Skidum, skidum

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Xiiiiiiii! Em um minuto? São coisas muito díspares. Tive um insight dentro do banheiro, quando abria a bexiga. É tão engraçado estar na mesa bebendo, atravessar uma parede, fechar a porta, olhar as condições higiênicas e abrir a guarda: soltar a água da cerveja. Xiiiiiiii!

Volto pra mesa, o tema é banal. Não me lembro de ter participado de uma discussão sobre a beleza feminina de maneira tão insólita, tanto que não consigo reproduzi-la aqui. Na mesa: cinco mulheres, um fotógrafo de modelos, um jovem, um veterano. O fotógrafo desfila suas teorias com habilidade, impressionando com revelações sobre o jogo de sedução que acontece entre quem está na frente e atrás da lente. Conclusão parcial: Anna Hickman é enorme, linda de morrer e parecia até que dava para preencher toda a sala do restaurante. Mas a Bundchen supera como a falsa magra que tem peitos! É o Pelé da fotografia, ok?

O papo é quente, a mesa é redonda, mas, à volta dela, uma confraternização acontece e interfere benevolamente, variando o rumo da prosa. Quem entra em um presídio, quem sobe em uma favela não volta mais o mesmo. "Adriano? Eu adoro o Adriano". "Você gosta, porque ele chega na pequena área e resolve". "O que é que você está escrevendo aí?", me falam. "Eu tenho um blog", digo. "Você tem um blog?", dizem. Rabisco as palavras no escuro, entre a mesa e o muro, entre a bolsa e o enfeite de centro, as palavras zunem no meio, recolho as que posso e planto aqui.

"Elas vêm com um tomara-que-caia, depois ficam assim, com as mãos levantando o vestido pelo busto". "Cadê minha bolsa?". "O bacalhau está maravilhoso". "Todo mundo pergunta se ele é ou não. Você sabe?". "Eu não sei. Eu acho que ele é não-praticante". "Amor, hoje eu não volto pra casa antes de ouvir mais música". "Bacalhau gostoso, né? E o que é que tem mais de bom?". "Filé mignon e uma batatinha muito boa".

Skidum, skidum! De onde saiu esse samba?

Impossível continuar anotando frases com o skidum, skidum impressionante que chega ao salão do restaurante. As mesas deixam de ser interessantes e o pessoal ruma pra fora. O ritmo balança a nega que se abre em sorrisos com o corpo inteiro. Skidum, skidum! Uma falsa loura e magra de calça e camisa chama a atenção na bateria. É dela o som ritmado do tamborim que presenteia a assistência com as ondulações no corpo da passista.

O movimento literalmente ondula na carne da jovem, como se recebesse um santo, um passe e o deixasse sair por uma ponta do corpo, uma quina, um braço. E novamente lhe adentra pelo ombro, tremendo-lhe a cabeça e vazando pelo outro lado. Movimento que entra, preenche, estanca e enlouquece com a paradinha dos ritmistas, retornando ao corpo da moça pelo quadril bem marcado o joelho a coxa. E, reprise.

A assistência circunda o pequeno grupo, se dobra empolgada. Abre alas que o samba é quem passa e agora entra na sala do restaurante onde o sorriso do corpo da morena sob a luz é claramente visível. Prosseguem as evoluções festeiras, o grupo todo se balança entre mesas e pratos e garçons que passam e o cheiro da comida que acabou de ser servida. O samba cai, eu caio no samba, a morena evolui, desde que o samba é samba é assim.

O samba vai até de manhã. Eu é que já vim embora.

Se Essa Rua Fosse MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora