Capítulo 9 - Perseguida

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Dois meses se passaram. Dois meses de namoro com o Simón. Dois meses de pura fofura e romantismo. Dois meses com uma tia sorridente e triunfante. Dois meses e minha avó achando que eu estava bem. Dois meses com as pessoas achando que eu enfim seguira em frente. Dois meses e todos errando.


Seis meses se passaram. Seis meses que meus pais e meu irmão faleceram. Seis meses sem o sorriso terno da minha mãe. Seis meses sem o doce beijo do meu pai na minha bochecha todas as manhãs. Seis meses sem as piadinhas sarcásticas e trocadilhos do meu irmão. Seis meses e todos achando que um dia, eu ficaria bem. Seis meses e todos errando.

Aquilo era tedioso, era mais que tedioso. Mesmo eu estando com o Simón. Quer dizer, que filme terrível para se comemorar um aniversário de dois meses de namoro. Terrível mesmo! Com tantos lugares legais para ir numa data especial, porque a gente tinha que vir logo no único cinema da cidade. O melhor filme do mundo se tornaria um saco com essa qualidade de imagem péssima e esse som tenebroso. Eu não fazia idéia do nome do filme e nem queria fazer, de maneira alguma! Eu queria mesmo é dar o fora dali.

Simón parecia achar o filme tão bom quanto eu, porque ele cochilava tranquilo com a cabeça apoiada no encosto do banco. Era tortura ele me largar vendo aquilo enquanto dormia sossegado.

Não resistindo aquele desaforo, dei um tapa bem dado no braço dele. Algumas pessoas olharam para trás curiosas, mas a minha carranca de raiva era tanta que elas logo foram cuidar de suas vidas. Simón levantou num pulo, mas nem falou nada, mesmo assim pude ouvir risinhos atrás de mim, que fiz questão de ignorar.

Ele olhou meu rosto e se assustou. Que bom, fico feliz em saber que meu rosto está como deveria estar. Eu o fuzilei com os olhos, e falei baixinho:

- Então é assim? Você dorme e me deixa assistindo essa merda de filme? – por um segundo, eu achei que iria esganar ele, no outro tinha certeza, então me contive. Ele se ajeitou na poltrona.

- Desculpa, é que esse filme é tão...

- Tedioso? – fui sarcástica – Eu que o diga! Espero que ele ganhe o Oscar de filme para ninar!

Minha careta aumentou quando alguém fez um “Shiu” para mim.

- Quer sair daqui? – falou tão baixo que eu quase tive que ler seus lábios para entender.

- O que você acha? – Usei o mesmo tom de voz que ele.

Segundos depois estávamos, felizmente, do lado de fora do cinema, marchando de mãos dadas a caminho da minha casa.

- Desculpe! Se eu soubesse que o filme era assim tão chato...! – ele realmente parecia querer se desculpar.

- Tudo bem! – fui sincera – Eu que fui mal educada! É que hoje não está sendo meu dia, entende? Primeiro eu vou para fora na aula de Matemática e levo advertência, depois eu descubro que minha avó perdeu o ônibus... Foi demais para uma pessoa só.

A minha avó viria enfim me visitar e ficar para as férias de julho. Eu fizera tanta propaganda dessa vinda dela que até o Matteo sabia o dia e hora que ela chegaria. É que eu não a via há tanto tempo e revê-la seria ter de volta uma parte normal da minha antiga vida! Sem contar a saudade que sentia dela! Eu precisava ver minha avó com certa urgência. Só que ela me fizera o favor de perder o ônibus.

Vovó não gosta de dirigir, diz que não tem mais visão para isso. Então sempre que quer viajar para algum lugar, tem que ir ou de avião ou de ônibus e já que Villa RollerJam fica a apenas 4 horas de Mendonza...

E sobre a aula de Matemática... Bom, a única coisa que eu tenho a declarar é que pedaços de papéis e Simón estão envolvidos. O que mais é necessário dizer?

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