FIGHT: Sociedade Secreta

Pedra da Sorte

MERGULHEI DE UMA SÓ VEZ, tentando não pensar na temperatura da água. A sensação era de mil agulhas furando meu corpo. Ainda sim, não sai correndo imediatamente. Estava precisando daquilo para clarear as ideias. Dizem que mergulhar em água fria ajuda na concentração. Talvez eu estivesse tentando provar pra mim mesma era aquilo era verdade. Permaneci submersa por alguns segundos, aguentando o máximo que podia, antes de subir para a superfície. Chris e Danny estavam sentados na areia, conversando animadamente. Os raios de sol refletiam sobre nossa Pedra da Sorte. Era assim que chamávamos aquela enorme rocha na qual os dois estavam encostados. Foi Chris quem deu esse nome. Particularmente, eu achava meio idiota, mas já a chamávamos assim há tanto tempo que acabei me acostumando.

"Chovia muito naquele dia e tudo o que eu tinha pra me proteger era minha mochila, que eu erguia com dificuldade sobre a minha cabeça. Chris, ao contrário de mim, parecia não se importar, andava calmamente chutando a lama formada pela areia molhada.

_ Você até pode ser um doce às vezes, mas não é feita de açúcar, Alicia. - Falou, olhando pra trás e me encarando. Reviro os olhos pra ele e não respondo. Ao invés disso, apresso o passo para ficar lado a lado a ele. Os grossos pingos d'água batem fortemente contra a mochila, aumento ainda mais o barulho da chuva. Chris chuta mais uma vez o bolo de areia e o vento faz com que a lama venha diretamente para as minhas pernas, que ficam completamente imundas. Eu paraliso, urgindo de raiva.

_ Christian, eu vou te matar! - jogo minha mochila em cima dele, esquecendo que aquele era o meu único "abrigo". Fico instantaneamente ensopada, mas não me importo. Ele se protege do impacto com os braços.

- Ei, desculpa! - ele exclama; os braços ainda estendidos na frente do rosto. Me abaixo e passo as mãos nas pernas, tentando limpar o máximo possível. Chris ia continuar a falar, mas se detêm repentinamente. Olho para ele, que parece encarar os próprios pés; os olhos arregalados e a boca entreaberta. Procuro por algo no chão, mas não encontro nada.

_ O que foi? A chuva afetou seu cérebro? - pergunto, ainda olhando à minha volta.

_ Não se mexa ou vai quebrá-la. - diz, se abaixando e tocando um bolo de areia no chão. Observo enquanto ele tira do meio da lama um objeto pontudo. Acho que a cor é azul, mas é difícil dizer perante toda àquela sujeira. Chris usa o próprio casaco para limpar o item misterioso, que se revela por ser uma concha. Perco rapidamente o interesse.

_ Agora entendi o drama. - Pego o casaco da mão dele e estiro no chão perto de uma rocha enorme que parece deslocada no meio de toda aquela praia deserta. Sinto a pedra fria e molhada nas minhas costas, mas não me importo, já que me encontro no mesmo estado.

_ Não é drama, Alicia. Eu tenho certeza de nunca ter visto nenhuma concha assim antes. Será que é rara? - ele responde ao meu comentário. Nunca entendi essa fascinação dele por aquelas "cascas de caramujo", mas achava fofo o jeito que ele olhava pra elas com um brilho no olhar.

_ Não sei, Turner. Parece que sua coleção cresce a cada dia. - digo. Agora, com a concha limpa, tenho certeza de que sua cor é azul, mas também é branca. E bege. E cinza. Parece uma estrela, exceto pelo fato de ter oito pontas. Chris procura por mais delas, rodeando a rocha na qual me encosto. Ao se dar por derrotado, se senta ao meu lado.

_ Definitivamente elas não são comuns daqui. Nunca vi nenhuma igual. Acho que essa pedra me trouxe sorte, não? - diz, dando tapas de leve na pedra."

Saio do mar, torcendo meu cabelo e observo a água cair de dentro dele como uma cachoeira.

_ Cara, como eu queria ter entrado em uma academia de luta quando era criança. Olha esses braços fracos. - Danny levanta os braços mostrando os bíceps, ou a falta deles. - Se eu soubesse lutar, você ia se ver comigo, Christian. - ele ameaça de brincadeira. Chris passa os braços pelo ombro dele, bate uma vez em seu peito e diz: