Eu só a vi de novo dois dias depois. Nesses dias a gente se falava apenas pelo telefone, por horas. Mas foi só na terça feira que eu a vi, com um chapéu bege, camisa pólo azul clara, calça preta e all star, com seu famoso sorriso presente. Ela estava na sala quando eu desci para pegar um copo de água, conversando com meu pai. Ela sorriu quando me viu e foi até mim.
“Boa tarde, Ally Brooke.” Cumprimentou.
“Boa tarde, Demi.” Respondi.
“Ah, a brincadeira de nome e sobrenome já acabou?” Ela perguntou, levantando uma sobrancelha. “Eu devia ser avisada. Mas, enfim, como se sente hoje?”
“Bem, o melhor que minha situação permite.” Eu respondi, hesitando um pouco. “E você?”
“Fiquei em pé na sua porta por dez minutos antes de bater, então está doendo um pouco, mas do resto estou bem.”
“Por que ficou em pé ali na frente por dez minutos?”
“Estava reunindo coragem.”
“Para que?”
“A gente não se vê a dois dias e você não vai me dar nem um abraço?” Ela perguntou, desviando de assunto. “Eu pedi ao seu pai, ele deixou, contanto que não dure mais que 7 segundos, o que ele considera seguro.”
Revirei os olhos e fui pra cozinha pegar água. Quando voltei, Demi estava sentada em um dos sofás. Ela sorriu quando entrei. “Já que você disse que está bem, eu pensei se a gente poderia sair hoje. O que acha?”
“Aonde vamos?”
“É surpresa.”
“Não gosto de surpresas.”
“Isso não vai me fazer mudar de ideia.”
“Tudo bem, vou me arrumar e já venho.”
A surpresa era aparecer em um local conhecido como Casa dos Gênios. Um local onde as pessoas com câncer tinham o direito de realizar seu maior sonho e eles pagariam tudo que você quisesse. Ela não me disse o que a gente estava fazendo lá, mas ela me levou até uma sala, onde um enorme quadro branco estava lá, com o nome de algumas pessoas e seus sonhos que eles iriam realizar.
O nome de Demi era o último na tabela e eu olhei-a confusa quando vi que não tinha nada ali. “Por que estamos aqui?” Perguntei de novo.
“Vim realizar meu sonho.” Ela disse.
“Não tem nada escrito ali.”
“Bom, eles não podiam realmente me ajudar com isso.” Ela deu de ombros e pegou um canetão vermelho e escreveu algo abaixo de seu nome, ocultando com seu corpo. Quando ela se afastou eu vi as letras bem desenhadas com um pequeno coraçãozinho no fim da frase.
Pedir Ally Brooke em namoro.
Eu fiquei realmente sem palavras. Eu nunca namorara antes. Claro, havia ficado com alguns meninos, mas foi tudo muito horrível. Logo o câncer começou e eu nunca mais pensei nisso. Mas lá estava ela, me pedindo em namoro, depois de um encontro, uma ida à minha casa, dois dias de conversas telefônicas e quatro dias que a gente se conhece. E eu não sabia o que responder.
“Então.” Ela disse, quebrando meus pensamentos.
Eu olhei-a e, pela primeira vez que a conheci, seu olhar não mostrava confiança, mas sim insegurança e medo. Eu não sabia o que dizer. Eu estava morrendo de câncer, sem chance de cura, iria lutar minha vida inteira contra esse câncer. E ia morrer e deixar todos que eram próximos a mim tristes. Eu estava em fase terminal, eu ia morrer, iria viver bem menos do que pretendia. E eu não queria que as pessoas sofressem quando fosse a hora. Entretanto, Demi também está lutando contra um câncer e as chances dela morrer antes que eu existem e são consideráveis. Então quem ia sofrer sou eu.
Me sinto egoísta, não querendo sofrer, não querendo fazer os outros sofrerem. Mas eu sou uma bomba que um dia vai explodir e todos em volta vão se machucar. Alguns desses ferimentos podem ser irreversíveis.
“Sei que é cedo.” Demi continuou quando continuei em silêncio. “Que a gente não se conhece tão bem assim. Mas eu gosto de você. Esses quatro dias eu fui mais feliz que nos últimos cinco anos. Inferno, fui mais feliz desde que me lembro. E eu gostaria de estar com você. Se não der certo, podemos simplesmente terminar e eu sumo.”
Eu hesitei por mais um tempo, considerando prós e contras. Meu câncer está estável, não avança a quase um ano. O dela está avançando, lentamente, mas está, os remédios não adiantam muito e é provável que ela tenha que começar novas seções de quimioterapia e radioteria. Estou mesmo disposta a estar com ela, namorar com ela, sabendo de todos os riscos que ambas correm? Estou disposta a acompanhá-la, como namorada, em suas seções e estar ao seu lado até que a tontura passe, segurar seu cabelo enquanto vomita? Ou melhor, estou pronta para os efeitos que esse tratamento vai causar nela e, consequentemente, em mim?
Estou sendo egoísta de novo. E eu gosto dela.
“Sim.” Respondi finalmente.
Um brilhante sorriso atravessou seu rosto e Dulce se aproximou um pouco. “Você vai me abraçar agora?”
Como resposta eu não só a abracei, como também a beijei. Na verdade, só um selinho leve. Nosso primeiro beijo. E foi perfeito.
Os capítulos vão começar a dar uma diminuída e lembrando que a web não é tão grande assim.
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•Demally• √ U͜͡n͜͡r͜͡e͜͡a͜͡c͜͡h͜͡a͜͡b͜͡l͜͡e
Fanfiction01 • C̳̳o̳̳m̳̳p̳̳l̳̳e̳̳t̳̳o̳ • ✓ ➪ ᴄʀᴇ́ᴅɪᴛᴏs ᴘᴀʀᴀ ᴄᴀᴘɪsᴛᴀ ➪ CamzLolo S̾I̾N̾O̾P̾S̾E̾ Quando você tem câncer, a primeira coisa que acontece é a pessoa sentir pena de você. E para qualquer pessoa com câncer, é a pior coisa que pode acontecer no mundo...