Memória de James
— Venha, James! Papai terminou a casa da árvore!— dizia Mia animada.
Nós dois corremos para o local em que papai tinha planejado construir a casa da árvore. E lá estava ele com mamãe. Pude ver que os dois sorriam orgulhosos, pareciam felizes.
— Venham ver a obra do papai!— mamãe disse pegando Mia no colo e a ajudando a subir na casa.
Eu observei a casa e sorri.
— Meu refúgio!
— Não, James. Meu refúgio.— disse Mia.
— Que tal dos dois?— papai sugeriu.
— Mia é atrapalhada e vai cair da árvore. Não sou obrigado a cuidar dela o tempo todo. Sou mais velho e responsável, então a casa deveria ficar para...— papai me deu um leve tapa na cabeça.
— Garoto, eu construí isso com sangue e suor para os dois. Então...— lançou-me um olhar ameaçador.
— Certo, certo. A casa é da Mia também.— segurei seu olhar.
— Ótimo!— ele riu como se não tivesse acabado de me ameaçar por contato visual.
— Venha, James! Vamos brincar!— Mia me chamou e eu subi na casa da árvore logo atrás dela.
•••
Mary
Estava com Michael o baile todo perambulando por Valentina como um favor para Amélia ter seu momento especial com o famoso garoto selvagem. É claro que cobrarei depois pela minha ajuda amiga, afinal é assim que as coisas são. Mas também não posso negar que aproveitei essa situação para ter meu tempo a sós com Michael.
Ele era bem tímido na maioria das vezes, mas em nossas conversas sinto que acaba relaxando toda a tensão por trás de seus olhos fujões. Percorremos um longo caminho, desde as barracas de jogos até comidas.— Mary?- perguntou me tirando do transe.
— Desculpe! Estava pensando.
— No que exatamente?
— No que Sr.Carl irá nos dizer. Ouvi sobre um discurso esta noite em algum momento, mas não sei do que se trata.
— Talvez seja apenas parabenizar Valentina por seguir firme em todos esses anos como uma vila. - sorriu gentilmente.
— Talvez...
Apesar de ter uma ideia do discurso de hoje, no geral eu claramente não faço a menor ideia dos assuntos entre os principais fundadores, mesmo minha família sendo uma. Nunca entendi ao certo porque os homens sempre cuidam dos negócios e administração, enquanto nós mulheres somos apenas esposas desocupadas que não compreende esses tratados. Pelo menos sempre foi assim que fui ensinada a ver.
Minhas mãos estavam gélidas como se fizesse o mais cruel frio de todos os tempos. No fundo, sentia que alguma coisa suspeita e ruim iria acontecer. Chame de sexto sentido ou não, mas o calafrio que percorreu minha espinha me fazia tremer.— Gostaria de dançar? - Michael parecia preocupado enquanto me encarava com suas sobrancelhas franzidas. Provavelmente queria me ajudar de alguma forma.
— Claro, por que não?!
Assim, caminhamos para a parte mais cheia de todo o baile. Uma pracinha perto do palco. Havia tantas pessoas ali dançando ao som dos músicos animados com suas canções românticas. Muitos eram casais aparentemente. Porém podia-se ver grupos de amigos em alguns cantos também conversando e mexendo o corpo levemente no ritmo da melodia.
Michael pegou minha mão num gesto gentil, chamando-me para dançar novamente. Claro, eu aceitei. Conversamos e rimos durante as diversas danças. Meus sapatos estavam me matando a esta hora. Mas como esse momento era único para mim!
— Sabe Michael, achei que você fosse alguém chato e completamente anti social no começo. Sem ofensas!- brinquei.
— A maioria das pessoas pensam isso. Mas, entenda, Mary, geralmente não sabemos de nada sobre as pessoas ao nosso redor. Veja toda essa gente, consegue me dizer a personalidade de alguém?- desafiou.
— Hum... Aquele senhor - apontei discretamente para um homem de idade sorridente- parece ser um bom pai.
—Negativo. -riu- Aquele senhor é um velho que anda bêbado todas as noites pelos bares de Valentina. Vive reclamando da família e os custos de ter filhos. Para mim ele parece ser um pai ruim.
— Então aquela senhora do chapéu com pena, ela parece ser uma... Amante de gatos.
Michael gargalhou procurando entender se foi uma piada ou não.
— Realmente, ela já teve gatos, é minha vizinha.
— Então eu acertei?
— Não, ela só tinha porque seus filhos insistiam em ter.
Enquanto tentávamos adivinhar sobre as pessoas, acabamos nos aproximando cada vez mais de uma parte um pouco mais isolada de toda aquela multidão e luzes. Quase a sós, se não fosse pelo som de fundo da música, poderia dizer que era um silêncio total. Uma paz e adrenalina ao mesmo tempo percorreu pelo meu corpo. Michael estava bem próximo a mim. Seria esse o tão esperado momento?
Em uma fração de segundos meus olhos se arregalaram e quase perdi o fôlego como se alguém o tivesse roubado num piscar de olhos. Encarei Michael e reparei que ele se encontrava da mesma forma aflita e desesperada. O terror corria pelos meus pensamentos, era uma sensação estranha. Enquanto minha mente parecia confusa de mais para raciocinar em meio ao pavor, meus pensamentos estavam todos embaralhados e sem sentidos, apenas corriam descontroladamente.
— O que foi isso? -perguntei petrificada ao ouvir um barulho extremamente alto que quase me casou uma surdez momentânea.
— Tiro...?
Amélia
James e eu estávamos nos acabando em doces por um bom tempo. Parecíamos duas crianças mimadas e felizes com tanto açúcar.
— O que mais tem nesse baile?
—Eu não sei, acho que não há muita coisa... Poderíamos sair logo?
Eu não queria estar aqui quando o discurso de Sr.Carl acontecesse. Eu não aceitava isso, era ridículo. E com certeza não quero que James escute isso, principalmente depois da nossa conversa mais cedo.
Será que teria que fugir para a cabana e morar lá para sempre como se minha vida como Amélia Wood nunca tivesse acontecido? Eu não consigo aceitar uma vida infeliz assim. Não irei, não posso. Talvez James me aceite como mais uma moradora da cabana junto com Charlie. Como queria que essa criança estivesse aqui...— Olha! Mary e Michael estão vindo.
Despertei-me de meus pensamentos negativos e olhe em direção dos dois correndo com um ar assustado.
— Temos que ir pra casa! - ordenou Mary.
— Casa? Esse baile nem acabou. -debochou James.
Então a música de fundo parou chamando a atenção de todos que estavam perto o suficiente para ver a figura de Sr.Carl subindo ao palco e pegando o microfone de um dos músicos.
— Sabia que eu achei uma ótima ideia?! Vamos para cabana, quem liga pra festas? - apressei-me para evitar a todo custo essa humilhação e desespero que iria acontecer.
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A Floresta
Romance- Talvez isso possa ser o que as pessoas chamam de paz...- suspirei. Estávamos no segundo andar da casa, no quarto de James. Ambos sentados na grande janela contemplando a paisagem. - Talvez. Olhei para o lado vendo seu rosto. Seus olhos p...