O RENASCIMENTO

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A caminho de casa, a família passou novamente pelo posto no qual encontraram Athos, e Christine sugeriu que parassem.
    - Vamos dar uma parada no posto, apenas para ver como Athos está – disse ela – ele não foi de grande ajuda pra nós, mas é uma boa pessoa. Gostaria de vê-lo, pelo menos uma última vez.
    Christopher concordou com desaprovação, mas desejava realizar o último desejo da filha nessa viagem, depois do que ela sofreu. A estudante pediu que os pais ficassem no carro, e com isso eles concordaram com máxima aprovação, pois não queriam ficar presos mais um dia inteiro ouvindo histórias de um velho maluco, como diziam eles.
    Chegando lá, Christine se deparou com o velho homem deitado no chão, mais maltrapilho do que de costume, aparentando estar cansado e machucado. Mas nenhum ferimento foi visto.
    - O que aconteceu com você? – preocupou-se a jovem – Quem fez isso com você? Venha comigo, vamos ajuda-lo!
    - Não! – disse Athos com firmeza – Meus dias estão acabados, quero morrer aqui, onde afoguei as mais sinceras lágrimas da minha vida! Por favor, me deixe!
    Christine começou a derramar algumas lágrimas. Conhecia pouco o velho homem, mas tinha por ele uma afeição tremenda, seja por seu jeito de ser, ou pelas coisas que contou sobre a ciência. Athos tomou-lhe a mão, dizendo:
    - Ben e seus amigos, cuidado com ele. Vive sempre de cidade em cidade, matando e destruindo a humanidade em nome da ciência! – advertiu ele – Lembre-se, jovem olhos de safira, um verdadeiro cientista trabalha em prol da humanidade, e não contra ela, da mesma forma que devemos estudar a vida a fim de descobrir novas maneiras de beneficiá-la, sem prejudica-la voluntariamente. Pessoas não devem sofrer, não devem chorar, não devem se prejudicar em prol de nenhuma pesquisa, nenhum experimento. Ben se lembrará disso antes do fim. – dessa forma, ele fechou os olhos e nunca mais chegou a respirar neste mundo.
    Apavorada, Christine voltou ao carro com lágrimas nos olhos, ainda com as últimas palavras de Athos em sua mente. Não respondeu às perguntas de seus pais sobre o motivo das lágrimas.
    Estou apenas emocionada por ter visto o velho Athos novamente – disse ela. Seguiram então pela estrada, e depois de alguns minutos de boa conversa, chegaram em casa.

    Os dias que se seguiram foram alegres e divertidos, e Christine cada vez mais ansiosa pelo início das aulas da faculdade. Na véspera desse tão esperado dia, a família deu uma nova festa, para a qual convidaram todos os amigos de Christine. Apenas um lugar na grande mesa do salão de festas estava desocupado: o lugar que Ben ocuparia.
    - Tentei ligar para Ben para convidá-lo à festa, mas não tive resposta – disse Linda – onde poderia ele estar essas horas, filha?
    - Eu não sei, mãe. Não o vejo desde que viajamos – respondeu Christine, com expressão desajeitada. Ela não sabia mentir, sequer omitir algo de seus pais. Mas dessa vez teve que segurar, pois teria que contar tudo o que aconteceu.
    A família então se reuniu, e o lugar de Ben continuou vago, como se todos esperassem por uma chegada repentina do suposto noivo de Christine. O jantar ocorreu alegremente, até que a boa conversa que acontecia foi interrompida por um estranho soar na campainha da casa. Era por volta das onze horas da noite, e não era usual a visita de carteiros naquela cidade. Tratando-se da família Wishes, não era habitual nenhum tipo de visita.
    - Viram só? – disse Linda com um sorriso no rosto – eu sabia que Ben, de alguma forma, ficaria sabendo do jantar. Vá, filha, abra a porta para seu noivo. Ainda há comida suficiente para que ele coma e repita!
    - Tudo bem – respondeu ela, e se levantou em direção à porta, ainda mais incomodada do que já estava. Linda pôde perceber no rosto da filha que não ficara muito contente com a sugestão de abrir a porta. Conhecia a filha, e sabia que alguma coisa de errado estava acontecendo, pois a menina não expressava a mesma felicidade de antes quando Ben era citado em alguma conversa. De momento, conteve a curiosidade e agiu naturalmente, como que tentando convencer a si mesma de que tivera apenas uma impressão.

    Christine atendeu o portão, e deparou-se com um homem estranhamente elegante. Tinha as mesmas vestimentas, ou bastante semelhantes às que Ben e seus rapazes vestiam no dia do atentado. Contudo, não passava qualquer tipo de ameaça.
    - Como posso ajuda-lo? – disse Christine, com cautela.
    - Escute, querida – começou o homem – existem pessoas atrás de você aqui nessa cidade. Pessoas ruins, que mataram o velho Athos e agora querem sua cabeça. O motivo eu não sei, mas eles dizem que vocês pertencem a uma curiosa linhagem. Estamos cuidando de você esta noite, mas não sei por quanto tempo estará segura – advertiu ele.
    - Cuidando de mim? Mas quem são vocês? – perguntou Christine, apavorada. Mas o homem deu as costas e se foi, correndo, desaparecendo em meio à noite. – Isso está cada vez mais estranho – disse ela, entendendo menos ainda o que estava lhe acontecendo. No entanto, deixou de lado, tentando convencer a si mesma de que tudo não passava de uma grande bobagem, provavelmente armada por algum amigo ou amiga, para deixar-lhe preparada para o curso da faculdade. Pelo menos foi disto que tentou convencer a si mesma.
    Christine voltou à mesa de jantar com uma expressão mais confusa que a que tinha quando saiu, mas Linda não disse nada até aquele momento.

Safira - Quando a Magia e a Morte se UnemOnde histórias criam vida. Descubra agora