CAPÍTULO: 5

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Conversamos por mais dez minutos dentro daquela sala, antes que ela levantou da mesa onde sentamos e me estendeu a mão, me ajudando a descer também.

“Prometi a sua mãe que ia te levar um pouco no Grupo de Apoio.” Ela disse. “Se formos agora dá tempo de ficar pelo menos 2 horas.”

“Eu não quero ir.” Reclamei, parecendo uma criança.

Demi sorriu e entrelaçou nossos dedos. “Vai ser rápido, você vai ver. Depois eu posso te levar comer alguma coisa.”

“Pensei que você também odiasse o grupo.”

“E odeio.” Ela concordou, começando a andar até a saída. “Mas prometi a sua mãe que te levaria.”

“Ela nem vai saber.” Argumentei.

“Eu gostaria de começar esse namoro sem mentir para sua mãe. Pelo menos por enquanto.” Ela brincou, indo direto para a área de táxi.

“Não é mentira, é ocultação da verdade.”

“Então sua mente maligna funciona assim?” Demi abriu a porta para eu entrar e entrou logo depois. “Vai ser rápido.” Repetiu, depois deu o endereço para o motorista.

Em questão de meia hora estávamos no local da reunião do grupo. Entramos silenciosamente enquanto um garotinho falava sobre o último tratamento frustrado contra a leucemia que fizera, nos sentamos em duas cadeiras vazias e Demi acenou discretamente para Peter, que deu um pequeno sorrio para ela, antes de voltar a prestar total atenção no garoto.

Quando o garotinho terminou de contar e Peter lhe falou algumas palavras sobre continuar a ter fé, eu já tinha parado de prestar atenção total a algum tempo. Mas Peter conseguiu minha atenção ao se dirigir à Demi.

“Então, Demi, parece que nossa última reunião teve muito sucesso. Todos nós concordamos que devemos fazer isso mais vezes.” Ele comentou.

Demi deu de ombros. “Não faço faculdade e não trabalho, tenho o dia inteiro livre.” Falou simplesmente.

“Você não trabalha?” Um garotinho de 10 anos perguntou. “Como você tem dinheiro?”

Demi sorriu para ele. “Eu moro com meu pai e meu irmão.”

“Não é velha demais pra isso?”

“Essa é a única vantagem de se ter câncer.” Ela respondeu. “Nunca estamos muito velhos pra nada. Sem contar que eu não sou tão velha assim. Só tenho 19 anos.”

“São 9 a mais que eu.” Ele rebateu.

“Mas são 30 anos a menos que meu pai. Então, ainda sou jovem.”

“Do ponto de vista dele, mas do meu você é velha.”

Demi riu e concordou um pouco. “Tudo bem, você é jovem e eu não.”

Ele parecia bem satisfeito em ter ganho uma discussão contra alguém mais velho. Demi, no entanto, sorria, parecendo aprovar sua atitude.

“Bom, Demi, quer falar sobre alguma coisa? Seu tratamento, sua família, algum problema que tenha?” Peter perguntou, se inclinando na cadeira um pouco.

Demi balançou a cabeça. “Não.” Respondeu.

“Certeza?” Perguntou o outro cara, que só aparecia nas terças. “Pode falar conosco, costuma ajudar muito.”

“Tudo bem.” Ela revirou os olhos. “Meu tratamento diminuiu a velocidade com que o câncer avança, mas ele ainda está avançando. Meu pai está ótimo, meu irmão também. Meu problema, além do câncer, é não ter um jogo de vídeo game descente. Quero dizer, que soldado teria sua missão completa em se salvar e não salvar as outras pessoas?! Nenhum, é o que eu digo! Mesmo assim, insistem em fazer jogos desse jeito macabro.”

 •Demally• √ U͜͡n͜͡r͜͡e͜͡a͜͡c͜͡h͜͡a͜͡b͜͡l͜͡eOnde histórias criam vida. Descubra agora