CAPÍTULO: 18

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Acho que nunca chorei tanto em minha vida quando voltei para aquele hospital. Eu andei pelos corredores com passos apressados para voltar logo para o lado de Demi e todos os funcionários do hospital me olhavam de um jeito estranho quando eu passava por eles. Não dei muita bola, só tinha um objetivo em mente.

Quando cheguei na porta do seu quarto vi Shawn escorado na parede no fim do corredor, sentado no chão, o rosto entre as mãos e o corpo tremendo. Ele chorava, chorava como nunca vi ninguém chorar antes. Chorava tanto que eu tinha medo dele acabar tendo um treco.

Então vi o pai de Demi, seu João, do lado oposto do corredor, uma mão na parede, a outra segurando um copo de água, o rosto molhado de lágrimas, a camisa manchada e um olhar quebrado no rosto.

Eu acho que entendi na mesma hora que os vi o que tinha acontecido quando estava fora, mas não quis acreditar. Não até que eu olhei para dentro do quarto pela janelinha da porta e vi duas enfermeiras retirando todos os aparelhos de Demi, retirando seus medicamentos, desconectando absolutamente tudo. Então ajeitaram o lençol em volta dela e entraram no banheiro para fazer sabe-se lá o que.

Eu não senti quando minhas pernas cederam, não senti quando desabei no chão, não senti o baque do meu corpo na superfície dura e fria e não ouvi quando Shawn gritou meu nome. Eu só desabei.

Se eu pensei que Shawn estava chorando demais, ele parecia apenas uma criancinha com o joelho ralado quando eu comecei a solução, espernear, bater na porta do quarto e a gritar, gritar, gritar por Demi, implorando para ela voltar, implorando para ela voltar pra mim, implorando para ter apenas mais um pouco de tempo com ela, só mais um pouco. E continuei gritando, gritando demais, gritando tanto que eu acho que as pessoas começaram a evitar aquele corredor.

Eu não gritei minha frustração, não gritei minha raiva, não gritei o quanto odiava o mundo naquele momento. Não. Eu gritava duas palavras, uma por vez, tão desesperada e sem chão que tenho certeza que quase todo o hospital estava chorando comigo: “NÃO!”, mas isso era o que eu menos gritava, não havia o que negar, afinal, ela estava lá, bem na minha frente. O que eu mais gritava, implorando, era: “DEMI!”.

Apesar de não conseguir ouvir nada além de todas, absolutamente, todas as conversas que tive com Demi, eu sabia que Shawn estava tentando me acalmar, tive um breve vislumbre de João se afastando da gente e algumas pessoas nos olhando, tentando descobrir o que estava acontecendo. E Shawn me abraçou ali no chão mesmo, desistindo de me acalmar, chorando comigo a perda de sua irmã.

Não tenho noção do tempo que fiquei lá, mas uma hora Shawn me levantou e perguntou baixinho: “QUER VÊ-LA?”.

Não lembro o que respondi, mas devo ter afirmado, pois a próxima coisa que eu vi foi o corpo imóvel e incrivelmente pálido de Demi naquela maca. Não fiz nada, não toquei-a, não falei, não me movi. Apenas a observei, tentando deixar gravado na minha mente todos os detalhes do seu belo rosto. Porque eu sabia que dali alguns dias ela iria para baixo da terra e eu nunca mais poderia vê-la.

 •Demally• √ U͜͡n͜͡r͜͡e͜͡a͜͡c͜͡h͜͡a͜͡b͜͡l͜͡eOnde histórias criam vida. Descubra agora