Desço do meu carro inquieta. É isso, vou confrontar meus pais sobre o passado. Vou virar uma serpente. Vou cortar o laço.
Minha mãe abre a porta com um sorriso que desmancha quando ela olha minhas roupas. Moletom, calças jeans e minhas botas.
"Você deveria vir mais arrumada para os brunch's em família. Mas se você quiser posso te emprestar umas roupas, querida."
" Que família, mãe? Nem Polly vem mais. Seremos apenas eu, voce e meu pai. Isso não é uma família."
Entro, mas sem antes ver a cara de desgosto que ela faz quando toco no nome de Polly. Ela tinha se mudado para Thornhill para morar com os Blossom. Na minha visão esse relacionamento com os gêmeos é, no mínimo, bizarro. Mas se a faz feliz é o que ela deve seguir.
O começo do brunch é tranquilo, os dois conversam animadamente sobre coquetéis que participaram e viagens que vão fazer com novo casal rico que chegou a cidade, enquanto eu fico quieta pensando em como levar o assunto a tona.
"Querida?" Saio dos meus pensamentos com meu pai me chamando. "Por que não esta vestida como sempre?" Suspiro cansada, sabia que o incomodo com as minhas roupas não se resumiria a um comentário da minha mãe.
"Porque não estava com vontade de usar aquelas roupas." - Digo desinteressada tomando um gole do meu suco.
"Deveria reconsiderar. Elas ficam bem em você. Você esta assim, sem nos visitar com tanta frequência e se vestindo igual uma mendiga depois que começou a se aproximar daquele garoto de Southside. Não são boas influencias." Levanto a sobrancelha analisando o que ele diz. "Espero que não esteja em um relacionamento com aquele garoto com a tatuagem horrível no pescoço."
Sweet Pea tem quase o corpo todo tatuado, as cores na pele saltam os olhos. O comentário é sobre uma tatuagem específica, a marca dos serpentes. "Seria uma decepção para nós. Ele representa a escória da sociedade."
Meu sangue ferve quando o escuto falar desse modo de Sweet Pea. Jogo o garfo na mesa com força e me levanto. "Não pai, não estou com Sweet Pea. Mas estou transando com um serpente sim. Conhece? Jughead Jones. Até onde sei ele é quem comanda tudo. Tenho que admitir que ter um serpente na minha cama é um privilégio." - digo irritada. Meu tom de voz se eleva quando ele me tira do sério.
Me pai levanta empurrado a mesa. "Não se meta com aquelas serpentes imundas Betty. Você vai se arrepender amargamente disso. Não me importa o que você tenha com qualquer um deles. Isso acaba agora e ponto final."
Levanto a cabeça e sustento o olhar, ele se aproxima de mim. Consigo ouvir minha mãe pedindo para nos acalmarmos no fundo. Em meio a nossos gritos.
"Não sou mais uma criança, sei muito bem com quem devo me preocupar e com quem devo me relacionar. Afinal, estar no meio das serpentes só me torna mais parecida com a minha mãe, não? - Escuto minha mãe abafar um gritinho e quando me viro para ela sinto meu coro cabeludo queimar.
Meu pai agarra meus cabelos e joga minha cabeça contra a mesa da sala. Sinto o gosto de sangue na boca. Quando minha cabeça foi a mesa ela encontrou o copo de suco que a pouco estava tomando. Ele me olha nos olhos e joga minha cabeça contra a mesa de novo. Dessa vez mais forte. Sinto minha cabeça latejar com a pressão. Escuto o choro histérico da minha mãe ao fundo.
Meu corpo é jogado no chão da sala, o sangue no meu rosto começa a escorrer.
" Você não ouse falar daquelas cobras malditas na minha casa. Sua mãe era nova e cometeu um erro ao se juntar a aqueles bandidos. Não vou deixar você cometer o mesmo erro que ela."
" O maior erro da vida dela vou voltar contigo. Eramos mais felizes quando vivíamos em Southside. Vocês já perderam Polly. Perderam a outra filha agora. Minha iniciação das Serpentes de Southside é hoje a noite."
Meu pai me pega novamente pelos cabelos e me arrasta até a porta da casa. Vejo minha mãe correndo atrás de nós chorando e o pedindo para parar.
Ele me joga na calçada em frente a casa. Sinto minhas costas baterem no concreto gelado. Isso com certeza vai ficar roxo depois.
"Você não apareça na nossa frente mais Betty. Você não é mais uma Cooper."
Levanto com dificuldade, minha testa sangra por causa do copo que estourou em mim e limpo corte com a manga do casaco. Antes de me virar e ir até o carro falo para eles.
" Vocês não são perfeitos. Vocês me dão vergonha. Perderam as duas filhas para pessoas que as amaram mais do que um dia vocês foram capazes. Não sou uma Cooper, nunca fui. Eu e Polly somos reais, vocês não. Serei muito feliz no lado sul dos trilhos. Podem ficar tranquilos."
Ando até o carro e o abro a porta. Antes de sentar no banco viro a ultima vez para a casa que cresci. Meu pai tem o rosto vermelho de raiva e meu sangue nas mãos. Minha mãe me olha chorando histericamente, mas em nenhum momento interviu em nada.
" Passar bem Sr. e Sra. Cooper."
Arranco o carro até algumas quadras longe da minha antiga casa. Encosto a cabeça no volante deixando as lágrimas escorrem sem cautela. Não tinha sido a primeira vez que tinha apanhado do meu pai, ele sempre bateu em mim, Polly e minha mãe e semre fora criativo enquanto a isso. Mas não éramos obrigadas a aguentar as merdas dessa família. Eu estava livre.
Livre para viver minha vida.
Livre para ser feliz. Me permitir ser real. E eu não deixaria ninguém roubar isso de mim.
---- X----
Estaciono o carro perto do local combinado. Suspiro passando a mão no rosto e repassando as leis na cabeça. Quando me aproximo começo a ouvir um coro. Eles estavam esperando minha chegada. Mantenho a cabeça abaixada até me encontrar no meio da roda.
Levanto o rosto encarando o grupo na minha frente. Toni me olha apoiadora, ao seu lado Jughead e Sweet Pea me encaram assustados e chocados. Não imaginavam que era eu quem tentaria passar pela iniciação.
Agora que as coisas vão começar e eu não sei se vou conseguir passar por isso sem o apoio de Toni e os meninos.
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Whatever it Takes - Bughead
RomanceQuando a garota de rabo de cavalo passa, todos os olhares se voltam a ela. Cabelos loiros, sorriso encantador, aura alegre, o bom humor impecável. Ela sempre segue as regras e é do tipo que caras de famílias boas queriam como sua futura esposa.Por t...