As amarras que nos prendem são também as amarras que nos fortalecem. Isso porque, sempre que tentamos sair delas, somos machucados, e violentamente lembrados pela dor, do quão fortes temos que ser para podermos seguir em frente. As cicratrizes muitas vezes não se fecham completamente e necessitam de reparos e soluções alternativas. O mesmo serve para a dor que elas provocam, e que constantemente volta em forma de aviso e nunca na forma de uma simples lembrança. Porque, se as amarras são fortes, mais forte ainda é a nossa ligação com elas. E essas amarras são, na prática, a nossa ligação com as fraquezas da nossa alma, que não queremos ver ou ouvir.
O que nos faz, muitas vezes, levantar e recomeçar, não é o futuro brilhante que lampeja amistoso ao longo, oferecendo um universo de novas possibilidades, é a vontade de nos livrarmos de uma dor do passado, da ponta afiada de um arame que insiste em nos ferir, e dos nós, atados e emaranhados, de todo o drama do nosso empoeirado passado.
E se olhamos para trás e não enxergamos as amarras, é porque, muito provavelmente, elas já foram retiradas por algum cirurgião. Mas se olharmos bem de perto, vamos notar que existem cicatrizes por todo o lado, ainda que pequenas e aparentemente imperceptíveis...
Fui! (Buscar um "bom" cirurgião plástico...)
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Crônicas da Maria Scarlet
General FictionCrônicas retiradas do blog www.mariascarlet.com, da autora Cris Coelho. As crônicas são apresentadas por uma personagem chamada "Maria Scarlet", um espírito vagante que observa atentamente as mudanças sociais e comportamentais contemporâneas e anal...