FIGHT: Sociedade Secreta

Christian

O barulho do vento batendo contra as janelas era ensurdecedor. Acordei com um sobressalto, assustado. A fraca luz do sol inundando o quarto denunciava que ainda era cedo. Com um bocejo, levantei da cama e me dirigi ao banheiro. A aguá quente que sai da torneira me ajuda a acordar por completo e só então me lembro que dia era. Sábado. Dia das eliminatórias.

Estremeço ao pensar que em algumas horas estarei competindo contra outra pessoa. Mas se tudo saísse como eu havia planejado, aquela seria meu primeiro e último dia naquele campeonato. Alicia e Danny tentaram me encorajar ao contrário, que eu deveria dar todo meu sangue para vencer, mas isso não é uma opção. Não é que eu não goste de lutar. Eu gosto, mas sendo filho de quem sou, lutar vem com outras responsabilidades, com mais cobranças. Por isso prefiro passar meu tempo na praia, sinto que lá posso ser livre.

Encaro minha coleção de conchas presa à parede. Faço isso frequentemente, tentando buscar algum conforto. Posso ver meu reflexo através do vidro. Achei que estaria abatido, mas pareço bem, descansado e saudável.

Sou tirado de meus devaneios pelo barulho de batidas na porta. Apesar de bater, Emílio entra no quarto sem esperar pela minha resposta.

_ Sr. Christian, que bom que já está acordado. - Ele carregava consigo uma bandeja com uma mini jarra de suco, torradas e uma mistura de ovos com bacon. Uma pequena tigela estava ao lado com várias frutas cortadas em cubos. - Seu pai pediu pra que José te levasse o quanto antes para o ginásio.

_ Ginásio? - pergunto, pegando a bandeja de sua mão e colocando-a sobre a cama.

_ Sim, Sr. Christian. É onde as eliminatórias irão acontecer. Precisa de ajuda para arrumar algo? - ele pergunta. Seu jeito de pronunciar cada palavra pausadamente sempre me irritou, mas apesar disso, Emílio era uma boa pessoa e sempre foi de muita ajuda.

_ Não, obrigada. - digo, o dispensando com um gesto. - E Emílio, já pedi para me chamar apenas de Chris, por favor.

_ Desculpe, Sr. Christian. - ele diz, preguiçosamente. Lhe lanço um olhar de reprovação. - Desculpe, Chris. - meu nome sai de sua boca como se fosse um insulto.

Antes que Emílio feche a porta atrás de si, Fred entra mexendo-se lentamente, como se cada passada que desse fosse um sacrifício. O pego no colo, com dificuldade diante do peso que o animal se encontra. Acaricio seu pelo e Fred ronrona com o carinho.

_ Oi, amigão. - coloco-o em cima da cama e ele vai direto deitar por entre os travesseiros, enrolando-se como se fosse um tatu. - Queria que minha vida fosse tão fácil quanto a sua. - digo, com tristeza.

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Imaginei que o ginásio fosse estar cheio de lutadores, mas fico surpreso ao entrar e ver apenas uma meia dúzia, seis garotos e seis garotas, se aquecendo. As arquibancadas estavam igualmente vazias, contando com a presença de apenas algumas pessoas, que eu imagino serem familiares dos competidores. Um ringue foi colocado no meio da quadra e, ao fundo, três mesas foram postas lado a lado perto de onde deveria estar o gol.

_ Quer que eu te espere do lado de fora? - José, o motorista, perguntou.

_ Você quem sabe. Por mim, pode assistir a luta, se quiser. - dou de ombros.

Vou até a fileira de cadeiras destinadas aos atletas e jogo minha mochila em cima da mais afastada dos jurados. Ainda faltavam trinta minutos para o início das eliminatórias e todos pareciam nervosos. E apesar de não estar nem um pouco interessado em ganhar, sinto-me nervoso também. Aquele sentimento me faz lembrar do primeiro dia na academia. Ao pensar nisso, me sinto um idiota. Meu pai é dono da empresa, e ainda sim, eu não sabia que não era necessário levar todas aquelas armas. Foi só quando Alicia, ainda aos doze anos, me perguntou o porquê de minha mochila estar tão pesada que eu me dei conta do quão ingênuo havia sido.