram enormemente humildes), infelizmente nos últimos anos tem sido invadida por curiosos saqueadores: não ladrões comuns, mas pareciam estar atrás de alguns objetos específicos. Por jamais terem a intenção de matar ou machucar alguém, nunca foram alvo principal da polícia da cidade, de modo que apenas alguns guardas eram selecionados para focar na localização e detenção desses saqueadores.
    Preocupados com a situação, o sistema de segurança das casas da família Wishes foi reforçado, com cercas elétricas e monitoramento via satélite, para garantir conforto e segurança para a jovem menina Christine, a filha do casal, que acabara de nascer. A menina tinha a pele macia, branca como a neve, e seus olhos azuis cintilavam como safira mesmo na penumbra, ou a uma fraca luz de velas. Tinha a pele fria, mas confortável, e um calor era emanado quando um de seus pais a abraçavam.  Sorriu ao nascer, conferindo a alegria de estar no mundo, e na família em que teve a oportunidade de se integrar. Sempre que olhavam nos olhos da pequena Christine, os olhos do casal brilhavam, e seus corações se enchiam de alegria, como se já sentissem que a criança tivesse vindo para algo fantástico.
    - Sinto uma magia nos olhos dela. Tenho certeza de que será algo fantástico em nossas vidas – disse Christopher.
    - Sem dúvida alguma. Ela terá um papel maravilhoso em todo o mundo, seja ela quem for. Christine Wishes, a donzela dos olhos de Safira – alegrou-se Linda. Eles estavam certos, embora tenham esquecido essas palavras durante toda a infância e juventude da menina.

Numa confortável noite de verão, por volta da segunda hora após a meia noite, a família acordou de súbito. A pequena senhorita Wishes, de 8 meses de idade, estava chorando, e Melanie, a cachorra da família, latia desenfreadamente do lado de fora. Não era costume do animal, o que fez com que Christopher e Linda suspeitassem que algo estranho estava acontecendo. O chefe da família se levantou e foi até o quintal, com sua costumeira lanterna e seu tradicional facão (esses artefatos tinham sido herdados de seu avô, o velho Tom Wishes, que era fazendeiro na época em que a cidade tinha aspecto rural), e se deparou com algo que não esperava: uma equipe de quatro saqueadores estavam invadindo a casa, e Melanie estava presa em sua casinha por correntes e cadeados, trazidos pelos próprios saqueadores. Ao ver a cena, acendeu e apagou as luzes três vezes, como era de costume da família sinalizar a mensagem “ligue para a polícia”, e foi isso que Linda fez imediatamente.
    Algo estava estranho naquele assalto. Apesar de portarem armas, os saqueadores não pediram ou exigiram quaisquer dos diversos objetos valiosos que havia na casa. Pareciam estar atrás de algo, ou alguém, mas eles simplesmente não diziam uma palavra, apenas apontando as armas para Christopher, sinalizando a mensagem “deixe-nos passar”. Foram diretamente para o quarto de Christine, que ficava logo ao lado do quarto do casal.
    Quando a equipe de guardas chegou, era tarde demais. O casal estava em prantos, pois a pequena Christine não mais chorava em seu berço, nem daria qualquer sorriso na manhã que chegaria: eles a tinham levado. Apesar do atraso dos guardas, eles prometeram que fariam ronda na cidade para encontrar os saqueadores e devolver a pequena aos braços da família.
    - Jamais a encontraremos novamente – chorava o pai. Linda o abraçava e soluçava de dor e angústia, pois haviam se habituado a ver aquele sorriso pela manhã, e olhar aquelas belas joias entalhadas no pequeno rosto, refletindo a luz do Sol. Aliás, luz alguma teria qualquer sentido ou traria qualquer alegria à vida do casal.
    De súbito, a chama de uma esperança grandiosa brilhou no coração de Linda, pois ao se dirigir ao berço da menina, viu que os saqueadores haviam deixado cair uma pequena pedra polida e brilhante. Tratava-se de um cristal, leve como pena, mas rijo e resistente, e de dentro um brilho forte emanava. Certamente tratava-se de um objeto valioso, e Linda julgou que eles haviam deixado cair por engano, e que eles com certeza voltariam para buscar, pois parecia ser de muito valor, embora não tivessem a menor ideia, mesmo com todo o conhecimento da família sobre pedras preciosas, de que material ela havia sido feita.
    No mesmo momento, ligaram para o general Brock, que foi amigo de infância de Christopher, e sempre esteve ao lado da família em todas as horas difíceis. Prontamente, o general chegou à residência dos Wishes, junto com três de seus melhores homens no ofício da investigação. Brock decidiu ficar na casa, aguardando o provável retorno dos saqueadores, e os três companheiros saíram para uma ronda mais reforçada.
    O dia amanheceu cinzento naquele dia, e uma chuva cristalina caia, sem cor e sem vida, como se a cidade também chorasse com o desaparecimento da pequena garota.

Safira - Quando a Magia e a Morte se UnemOnde histórias criam vida. Descubra agora