20. O reflexo das sombras

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O objeto em contato com a luz é iluminado, porém uma sombra é criada por trás do mesmo

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O objeto em contato com a luz é iluminado, porém uma sombra é criada por trás do mesmo.
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A neblina que flutuava pelas ruas pouco iluminadas pelos postes de luz de aparência antiga e o vento frio traziam a harmonia perfeita, a sedutora e sombria beleza. Se tais moradores já não conhecessem bem o clima que a cidade tinha, certamente poderia achar que voltaram décadas atrás, onde não haviam carros modernizados, celulares e sequer damas perdidas em meio á noite.
A respiração em companhia dos seus passos em perfeita sincronia, sua calça jeans escura estava um pouco suja de lama e de seu corpo um forte e incômodo odor de álcool exalava; A festa tinha continuado. Sem ela.
Um pouco tonta, ela se apoia num poste e senta no banco, logo seu ônibus iria parar e ela estaria em casa, aliás sua família já deveria estar preocupada, principalmente a gêmea considerada "Santa", Theresa sempre foi mais quieta, discreta, porém Maddie não, a garota sorridente e extrovertida adorava se divertir, correr riscos era com certeza sua principal atividade, e a da sua irmã era protegê-la, mesmo que Maddie estivesse atraída pelo perigo.
A melodia enquanto teclava o número de seu namorado ecoou por toda a praça, talvez ela tivesse perdido o ônibus e agora a única solução seria liga-lo. Palavrões ditos em baixa voz, não havia ninguém ali exceto a garota, porém nunca estamos sozinhos, as sombras estão atrás de cada um, esperando para atacar...
O som quase inaudíveis dos passos tomaram a atenção da garota, com os olhos nublados em meio á noite sua expressão mudou de medo para alívio ao ver o homem de órbitas azuis observa-la de longe. Um sorriso logo tomou seu rosto, a garota se levantou e caminhou em passos lentos até o mesmo.

- Está perdida? - perguntou ele, mostrando a ponta de seus caninos. Ela assentiu umidecendo os lábios. - Quer uma carona?

- Você sabe que não podem nos ver?... - Seus corpos ficam cada vez mais próximos, então sorrateiramente ela desliza a mão sobre o casaco e então brinca com o botão de sua calça, ele faz uma expressão terna, sua seriedade a-hesitava. - Mas se insiste tanto, aceito... - Ela dá de ombros e num gesto delicado, o homem eleva sua cabeça para trás em puro êxtase - Estou com um pouco de fome, podemos parar numa lanchonete?

Ele assentiu com a cabeça e ambos seguiram para o carro azulado, deixando as árvores secas estranhamente belas para trás. A porta do carro se fecha e então num impulso seus corpos se unem guiados pela ardência, ela precisava daquilo, queria guardar aquele momento em sua memória, amava-o porém não podia tê-lo pois o mesmo era casado. Sim, ele já havia dito milhares de vezes que iria se separar por ela, porém ele é homem e isto é, ele herdou a arte da mentira. Apenas uma tola para cair nessas conversas.
Quando então seu corpo estremeceu e ficou em êxtase, sua visão embaçada e talvez fosse o efeito do álcool porém ao olhar para baixo, o sangue se esvaindo aos poucos, a adaga enfiada na região do estômago... Ela não entendia.
Seu rosto se virou para ele, o homem do qual ela tinha jurado amar por toda a vida, seus olhos azuis e frios como gelo, ele retira a adaga e com outro golpe, acerta o seu peito, a respiração está acabando, as tentativas falhas de conseguir, as súplicas em pequenos sussurros, tudo deixava aquela morte mais agoniante e ela tinha confiado tanto nele, estava tão apaixonada e não entendia o motivo dele fazer isto, suas juras de amor escorrendo como o sangue no banco, e tudo tinha desaparecido como se uma luz branca que tomasse toda a sua visão, ou a escuridão talvez.
No rádio, a música tocava enquanto os olhos de vidro cinzento permaneciam imóveis, no retrovisor o reflexo de Madeleine Claire.

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