CINCO ANOS DEPOIS...
FECHEI A PORTA DO QUARTO COM DIFICULDADE. Fazia frio naquela parte da casa graças as duas grandes janelas em cada ponta do corredor. Segurando cinco latas de cerveja nas mãos, virei-me a fim de ir em direção à festa.
- O que está fazendo no quarto do Danny? - Um garoto de cabelos cacheados tocou em meu ombro e perguntou. Eu mal podia me manter em pé. Depois de misturar tantas bebibas, era difícil manter o equilíbrio. Sem conseguir raciocinar, tentei esconder as latinhas dentro da jaqueta, inutilmente.
- Estava vendo a decoração do quarto dele. - Respondi, rindo e encarando o corredor comprido. Ainda tentando manter as latas fora de sua vista e deficiente de qualquer coordenação motora naquele momento, deixei duas das cinco latinhas de cerveja caírem no chão.
- Olha o que temos aqui. - Falou, finalmente soltando meu braço e indo em direção ao objeto caído. Pegou-o, para logo em seguida abrir e beber metade de seu conteúdo.
- Chris, o que pensa que está fazendo? - Disse, enquanto tentava tirar a lata de sua mão.
- Terminando com isso daqui, porque é óbvio que eu não vou deixar você beber mais nada. - Respondeu rindo. Impaciente, mais uma vez tentei pegar a lata de volta. Tinha que voltar para a festa logo. Ele continuou me olhando, com uma das sobrancelhas levantadas e aquele sorriso idiota na cara.
- Por que tanto interesse no que estou fazendo? - Peguei a segunda latinha caída no chão e segui pelo corredor que parecia se encher de pessoas. Sentia a presença de Chris atrás de mim.
- Achei que o quarto do Danny estava fora dos limites da festa. E eu vi você lutando com a porta. Aliás, tem certeza que não precisa de ajuda para andar? - Seus olhos se direcionaram para minhas pernas, que se moviam com dificuldade. Não fico irritada com a pergunta, sei que estou bêbada. Mais cedo naquele dia, quando foi nos visitar na academia, Danny entrou pulando pela sala de treinamento enquanto cantarolava, desafinadamente, algo sobre a festa de hoje.
- Acho que posso me virar sozinha. Você está pretendo me pagar aquela cerveja de volta? - O volume da música aumentava a medida que íamos chegando mais perto do jardim, onde a festa acontecia.
- Não acredito que vai me cobrar uma única cerveja. E nem foi você quem comprou. - Era verdade. Os garotos mais velhos da classe, usando identidades falsas, passaram no mercado e compraram todo tipo de bebiba alcoolica que existia naquele lugar.
- Não importa. Espero ver o dinheiro na minha mão amanhã, Turner. - Pisquei para ele e sai andando em sua frente, sem esperá-lo.
Alguma música eletrônica terminava de tocar assim que cheguei ao jardim. O som estava tão alto que quase não conseguia ouvir as pessoas ao meu lado. Procurei por Chris atrás de mim. Entretanto, não fiquei surpresa ao ver que ele não se encontrava mais ali.
- Alicia! - viro-me em direção ao pequeno bar improvisado. Danny está lá servindo de bartender, ele é o único que consegue fazer aqueles drinks corretamente. - Trouxe as cervejas? - coloco, então, as quatro latinhas que sobraram em cima do balcão sujo e sorrio pra ele.
- Você viu o Chris por aí? Ele estava comigo agora mesmo. - perguntei, correndo os olhos mais uma vez pelo local.
- Se está se referindo ao seu amigo alto e gostoso, acho que ele está bem ali. - falou, enquanto jogava uma quantidade considerável de vodca dentro do próprio copo. Olhei pra os lados apenas para ver Chris se agarrando com alguma garota morena, que era tão alta quanto ele.
- Parece que está todo mundo se arranjando, né? O que me diz, Danny? Quer se arranjar comigo? - brinquei. Deus, como eu estava precisando me divertir. - A proposito, ótimo papel de parede o que você tem no seu quarto. - Danny se engasga após ouvir minha declaração.
- Alicia Clark, eu não acredito que você entrou lá. - Ele responde, fazendo cara de bravo.
- Fala sério Dan, você sempre fez mistério sobre seu quarto. Eu tinha que ver o que tinha lá dentro. Devo confessar que estava esperando algo bem macabro. Imagine minha supresa ao me deparar com vários dinossauros verdes estampados na parede. - disse, e logo em seguida imitei os braços curtinhos de um tiranossauro rex.
- Pelo amor de Deus, Alicia, não conta pra ninguém. - Ele saiu entao de trás do balcão e parou na minha frente. Juntou as palmas da mão, implorando pra eu não revelar seu segredo. - Aquilo está lá desde que sou pequeno e ninguém nunca quis se dar ao trabalho de pintar a parede de outra cor.
- Pensarei no seu caso, meu caro amigo. - Olhei pra ele, colocando a mão no queixo e fingindo estar pensando. Ele me olhava com cara de pidão. - Depois de ponderar muito, decidi que levarei seu segredo comigo até meu túmulo. - Ponho a mão no coração, simbolizando que estou fazendo um juramento.
- Obrigado, obrigado, obrigado! - disse, enquanto distribuía beijos pela minha bochecha.
- Posso ser sincera, Dan? - disse, sussurrando perto de seu ouvido. - Eu até que gostei dos desenhos. - falei rindo exageradamente, o efeito do álcool surtindo cada vez mais.
- Eu sabia que algum dia aquela obra de arte seria apreciada. - Ele levantou os braços como se dissesse "Aleluia". Tentei pegar outro copo de bebida, mas Danny o tira da minha mão. - Acho que a senhorita já está alegrinha demais por hoje. Bebe essa água aqui. - e despejou o liquido transparente dentro de um copo limpo. Fingi aborrecimento e aceitei sua oferta.
- Posso dormir por aqui mesmo hoje? - perguntei, e mais uma vez procurei por Chris no meio de toda aquela gente. Ele já não estava mais no canto onde,antes, se agarrava com a morena alta. - Parece que minha carona foi embora sem mim.
- Óbvio que pode, amiga! Fica lá pelo meu quarto mesmo. Os dinossauros te farão companhia durante a noite. - Ele piscou pra mim, e logo em seguida acenou para um cara que eu não consegui identificar. - Bom, parece que é a hora de eu me arrumar também. Já volto. - E foi em direção ao homem de cabelos longos tão claros que se eu olhasse rápido poderia dizer que são brancos.
Senti o cansaço bater e decidi, por fim, ir me deitar. Será que o quarto de Danny tinha tranca por dentro? Não lembro de ter notado. Depois de passar esbarrando pelo que pareceu ser uma multidão, cheguei finalmente ao quarto e fui atraída automaticamente pela cama, que parecia estar tão confortável.
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FIGHT: Sociedade Secreta
ActionUma empresa. Uma sociedade. Uma escolha. Alicia se sente presa, sufocada. Não sabe se deve seguir ao lado de sua família e amigos ou se deve seguir aquilo em que acredita. Forçada a treinar em uma academia que só lhe faz mal, Alicia tem uma decisã...