Espera

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- Olá - ela disse apertando as mãos - Eu sou Park Hye Lin e fui diagnosticada com bulimia há alguns dias. Eu sou modelo. Fui obrigada pelo meu pai a me tornar uma, e reprimi meus sentimentos por muito tempo porquê sempre tive medo dele.

Ela fitava o chão e sentia o nó na garganta. Tossiu forçado e continuou.

- Suportei tudo pela minha mãe, mas meu mundo desmoronou quando ela partiu deixando apenas uma carta. - as lágrimas desceram e ela secou o rosto com as costas da mão - "Me desculpe, Hye Lin", ela disse. Mas eu não pude desculpar e achei na comida o conforto que ninguém podia me dar. Logo engordei, e a agência começou a cobrar que eu emagrecesse, e meu pai passou a me importunar ainda mais. Mas eu não conseguia parar de comer, e comecei a me culpar por isso. Em seguida uma voz apareceu para mim. "Põe pra fora", "É mais fácil assim"... E eu cedi. Passava horas e horas sem comer. Quando batia o desespero comia feito louca e depois forçava para vomitar tudo. Mesmo já tendo emagrecido muito eu não conseguia para. Quando me olhava no espelho minha imagem era gorda.

Inspirou fundo para tomar fôlego e tentar ajustar a voz que falhava.
Os colegas da roda apenas a observam calados.

- Teve um dia que foi meu extremo. Eu passei a me afundar cada vez mais, perdendo o desejo de fazer as coisas, e naquele dia eu não queria levantar da cama. Tinha um desfile, que eu perdi. Quando meu pai chegou e viu que eu estava no quarto arrombou a porta com tudo. Me pegou pelo cabelo e me disse coisas horríveis. Eu fugi só com a roupa do corpo, chorando muito. Corri pela estrada e parei em uma ponte. Subi na beirada, e naquele dia a voz me instigava a pular. "Acaba com isso", "ninguém vai sentir sua falta", "nada te prende aqui".

Hye Lin tirou um lenço do bolso e secou o nariz.

- Mas alguém apareceu, e quando eu ia pular ele me segurou. Ele me levou para o hospital, e me fez comer na manhã seguinte. Ele permaneceu do meu lado e me inspirou a viver outra vez. Eu me apaixonei, mas quando vi que não cabia na vida dele me afundei outra vez e aí que fui encaminhada para cá. Ele disse que vai me esperar, e eu me despedi semanas atrás. Mas descobri aqui que quero melhorar por mim, porquê eu mereço uma chance de ser feliz e realizar meus sonhos. - ela levantou a cabeça sorrindo - meu nome é Park Hye Lin, e eu estou vencendo a bulimia.

As palmas dos companheiros ecoaram pelo enorme salão em que estavam reunidos, e Hye Lin já não sentia mais o nó em sua garganta.
Dizer aquelas palavras a fez sentir que um peso havia sido tirado de suas costas, e ela podia respirar outra vez.

Já estava a dois meses na clínica, e podia sentir a mudança em si.
Sua rotina se dividia em sessões de terapia psicológica e consultas com nutricionista.
Tudo estava fluindo bem, inclusive as aulas de pintura que estava fazendo.

Era a primeira vez que tinha falado no encontro em grupo, e isso havia sido orientação da psicóloga.
Ela não havia imaginado que precisava tanto contar sua história, mas a dra falou que aquilo fazia parte do processo de cura.

Nos primeiros dias ela permaneceu fechada.
Se sentia contrariada mais uma vez e chorava com a frustação de ter que ficar ali.
Chorava também de saudade. Estava proibida de ficar com o celular.

Uma vez na semana era o dia da ligação, e Wonwoo não perdia nenhuma vez.
Tinham tempo limitado para falar, mas ele contava rapidamente dos shows, de como Sooke estava esperta e falante e não deixava de mencionar os detalhes do seu apartamento novo.

Por um tempo parecia impossível sair dali e ficar ao lado dele, mas aos poucos os cuidadores e médicos foram rompendo a barreira que ela mesma havia colocado, possibilitando o avanço da reabilitação.

Depois de um mês chegou o dia da visita e Wonwoo foi vê-la.

- Se esforça bastante, Hye Lin. Eu confio no seu potencial e continuo esperando por você - ele disse sorrindo enquanto afagava o topo da cabeça dela.

Trauma (Jeon Wonwoo)Onde histórias criam vida. Descubra agora