PRÓLOGO

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29 DE JULHO DE 2019...

Escolhemos o pior dia de todos. O shopping estava lotado.  Decorações natalinas enfeitavam todo o espaço. Viscos foram espalhados na entrada de todas as lojas e eu podia ver que alguns casais se beijavam debaixo deles. Reviro os olhos, enojada com aquelas demonstrações de afeto públicas. Além disso, guirlandas enormes foram presas em todas as colunas que percorriam o comprido corredor de lojas. E na praça de alimentação, todos os vendedores usavam gorros na cabeça.

Uma música irritante sai pelas caixas de som espalhadas por todos os andares. Tento me concentrar no plano, mas o barulho de sinos repetitivos tiram qualquer foco.

_ Não suporto essa época do ano. - Cristal diz, desviando de um grupo de crianças que passava correndo. Eu concordo com a cabeça, observando as pessoas patinarem na larga pista de gelo que foi montada bem no centro do segundo andar.

_ Tudo pronto? - pergunto, ajeitando o ponto preso ao meu ouvido. Cristal confirma, e vamos em direção aos dois homens parados próximos ao cinzeiro. Pego o esqueiro dentro da bolsa.

Os homens usam ternos pretos tão grandes que os deixam parecendo robôs quadrados. Os óculos escuros trazem um tom de mistério enquanto os dois fumam descontraidamente.

Me aproximo vagarosamente, com Cristal ao meu encalço. Aciono o esqueiro e observo enquanto uma chama flamejante sai de dentro dele.

_ Boa noite. - me dirijo aos homens, tentando soar o mais sedutora possível. Nádia tinha carregado bastante na minha maquiagem, tentando deixar-me com uma aparência mais velha. Cristal com seu habitual batom vermelho e os cabelos descendo até a cintura eram o suficiente para seduzir qualquer pessoa.

_ Será que os senhores poderiam fazer a gentileza de nos emprestarem um cigarro? Imagine só, esquecemos nosso maço em casa. - Cristal diz, piscando os irresistíveis olhos azuis para os dois.

O mais alto deles, careca e com uma tatuagem de caveira desenhada atrás da cabeça, coloca as mãos no bolso de dentro do palito. Preparo-me para atacar, caso seja necessário. Mas o homem tira apenas um maço e entrega dois cigarros em nossas mãos. Olho para o rosto do segundo homem curiosamente.

_ Acho que nos conhecemos, não? - digo, jogando meus cabelos para os lados e deixando os ombros à mostra. O homem de bigode sorri e posso ver seus dois dentes de ouro reluzindo dentro de sua boca.

_ Acho que eu lembraria se nos conhecêssemos. - tento não deixar o nojo transparecer no meu rosto quando chego mais perto do homem, rindo perto de seu ouvido. Estava ciente de que todos ouviam nossa conversa através do ponto, o que tornava tudo pior.

_ Você eu sei que é daqui. - Cristal diz, se dirigindo ao bigodudo. - Mas você é de onde? Não estou conseguindo reconhecer o seu sotaque. - ela diz, encostando a mão no peito do homem careca. Ele coloca a própria mão sobre a dela e sinto vontade de chutá-lo quando faz isso. Mas me controlo.

_ Sou de Davenport, na Califórnia. - O homem responde, charmosamente. Sua careca brilhava tanto que parecia ter sido polida. O pensamento me faz rir.

_ O que é tão engraçado, docinho? - eu balanço a cabeça e dou de ombros. Levanto a mão e pouso um dedo sobre o símbolo das Empresas Turner estampado em seu terno. Ele olha desconfiado para mim.

_ Então vocês trabalham para Eric Turner. Ouvi dizer que ele é um dos homens mais ricos da cidade. - o careca troca olhares com o homem de bigode. Ele se contenta a responder apenas um "sim". Peço ajuda para Cristal, silenciosamente.

Ela então ri, sedutoramente, jogando os cabelos para trás. Se inclina um pouco para que seu decote fique mais aparente. Dou uma tragada no cigarro, tentando não tossir logo em seguida, e solto a fumaça no rosto do homem à minha frente, fazendo bico.

FIGHT: Sociedade SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora