Prólogo

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Prólogo

Matheus Narrando

Eu tava sozinho no meu canto de novo. Os meninos daqui não gostavam de mim, e eu nem sei por que. Na verdade, não sei de muita coisa da minha vida. Sei que minha mãe morreu quando eu nasci, e meu pai não faço a mínima ideia de quem seja ou porque me deixou.
As tias daqui só me contam que a minha mãe deu a vida por mim, e por causa do parto complicado, eu fiquei com sequelas e ela faleceu. Talvez seja por isso que todo mundo aqui zoa comigo.
Mas eu não tenho culpa do que aconteceu. Eu vivo tomando remédios, carrego uma bombinha pra cima e pra baixo, mas ainda levo a culpa de tudo de mal que acontece comigo. E ainda tem essa cicatriz na minha barriga, que é outra coisa que eu não faço a mínima ideia de como consegui.
Eu fui só um garoto magro, fácil de bater. Vivi assim até meus 5 anos. No dia do meu aniversário de 5 anos, tudo mudou.

Ela chegou: Alicia, a linda garotinha dos cabelos cor de cobre.

Lembro perfeitamente daqueles olhos assustados. Ela não queria estar ali. Se sentia deslocada. Depois nós soubemos que ela perdeu os pais, porém naquele momento, ela estava confusa. Mas ela não tinha culpa. Assim como eu, ela não era culpada de nada. E, quando ela me olhou nos olhos, eu senti e sei que ela sentiu também, que iriamos nos dar bem, porque assim como eu, ela me olhou e enxergou mais do que o garoto raquítico, assim como eu enxerguei mais que uma a garota assustada. Parece que vimos a alma do outro.

O tempo passou, e ela não tinha nada de frágil. Ao contrário, o frágil era eu. Ela me defendia dos moleques. Tá certo, que nem sempre adiantava, mas ela estava lá por mim e sempre estaria. Pelo menos foi isso que eu achei. Lembro bem de uma vez, o André, metido a valentão do orfanato, aproveitou que eu estava sozinho no quarto. Todos os outros estavam no pátio brincando, e eu tinha esquecido um desenho que tinha feito pra Alicia.

André: Olha só o magrelo, acho que tá apaixonado - ele falou rindo - Vejam só que ridículo esse desenho.

Matheus: Me devolve isso agora.

Ele tomou o desenho com força, eu juro que tentei pegar de volta, mas os outros dois me seguraram. O problema era só que eu não podia ficar nervoso. Ficava com muita falta de ar. 

Dito e feito!

Eu tentava puxar o fôlego, e ele não vinha. Os dois continuavam a me segurar, e eu só queria minha bombinha.
Mas ela me salvou de novo. Nesse dia, achei o alaranjado do seu cabelo ainda mais lindo, porque o vulto colorido passou bem na minha frente. Ela empurrou eles, gritando alto pra me soltarem. Com medo das tias, eles correram.
Ela muito depressa pegou minha bombinha.

Alicia: Respira devagar vai. Com calma, eles já foram.

Matheus: Obrigado de novo Lice. Eu que deveria proteger você.

Alicia: Não precisa me agradecer Theus. Eu sempre vou te ajudar. E pensando bem, quem sabe quando você crescer, fique um homem forte. Aí vai ser você que vai me proteger - ela riu e, o riso dela era tão contagiante.

Matheus: Duvido muito. Olha pra mim. Não consigo nem respirar direito. Não posso te defender.

Alicia: Theus, um dia, quando nós tivermos grandes, tenho certeza que vc não vai mais sentir isso. Mas se mesmo assim, um dia você sentir que não consegue respirar, lembre-se da minha voz. Eu sempre vou estar aqui pra você Theus, nós vamos enfrentar tudo juntos. Um cuidando do outro.

Matheus: Olha, ele amassou o desenho todo, mas eu fiz pra vc. Somos nós dois, longe daqui.

Alicia: Eu vou guardar o desenho, um dia vamos ser igual, você vai ver. Obrigada, ficou lindo. Agora vamos brincar, eu e você.

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